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Coleções da Seção de Manuscritos | Alexandre Rodrigues Ferreira

26 abr 2023

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Dentre as 225 coleções identificadas na Seção de Manuscritos, uma das mais procuradas por pesquisadores e interessados em geral é a Alexandre Rodrigues Ferreira, composta por carca de 900 imagens e 190 documentos textuais.

Seu titular nasceu em 1756 em Salvador, Bahia. Como todos os filhos da classe abastada no Brasil colonial, foi enviado ao exterior para estudar, e se formou em 1778 na Faculdade de Filosofia Natural da Universidade de Coimbra. Seu mentor foi Domenico Vandelli (1735-1816), naturalista italiano que trabalhava para o governo português. Entre suas atribuições estava a de enviar expedições científicas às colônias portuguesas, e o jovem Alexandre foi indicado para chefiar a que viria ao Brasil.

A expedição, conhecida como “Viagem Filosófica”, foi iniciada em 1783. Além do naturalista, era integrada pelo jardineiro botânico Agostinho do Cabo e pelos desenhistas Joaquim José Codina e José Joaquim Freire. Com poucos recursos materiais e várias limitações determinadas pelo clima e pelas estações, o grupo percorreu as capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá, perfazendo quase 40 mil quilômetros no interior da América portuguesa. Ao longo da viagem coletaram espécimes e registraram suas impressões. O resultado foi um acervo composto de diários, mapas agrícolas – incluindo tanto as espécies nativas como as culturas introduzidas na região, entre as quais o índigo, o cacau e o café –, relatórios sobre as vilas e memórias sobre Zoologia, Botânica e Antropologia. Além disso, os desenhistas produziram registros iconográficos, relativos à fauna, flora, aos tipos humanos, utensílios e ainda à arquitetura de vilas e cidades no norte do Brasil.

Os espécimes reunidos na expedição eram acondicionados em grandes caixas e enviados ao Real Gabinete de História Natural, em Lisboa. Ali, muitos dos desenhos originais de Freire e Codina foram duplicados, e assim passaram a ser conhecidos por cientistas de toda a Europa. Anos depois, durante a invasão de Portugal, as tropas napoleônicas se apossaram de muitas ilustrações e espécimes, que levaram para a França. Isso acarretou a perda de parte dos documentos, bem como a confusão entre desenhos originais e reproduções.

Com a morte de Rodrigues Ferreira em abril de 1815, os manuscritos que restavam em Portugal passaram à guarda do Real Museu d’Ajuda. Ali permaneceram até 1838, quando foram transferidos para a Academia Real de Ciências a fim de ser avaliados para publicação. Isso, porém, não se concretizou, e os documentos se dispersaram entre instituições e colecionadores. Atualmente, o que resta da Coleção Alexandre Rodrigues Ferreira divide-se entre duas instituições brasileiras – a Fundação Biblioteca Nacional e o Museu Nacional – e duas europeias, o Museu Bocage em Lisboa e o Jardin des Plantes em Paris.

A coleção da Biblioteca Nacional foi formada por documentos de várias proveniências, desde a Real Biblioteca a coleções particulares como a de João Antônio Carvalho, a de Júlio Benedito Ottoni e a da viúva do Comendador Lagos. Pesquisadores se debruçam sobre ela desde o século XIX, com a ajuda do inventário organizado em 1876 por Alfredo do Vale Cabral. O trabalho, publicado nos volumes 1, 2 e 3 dos “Anais da Biblioteca Nacional”, ainda é a principal referência para conhecer a “Viagem Filosófica”. Desde então, surgiu toda uma bibliografia dedicada ao tema, muitas vezes com opiniões conflitantes. Alguns estudiosos afirmam que Ferreira não agiu com suficiente rigor científico, enquanto outros dizem que foi tão preciso e sistemático quanto seria possível na época. Embora seus métodos possam ser, hoje, considerados empíricos, o naturalista identificou vários povos originários habitantes da Amazônia e mostrou como as roupas, armas e moradias eram indícios do grau de organização social das comunidades. Quanto à fauna e à flora, seus escritos tinham um viés utilitarista, pragmático, mas, ainda assim, demonstram alguma preocupação com a preservação das espécies e do meio ambiente.

Em 2010, a Coleção Alexandre Rodrigues Ferreira obteve o registro Memória do Mundo, conquista significativa pelo fato de ser aquele o Ano Internacional da Biodiversidade. Está integralmente digitalizada e disponível para consulta na BN Digital.

Veja, entre os muitos documentos iconográficos, a planta nativa desenhada por Freire.

Para saber mais sobre essa e as outras coleções da Seção de Manuscritos, acesse o Guia de Coleções.