BNDigital

Centenário | Klaxon – mensário de arte moderna

21 fev 2022

Artigo arquivado em Centenário
e marcado com as tags 100 Anos da Semana de 22, Modernismo, Secult, Semana de Arte Moderna

Na década de 20 do século XX, uma grande novidade da indústria automobilística era a buzina Klaxon. Em forma de corneta, localizada na parte externa dos automóveis e com um som potente e peculiar, chamava atenção e tornava marcante o grito do carro que solicitava passagem. A palavra klaxon virou sinônimo de buzina em vários lugares do mundo e, no Brasil, inspirou o nome da primeira revista modernista do país, considerada também a mais ousada e experimentadora, o “mensário de arte moderna” Klaxon. Lançada em maio de 1922, pouco tempo depois da Semana de Arte Moderna e aglutinando os pensadores e articuladores do evento, Klaxon chegou buzinando, fazendo barulho e abrindo passagem, trazendo inovações estéticas e divulgando a produção de vanguarda da sua época. Seu projeto gráfico inovador, a começar pela capa (foto) mas também na diagramação do miolo, explorava a plasticidade das letras, a distribuição das palavras no espaço das páginas e o uso de tipos grandes, à semelhança dos cartazes. A ousadia das inovações gráficas, utilizadas também nos anúncios como dos chocolates Lacta e do guaraná, não foram bem recebidas pelos anunciantes, que retiraram o patrocínio, levando a revista a publicar ironicamente em seu número 4: “não comam lacta nem bebam guaraná!”. Como dizia o manifesto do mensário: “O Brasil é que deverá se esforçar para compreender KLAXON.”

Idealizada por Mario de Andrade, Guilherme de Almeida, Sergio Milliet, Oswald de Andrade, Luis Aranha e Rubens Borba de Moraes, a revista foi publicada de maio de 1922 a janeiro de 1923 (a coleção completa pode ser consultada na Hemeroteca Digital). Com redação na cidade de São Paulo e impressa na Tipografia Paulista, Klaxon tinha também representações no Rio de Janeiro (a cargo de Sergio Buarque de Hollanda), Suíça, Bélgica e França. Em seus nove números, publicou textos de autores como Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida, Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Serge Milliet, Motta Filho, Ribeiro Couto, Sergio Buarque de Hollanda, Luiz Aranha, Durval Marcondes e Rubens de Moraes. Apresentando-se também como uma publicação internacionalista contava com intensa colaboração estrangeira, publicando textos em francês, italiano e espanhol. Nos chamados “extra-textos”, espécie de encarte especial em cada edição, publicava desenhos assinados por jovens artistas como Di Cavalcanti, Zina Aita, Anita Malfatti, Brecheret e Tarsila do Amaral, além de uma partitura de Villa-Lobos.

O papel de Klaxon se define como o de dar continuidade ao processo já iniciado com a Semana de Arte Moderna, para propagação das ideias modernistas. A revista funcionava como um órgão coletivo, sem hierarquias definidas e seus colaborados participavam de todas as etapas, da redação de textos à concepção gráfica. Seu manifesto define um ideal de construção, a valorização do progresso e do tempo presente e a autonomia do grupo em relação à outras vanguardas. “Klaxon não é futurista. Klaxon é klaxista.”

Klaxon foi umas das revistas pioneiras na crítica cinematográfica no Brasil e encarava o cinema não como mero passatempo, mas como a criação artística mais representativa da época, símbolo da modernidade, velocidade e atualidade. Destaca-se o artigo atribuído a Mario de Andrade sobre o filme “O Garoto”, de Carlitos.

Para o fim da publicação, contribuiu o fracasso financeiro da empreitada, com a falta de anunciantes e dificuldade de conseguir assinantes. Seus editores disseram que deixara de ser divertido publicar a revista e a encerraram com um número duplo menos de um ano depois do seu lançamento. Ainda que de vida efêmera, a revista foi uma peça fundamental para o movimento modernista e seu impacto deixou marcas na literatura e história brasileiras. As discussões estéticas e ideológicas iniciadas com Klaxon abriram caminho para diversas outras revistas de vanguarda que seriam lançadas nos anos seguintes como A Revista Nova, de Mario de Andrade; Estética, de Sergio Buarque de Hollanda e a Revista de Antropofagia, de Oswald e Andrade e Tarsila do Amaral.

Klaxon: mensário de arte moderna – capa do 1º número, 15 de maio de 1922