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Coleções da Seção de Manuscritos | Lima Barreto

12 maio 2023

Artigo arquivado em Coleções da Seção de Manuscritos
e marcado com as tags Biblioteca Nacional, Coleções Manuscritas, Escritores Negros, Literatura Brasileira, Memória do Mundo UNESCO

O Arquivo Lima Barreto é uma das mais importantes coleções literárias da Seção de Manuscritos. Composto por um total de 1.134 documentos – entre originais de suas obras, cartas, anotações e recortes de periódicos --, foi adquirido de familiares do escritor em 1947.

Seu titular, cujo nome completo era Afonso Henriques de Lima Barreto, nasceu no Rio de Janeiro em 13 de maio de 1881. Neto de escravizados, teve sua educação garantida pelo padrinho, o visconde de Ouro Preto. Estudou Engenharia na Escola Politécnica, mas, diante dos problemas psiquiátricos apresentados por seu pai, teve de abandonar os estudos para ajudar no sustento da família. Em 1903 começou a trabalhar na Secretaria de Guerra e a colaborar com periódicos como o “Correio da Manhã”, o “Jornal do Commercio” e a revista “Fon-Fon”.

“Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, publicado em 1909, foi a primeira obra de Lima Barreto. Dois anos depois, “Triste Fim de Policarpo Quaresma” começou a sair como folhetim no “Jornal do Commercio”. Seguiram-se outros romances e contos, alguns realistas, outros satíricos, retratando os costumes e a dinâmica social do Rio de Janeiro.

Em 1915, tendo passado por uma internação no Hospício Nacional de Alienados, Lima Barreto publicou, como folhetim, o romance “Numa e a Ninfa” – do qual seu arquivo contém os originais manuscritos -- e começou a colaborar com a revista ilustrada “Careta”. Publicou também em periódicos políticos, assim divulgando suas ideias e combatendo a hipocrisia, o racismo e a desigualdade. Sua saúde, no entanto, piorou, e em 1918 ele foi obrigado a se aposentar da Secretaria de Guerra.

O romance “Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá” foi publicado em 1919 pela editora Revista do Brasil, de Monteiro Lobato. Havia grandes expectativas a respeito do livro, mas suas vendas foram baixas. Lobato decidiu não publicar novos livros de Lima Barreto, que continuava a enfrentar problemas de saúde e internações. A correspondência entre os dois, que diz respeito à edição desse livro, também faz parte do Arquivo pertencente à Seção de Manuscritos, assim como os originais do romance “Cemitério dos Vivos” que Lima Barreto começou a escrever quando estava internado no Hospício.

Lima Barreto faleceu em 01 de novembro de 1922 em sua casa, no Rio de Janeiro, vítima de um colapso cardíaco. Durante algum tempo permaneceu no esquecimento, até que, nas décadas de 1940 e 1950, teve seu trabalho revisitado e algumas obras publicadas postumamente por iniciativa do pesquisador Francisco de Assis Barbosa. Entre elas, “Clara dos Anjos”, um de seus livros mais conhecidos, concluído no ano de sua morte e publicado em 1948. Barbosa foi também responsável por apresentar o Arquivo Lima Barreto ao então diretor da Biblioteca Nacional, Rubem Borba de Moraes. O conjunto passou a ser bastante procurado, pois é de grande interesse tanto para estudiosos de Literatura como para cientistas sociais e historiadores, principalmente os que trabalham com questões ligadas às relações interraciais.

Em 2017, o Arquivo Lima Barreto foi incluído no Programa Memória do Mundo, da UNESCO, que promove a visibilidade, a preservação e a difusão de documentos e coleções de reconhecido valor universal. Os documentos foram digitalizados, passando a ser acessíveis por meio da BN Digital, e sua descrição em base de dados foi revista. Um instrumento de pesquisa, o Catálogo do Arquivo Lima Barreto, foi organizado pela bibliotecária Maria Fernanda Nogueira e se encontra disponível na página da Fundação Biblioteca Nacional. A obra facilita a pesquisa no acervo, além de conter hiperlinks que permitem acesso remoto a alguns dos itens disponibilizados na BN Digital.

Acesse o catálogo.

Carta de Lima Barreto a A. M. Teixeira, da Livraria Clássica de Lisboa, comentando sobre as modificações em “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, 1909.