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Bicentenário da Independência | Mulheres de Cuiabá e a Imperatriz Leopoldina

11 dez 2022

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No dia 11 de dezembro de 2022 serão completados 196 anos da morte da Imperatriz Leopoldina. Vinda da Áustria para o Brasil, no ano de 1817, D. Leopoldina obteve importante participação no dinâmica política que culminou na Independência do Brasil, sendo hoje reconhecida como uma das principais cabeças pensantes do processo.

D. Leopoldina era admirada pela população brasileira, que a tinha em grande estima graças à sua bondade e sensibilidade para com aqueles que necessitavam de ajuda.

A Imperatriz costumava receber diversas cartas entre pedidos de ajuda, demonstrações de apoio e outras mensagens. Uma dessas cartas – um abaixo assinado feito por mulheres do Mato Grosso – chamou a atenção. No dia 7 de setembro de 1972, ano de comemoração do Sesquicentenário da Independência, o jornal Estado de Mato Grosso publicou uma matéria chamada “Cuiabanas exultam com a Independência”. Guardada no Arquivo Nacional, segundo o jornal, a carta é uma demonstração de apoio por parte das mulheres de Mato Grosso à recém declarada Independência e uma categórica aprovação ao jovem casal Imperial.

A carta-manifesto se inicia da seguinte forma:

Senhora, é caráter do sublime tocar a todos, qualquer que seja a sua idade, sexo ou condição: os corações das Filhas de Cuiabá, já exaltadas por tão heroicos sucessos oscilam à magnificência dos acontecimentos do dia 12 de outubro do ano pretérito, e não podem reprimir a doce satisfação que os inunda. Nós depois de entreabraçar-nos [sic], vertendo lágrimas, nos dirigimos a Vossa Majestade Imperial pelo Capitão-mor desta Província de Mato Grosso João José Guimarães e Silva com quanta ternura pode feminil peito, a beijarmos a Régia Mão de Vossa Majestade Imperial como Anjo Tutelar, Colaboradora da nossa sem par ventura.

É interessante observar como as mulheres reconhecem D. Leopoldina como colaboradora da Independência, indicando que o povo estava ciente do papel ativo da Imperatriz nas implicações políticas que ocorriam dentro do Palácio de São Cristóvão.

O manifesto segue demonstrando grande felicidade pelo novo Brasil independente, oferecendo reconhecimento à legitimidade do governo Imperial instituído por D. Pedro e D. Leopoldina, concluindo da seguinte maneira:

Os nossos filhinhos serão daqui em diante iniciados nos nobres sentimentos que nos inflamam: nós lhes ensinaremos conhecer, amar a Vossa Majestade Imperial, e ao seu digno Esposo, como destinados pelo Céu para a grande obra da nossa Liberdade, e passando assim de geração em geração, será eterna a nossa gratidão, e inabalável a nossa felicidade. Mereçam o bendigno [sic] acolhimento de Vossa Majestade Imperial estes nossos sincero, e humildes votos, que isso nos trará alguma consolação pela privação a que nos condena o imenso espaço que nos separar [sic] do Real Trono, de pessoalmente beijarmos os Reais Pés de Vossa Majestade Imperial.

Após a mensagem, podemos ver a data em que foi escrita - 14 de fevereiro de 1823 - seguida da listagem dos nomes das mulheres que assinaram a carta. As “Filhas de Cuiabá”, como se auto intitulam, são 65 ao todo. Não se sabe quem são essas mulheres, se faziam parte de algum grupo ou movimento, se todas eram alfabetizadas ou não. O interessante é perceber que na época do Brasil Império, já havia um movimento político por parte de mulheres que não se restringia às principais províncias, e esse grupo via na figura de D. Leopoldina alguém em quem se espelhar e confiar.

A matéria do jornal onde a carta foi reproduzida está disponível na Hemeroteca Digital e é possível lê-la na íntegra.



 

Referências Bibliográficas:

Rezzutti, Paulo. D. Leopoldina: A História Não Contada: A Mulher que Arquitetou a Independência do Brasil. Rio de Janeiro: Leya, 2017.

Oberacker Jr., Carlos. A Imperatriz Leopoldina: Sua Vida e sua Época. Rio de Janeiro:

IHGB, 1973.