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Cultura Pop | Mônica e sua Turma

03 mar 2021

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e marcado com as tags HQ e Cultura, Mauricio de Sousa, Mônica 58 Anos, Secult

“Sou a Mônica, sou a Mônica
Dentucinha e sabichona
Sou a Mônica, sou a Mônica
Tão teimosa e tão mandona

Quando diz que sim, quando diz que não
Mostra ter opinião
Vivo sempre falando e brincando
Na sua imaginação

Ela inventa tudo que é brinquedo
Com a turminha gosta de brincar
Se as meninas têm algum segredo
Logo vêm correndo a me contar

Se alguém sorrir, se alguém sorrir
Para a nossa turma pode vir
Se alguém chorar, se alguém chorar
Estou sempre pronta a ajudar

Mas se algum menino me contrariar
Vou mostrar que eu não sou boba não
Vou lhe dando uma coelhada
E ele vai até cair no chão”
(Turma da Mônica. Sou a Mônica. Composição: Gao Gurgel / Mauricio De Souza / Wilma Camargo).

A personagem Mônica, inspirada na filha do jornalista e desenhista Maurício de Sousa, chegou de mansinho, no dia 3 de março 1963, em tirinhas do personagem Cebolinha, no jornal Folha de São Paulo. A destemida menininha de 7 anos, inicialmente coadjuvante, logo viu sua popularidade crescer, até que ganhou uma revista própria, em 1970 (Intervalo). Trajando um vestido vermelho e munida de seu coelhinho azul, o Sansão, a garotinha não levava recado para casa e distribuía coelhadas em quem a chamava de “baixinha, gordinha e dentuça”.

Mas o que começou quase despretensiosamente, em uma tirinha de jornal, ganhou tal expressividade que, em sete anos, transformou não só os personagens de seu criador, como também todo o universo das Histórias em Quadrinhos (HQ) brasileiras. Inserida num contexto de luta pela representatividade feminina, no Brasil e no mundo, Mônica encontrou ressonância em um público feminino que atuava para ressignificar e consolidar seu espaço na contemporaneidade.

Traçando um brevíssimo panorama sobre as HQ, charges e cartuns no Brasil, encontramos belos e expressivos representantes dessas artes desde fins do século XIX, como as criações do desenhista ítalo-brasileiro Angelo Agostini (1843-1910) (Revista Illustrada). No início do século XX, aparecem os personagens como os do Almanaque do Tico-Tico, da empresa O Malho, com revistinhas próprias voltadas para o público infantil (Almanaque do Tico-Tico). Nas décadas anteriores a 1960, as HQ eram majoritariamente voltadas para o mundo dos super-herois e ambientadas em cenários com típicas influências norteamericanas. Essas chegaram através da atuação de empresários das comunicações, dentre eles, Adolfo Aizen, Adolfo Bloch, Assis Chateaubriand e Roberto Marinho. Os anos 1960 inaugurariam uma nova fase, com desenhistas como Maurício de Sousa e Ziraldo que ressaltam, em suas personagens e histórias, aspectos culturais tipicamente brasileiros.

Maurício de Sousa fez sua estreia com o Bidu, em 1959. Posteriormente, aparecem Piteco, Jotalhão, Cebolinha, Chico Bento, Mônica, e a turma não para de crescer, até os dias atuais. Com o protagonismo da baixinha… ops, da menina, cuja força e determinação são suas características marcantes, bem como a preocupação e fidelidade aos amigos, Maurício de Sousa dá um ousado passo: cria uma das mais queridas personagens femininas genuinamente brasileiras, titular de uma HQ. Assim, Mônica e sua Turma são registros de uma profunda transformação nos traços, argumentos, cenários, enfim, de concepção das HQ brasileiras. Ao ponto de provocarem o caminho inverso: as HQ nacionais passaram a ser exportadas para outros países (Intervalo; Correio Braziliense).

