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Entretenimento | Bravo, Marília Pêra!

17 dez 2020

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Marília Soares Pêra (1943-2015) parece ter vindo a esse mundo destinada a brilhar. Descendente de família de tradição artística, filha do ator português Manuel Pêra e da atriz Dinorah Marzullo, Marília Pêra transitava entre palcos e bastidores de teatro desde criança. Ainda bebê, teria feito parte de uma peça e, aos quatro anos de idade, encenaria sua primeira personagem ao lado dos seus pais, na Companhia de Henriette Morineau. Aos 11 anos, atuou na peça O Mártir do Calvário, ao lado da mãe (A Noite).

Ao longo de sua vida artística, aperfeiçoou suas ferramentas de atuação, aprendendo canto e dança, como o ballet, vindo a tornar-se uma das atrizes brasileiras mais completas da contemporaneidade. Elogiada pela crítica e pelo público, por onde passava Marília Pêra era a personificação da dedicação e do amor pelo teatro, cinema, televisão – paixões que a acompanharam até o final de sua vida.

Utilizando-se de suas qualidades como atriz, cantora e bailarina, Marília Pêra privilegiava a interpretação de mulheres notáveis nos mundos das artes, da política, da moda, da música, das letras. Dentre suas personagens mais marcantes estão Carmen Miranda, Maria Callas, Dalva de Oliveira, Coco Chanel. Protagonista de musicais como A Estrela Dalva (1987), Elas por Ela (1992), Marília Pêra Canta Carmen Miranda (2005), dentre outros, contribuiu para revisitar a memória da MPB, através das mulheres atuantes nesse cenário, entre os anos de 1920 a 1970. Tanto no palco como nos bastidores, sua atuação na dramaturgia se fez desde a interpretação de personagens, até a roteirização e direção das peças. Cerca de 70 obras da dramaturgia brasileira contaram com sua dedicação e profissionalismo.

Entretanto, infelizmente, nem tudo são flores. Em 1968, durante uma das apresentações da peça Roda Viva (de Chico Buarque), no Galpão do Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, o elenco foi surpreendido por um ataque violento, motivado pela perseguição ao comunismo naqueles tempos de ditadura civil-militar, que resultou na destruição de cenários, instrumentos musicais e camarins, bem como no abominável espancamento da própria atriz e seus companheiros de peça (O Cruzeiro).

No cinema, uma de suas maiores atuações foi no filme Pixote, a Lei do mais fraco (1980), dirigido por Hector Babenco onde, contracenando com meninos de rua da vida real, interpretava uma prostituta. A película, cujo tema principal é a situação de abandono de crianças e jovens, nas ruas das grandes cidades, traz fortes cenas da exploração sexual infantil, uso de drogas e violência, expondo uma dura realidade visível ainda hoje em muitas cidades brasileiras. O filme foi premiado, abrindo as portas para a projeção internacional de Marília Pêra, apresentando o seu potencial artístico e, junto, a qualidade dos artistas brasileiros (Boletim do Conselho Federal de Cultura). Ao todo, Marília Pêra participou de 24 filmes brasileiros, vários deles premiados em festivais nacionais e internacionais de cinema.

Na TV, atuou em 49 telenovelas e séries como, O Cafona(1971), Malu Mulher (1979), Brega e Chique (1987), O Primo Basílio (1988), Os Maias(2001) e Pé na Cova (2013-2016), derradeiro trabalho de televisão que, tendo sido gravado em sua totalidade antes de seu falecimento, teve sua última temporada exibida postumamente. No cinema, além do citado Pixote, atuou em Dias Melhores Virão(1989), Central do Brasil(1998), Tô Ryca(2016), sua última aparição em filmes brasileiros (Jornal do Commércio).

Sua obra é amplamente reconhecida e Marília Pêra recebeu cerca de 60 menções, entre indicações e prêmios, em categorias como melhor atriz de cinema, melhor atriz de televisão, melhor atriz de teatro, melhor atriz coadjuvante. Dentre eles: Prêmio Moliére de Teatro (1969, 1973,1983),Troféu Imprensa (1988), Festival Internacional de Cinema de Cartagena (1991).

O ano de 2015, sua despedida desse mundo, ficou marcado como o ano da homenagem da Escola de Samba Mocidade Alegre, agremiação carnavalesca da cidade de São Paulo, com o samba-enredo Nos Palcos da Vida, uma Vida no Palco... Marília! Também ficou registrado como momento de mais uma consagração importante em sua carreira: o Troféu Oscarito, do Festival de Cinema de Gramado. Bravo, Marília!

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