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Artes | William Blake e os livros iluminados

20 ago 2021

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William Blake foi um poeta, pintor e gravador nascido em Londres em 1757 e falecido em 12 de agosto de 1827, inventor de uma técnica inovadora de gravura em metal que ele próprio denominou illuminated printing(“impressão iluminada”), que possibilitava a impressão de textos e imagens integrados, gravados em relevo em uma mesma matriz de metal.

Blake aprendeu o ofício da gravura com James Basire, praticando as técnicas convencionais de sua época. A primeira gravura seguramente atribuída a ele versa sobre a mitologia e a história britânicas, temas que o interessaram por toda a vida. Após um período de sete anos de aprendizado com Basire, tornou-se um gravador autônomo, elaborando gravuras de caráter comercial como ilustrações de livros e cópias de pinturas, encomendadas por editores londrinos. Ao mesmo tempo, dedicava-se à pintura, à poesia e às gravuras autorais.

Por se tratar de um processo de gravura em relevo, a illuminated printing difere substancialmente do processo convencional da gravura a água-forte, no qual as linhas, formas ou áreas que se deseja imprimir estão sulcadas na matriz. Para Blake, a “impressão iluminada” representava um processo mais eficiente e expressivo do que o processo a entalhe e o termo “illuminated” estava relacionado aos manuscritos iluminados medievais, que inspiraram o autor em suas composições integrando imagens e palavras.

Para gravar as matrizes era necessário escrever e desenhar diretamente sobre as chapas de metal, considerando a inversão da imagem e utilizando um verniz cuja fórmula conciliava duas características: fluidez para ser aplicado com bico de pena ou pincel, de forma livre e responsiva aos movimentos das mãos do artista, e resistência ao mordente, isto é, ao ácido ou solução ácida de ação corrosiva sobre a superfície não desenhada das chapas metálicas, a qual faz surgir em relevo o que foi escrito ou desenhado a verniz.

Além disso, seu processo de gravura envolvia mais de uma mordida, isto é, a chapa de metal era submetida a mais de um banho de mordente, de forma gradual, com aplicação de verniz entre um banho e outro para proteger os detalhes mais delicados e vulneráveis à ação corrosiva do mordente. O rebaixamento de parte da superfície da chapa, produzido no processo de gravação, era raso, o que tornava o processo de entintagem e impressão bastante trabalhoso e influenciava o ritmo de produção das estampas, as quais podiam ser impressas a cores ou coloridas a mão.

Em relação ao modo de produção de um livro ilustrado no século XVIII, a invenção deste processo deu a William Blake autonomia para imprimir livros ilustrados em sua própria prensa, tornando-se responsável pela produção das obras, independente da colaboração de impressores especializados nos processos em relevo e a entalhe, e livre de restrições ou imposições comerciais.

A água-forte em relevo (relief etching) teve grande importância para Blake por permitir-lhe manter unidas a invenção e a produção, além de unificar a relação entre o poeta, o pintor e o gravador. Michael Phillips, autor do artigo “Printing in the infernal method: William Blake’s method of ‘Illuminated Printing’”, propõe que esta técnica de gravura em relevo estaria imbuída de um significado metafórico na poética de William Blake. A ação corrosiva do ácido sobre a chapa metálica teria um efeito salutar porque,ao dissipar superfícies de ilusão e aparência, poderia revelar a poesia e o desenho nela contidos, assim como o infinito que estava oculto, e purificara percepção do homem, levando-o a despertar o divino dentro de si e a reconquistar o paraíso interior.

Veja também:

Poesia Sempre (RJ), n. 9, 1998: homenagem a William Blake na seção “Arte e Poesia”

A Cigarra (SP), n. 11, 1956: William Blake, pintor e poeta, artesão e místico

The William Blake Archive

The British Library: William Blake's printing process



Reprodução do poema Night, publicado em Songs of Innocence(1789) e posteriormente em Songs of Innocence and of Experience,de William Blake