O sucesso da turminha é visível até hoje. Entre figuras de linguagem, onomatopéias, e algumas tlapalhadas do Cebolinha e do Cascão, surgem importantes campanhas educativas em prol de vacinas, segurança alimentar, proteção às crianças, cuidados no trânsito, amparo ao deficiente físico, visual, auditivo, proteção ao meio ambiente (Correio Braziliense) e que são apresentadas às crianças cotidianamente, com a ilustre presença de Mônica, Magali, Cascão e Cebolinha – os quatro amigos inseparáveis. Inclusão é o lema da turma que busca representar os mais variados públicos com personagens como, por exemplo, Dorinha (deficiente visual) e Humberto (deficiente auditivo) (Correio Braziliense).

Extrapolando o mundo dos quadrinhos, os personagens foram parar em desenhos animados, como A Princesa e o Robô (1984), peças de teatro e, recentemente, ganharam um filme com personagens reais – o chamado live action – Mônica, Laços (2019). Escolas passaram a contar com a turminha para ilustrar livros e dialogar com os alunos de forma lúdica, unindo o aprendizado ao entretenimento, para aproximar a escola da vivência das crianças e jovens. Dessa forma, é bem comum encontrarmos professores que utilizam cotidianamente os personagens para ilustrar suas avaliações e textos, bem como para introduzir os pequenos no mundo das letras e da leitura (Jornal do Brasil).

Além da turminha, personalidades brasileiras como Pelé (Diário do Paraná), Airton Sena, Roberto Carlos (Intervalo) e outros, também foram desenhados por Maurício de Sousa. Alguns chegaram a ter suas próprias revistas e, com raras exceções, dialogavam com a Turma da Mônica em suas historinhas.

Há também que se ressaltar o grande mercado de souvenires, itens de higiene pessoal para bebês, crianças e adolescentes, material escolar, álbuns de figurinhas (Diário do Paraná) e demais produtos que trazem, para o seu criador, os royalties pelo uso das imagens. Visionário, aos 27 anos, Maurício de Sousa já planejava uma de suas maiores empreitadas: a criação de um parque temático para os personagens (Correio da Manhã).

O tempo passou e a turminha cresceu. Em 2008, a Maurício de Sousa Editora, através da Panini Comics, lança a Turma da Mônica Jovem que, em estilo mangá, conta as histórias dos personagens já adolescentes, suas dúvidas e romances (Correio Braziliense).

Aos 58 anos, Mônica já é uma jovem senhora!

* A Fundação Biblioteca Nacional conta, em seu acervo físico, com exemplares das HQ da Mônica e sua Turma, inclusive em suas versões em inglês e espanhol.

Explore outros documentos:

Diário do Paraná:

http://memoria.bn.br/DocReader/761672/141435

http://memoria.bn.br/DocReader/761672/141512

http://memoria.bn.br/DocReader/761672/141548

O Jornal:

http://memoria.bn.br/DocReader/110523_06/49764

http://memoria.bn.br/DocReader/110523_06/97334

Última Hora

Luta Democrática:

http://memoria.bn.br/DocReader/030678/69425

http://memoria.bn.br/DocReader/030678/71141

O Cruzeiro

Manchete:

http://memoria.bn.br/DocReader/004120/223393

http://memoria.bn.br/DocReader/004120/235684;

http://memoria.bn.br/DocReader/004120/256142

http://memoria.bn.br/DocReader/004120/267526

http://memoria.bn.br/DocReader/004120/280270

http://memoria.bn.br/DocReader/004120/295275

http://memoria.bn.br/DocReader/004120/315970

Diário da Noite:

http://memoria.bn.br/DocReader/093351/75729

http://memoria.bn.br/DocReader/093351/80951

Correio Paulistano:

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_11/7950

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_11/7982

Jornal do Brasil:

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_09/9032

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_09/14493

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_09/17500

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_09/20286

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_09/21345

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_09/21435

Catálogo da Exposição HQ, o mundo encantado dos Quadrinhos: acervo da Biblioteca Nacional (2002-2003).

FERREIRA, Raquel F. dos Santos. “Representações de Gênero em Histórias em Quadrinhos”. Anais da Biblioteca Nacional, N. 124(2004).


Mônica e sua Turma.