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Coleções da Seção de Manuscritos | Arthur Ramos

29 maio 2023

Artigo arquivado em Coleções da Seção de Manuscritos
e marcado com as tags Arthur Ramos, Biblioteca Nacional, Ciências sociais, Coleções Manuscritas, Estudos Africanos, Memória do Mundo UNESCO

O Arquivo Arthur Ramos é uma das coleções da Biblioteca Nacional que mais têm despertado interesse nas últimas décadas. Trata-se de um conjunto de aproximadamente 4.860 documentos compreendidos entre as datas 1740 e 1955, produzidos ou acumulados pelo médico, etnólogo e professor Arthur Ramos.

Ramos nasceu em Pilar (AL) em 3 de julho de 1903. Filho de Ana Ramos e do médico Manuel Ramos, ingressou na Universidade de Medicina da Bahia em 1921. Sua tese “Primitivo e Loucura”, defendida em 1926, ganhou reconhecimento por parte de estudiosos respeitados, como Lucien Lévy-Bruhl e Sigmund Freud. Em 1927 passou a trabalhar no Hospital Psiquiátrico de Salvador. Ao mesmo tempo, começou a se interessar por etnografia, em especial sobre o estudo de sociedades africanas e a transposição de sua cultura e costumes para o Brasil. Ao longo de sua carreira, escreveria inúmeras publicações sobre o tema, entre as quais se destacam “O Negro Brasileiro” (1934), “As Culturas Negras do Novo Mundo” (1937) e “Introdução à Antropologia Brasileira” (1943-1947). Além disso, participou de congressos e outros eventos da área e se correspondeu intensamente com pesquisadores brasileiros e estrangeiros.

Em 1933, Arthur Ramos se mudou para o Rio de Janeiro, onde foi nomeado chefe do Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental. Sua análise de estudantes de escolas públicas buscou demonstrar que muitos comportamentos tidos como problemáticos tinham raízes em questões sociais. Com essa temática, publicou, em 1939, “A Criança Problema” e “Saúde do Espírito”.  No mesmo ano tornou-se professor de Antropologia e Etnografia na Universidade do Distrito Federal. A intensa troca de ideias entre estudiosos e docentes da área o levou, no início da década de 1940, aos Estados Unidos, onde ministrou um curso na Universidade de Louisiana. A partir de então, seu nome passou a ser mais e mais reconhecido, o que o fez ser convidado para assumir o Departamento de Ciências Sociais da UNESCO, em Paris. Assumiu em 1949, mas acabou por falecer, prematuramente, em outubro do mesmo ano.

O arquivo pessoal de Arthur Ramos foi adquirido de sua viúva, Luísa Araújo Ramos, e da Universidade do Brasil por meio de compra, em 1956. Inclui folhetos, recortes de jornais, anotações sobre psiquiatria, etnografia, folclore e ciências sociais, originais de artigos, fotografias, desenhos e uma extensa correspondência do titular e de terceiros. Dentre estes, nomes de grande relevância no Brasil e no exterior, tais como Edison Carneiro, Luiz da Câmara Cascudo, Nunes Pereira, Ruth Landes, Pierre Verger, Roger Bastide, Donald Pearson, Melville Herskovits, Sigmund Freud. O acervo fotográfico, parte do qual se encontra sob a guarda da Seção de Iconografia, é uma valiosa fonte de pesquisa sociológica, que contém registros únicos de manifestações culturais e religiosas nas décadas de 1930 e 1940.

Em 2016, o Arquivo Arthur Ramos recebeu o diploma do programa Memória do Mundo da UNESCO, um reconhecimento do seu valor como patrimônio cultural. A coleção está sendo digitalizada para facilitar o acesso aos pesquisadores. A maior parte do acervo fotográfico e da correspondência com cientistas sociais já está disponível no site da BN Digital.



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