Entretenimento | Chacrinha: O Velho Guerreiro
por Raquel Ferreira
05 out 2021
Artigo arquivado em Entretenimento
e marcado com as tags Cassino do Chacrinha, Programa de Auditório, Programa de Calouros, Velho Guerreiro
“Quem não se comunica, se trumbica”.
(Manchete)
José Abelardo Barbosa de Medeiros (1917-1988), mais conhecido como Chacrinha, foi um comunicador, apresentador de programas de rádio e TV, compositor de marchinhas carnavalescas, jingles publicitários, sambas e forró. Natural de Surubim (PE), estudou medicina, contudo, notabilizou-se pelo programa de variedades conhecido como Cassino do Chacrinha, composto por apresentações de músicos consagrados, novos talentos e calouros. Iniciou a carreira no rádio, na década de 1940. Posteriormente, após 1955, passou a integrar a TV, passagem na qual criou a frase: “Na TV nada se cria, tudo se copia”, em referência à transposição de seus programas de rádio para o formato televisivo.
Os domingos da família brasileira, na atualidade, são preenchidos por programas de auditório, em vários canais da chamada TV aberta. Da mesma forma cerca de 60 a 40 anos atrás, raras eram as casas que não conheciam as famosas buzinadas do programa de auditório do Chacrinha. Assim como conhecemos frases como “Ô louco meu”, “Loucura-loucura-loucura”, “Quem quer dinheiro???”, dentre outras, o comunicador Abelardo Barbosa introduzia as atrações de seus programas em meio a bordões do tipo: “Como vai, vai bem? Veio a pé ou veio de trem?”, “Ó Terezinha… é um barato a Discoteca do Chacrinha” - uma versão da marchinha Terezinha, composta por ele para o carnaval (O Cruzeiro) -, ou ainda, “Vai para o trono ou não vai?”. Para a chamada dos comerciais, os reclames publicitários, era usual o “Rrrrroooodda, rrrroda, roda e avisa: um minuto pr’os comerciais!” (Manchete) - ao completar essa frase cantando, cai a ficha: sim, o programa é da sua geração… Não vou comentar sobre mim… Abafa o caso.
Os calouros que se aventuravam a cantar em seu programa, caso não agradassem ao júri - composto por personalidades como os saudosos Costinha, a diva Elke Maravilha e Tarcísio Meira, dentre outros - ganhavam uma sonora buzinada e um “troféu abacaxi”. Acompanhados pelo, também saudoso, ajudante de palco Russo, os candidatos deixavam o palco, dando lugar a uma atração musical já com alguma projeção, ou mesmo um jovem talento, em início de carreira. Da Bossa Nova, Jovem Guarda, samba, rock, enfim, MPB, passaram por lá Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Jorge Ben Jor, Roberto Leal, Sidney Magal, Sandra de Sá, Joana, Simone, Marina Lima, Gal Costa, Elis Regina, além de bandas como Blitz, Barão Vermelho e Legião Urbana, para dar apenas uma pálida amostra. Ao fundo, mais de uma dezena de bailarinas sensualmente vestidas com maiôs, shorts e biquínis cavados, as “Chacretes”, chamavam a atenção do público masculino. O Velho Guerreiro, invariavelmente, trajava macacões espalhafatosos e ultracoloridos, uma cartola, e um círculo com algarismos de 0 a 9 - semelhante aos antigos telefones com painel em formato de disco numerado -, na frente da volumosa barriga. Tudo isso cercado por uma plateia lotada, tradição transportada dos auditórios, no rádio, para o estúdio, na TV.
Cativante e acostumado às batalhas de auditório, muito comuns nas rádios das décadas de 1940 e 1950, recebeu de Gilberto Gil, na canção Aquele abraço (1969), o apelido Velho Guerreiro, em referência às gincanas que organizava (O Cruzeiro). Aliás, uma curiosidade: o termo Chacrinha também vem da sua época inicial do rádio, quando as suas apresentações eram feitas no quintal da Rádio Clube Fluminense (onde iniciou, em 1943), espaço esse conhecido como chacrinha, de onde irradiava entre galinhas, patos e marrecos (O Cruzeiro). Daí o título “Cassino da/do Chacrinha”, termo que também incorporou ao seu nome, passando a ser conhecido como Abelardo “Chacrinha” Barbosa (Jornal do Commércio-AM). Seus programas de rádio chegaram a receber dez mil ligações de ouvintes para participarem de suas gincanas, sugerirem músicas, ou somente dar um alô ao apresentador (O Cruzeiro).
Aliás, as empregadas domésticas, os camelôs, a dona de casa, os pequenos trabalhadores, constituíam o seu público fiel. A eles o comunicador prestava suas homenagens, sempre que podia, com frases do tipo: “Quanto às empregadinhas (…): elas são, na verdade, a razão do meu viver” ou, “Comunicação aprendi na escola da vida. Espiava os camelôs, grandes mestres” (Manchete, http://memoria.bn.br/DocReader/004120/251795 e http://memoria.bn.br/DocReader/004120/251796).
Amado por muitos, mas também odiado por outros tantos (O Cruzeiro). Velho ultrapassado, cafona, brega, eram algumas das referências críticas a ele (O Cruzeiro). Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Porto, em uma nota crítica, chegou a referir-se ao apresentador como "debilóide" (Diário da Noite). Além dos questionamentos ao apresentador, como pessoa e profissional, o programa era contestado em razão de seu perfil de "cultura de massa", ou seja, visto pejorativamente como algo voltado apenas ao consumo de representações culturais fúteis (O Cruzeiro).
A figura pública de Chacrinha, um misto de carnaval e circo, serviu de inspiração para que o estilista Clodovil Hernandes criasse suas fantasias de carnaval, no ano de 1972 (O Cruzeiro). Um ano antes de seu falecimento, em 1987, a escola de samba Império Serrano - de Madureira, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro -, também o homenageou, com o sambaenredo Quem não se comunica se trumbica (Beto Sem Braço, Aluísio Machado, Bicalho), defendendo a liberdade de expressão e informação. O refrão: “Quem não se comunica/ se trumbica e como fica/ fica na saudade fica”, retirado de uma das famosas frases do Velho Guerreiro, conquistou a multidão e, até hoje, é lembrado como um clássico nos carnavais cariocas (Manchete).
Amado ou odiado, o fato é que o apresentador serviu de inspiração para vários programas televisivos que o sucederam, inclusive os atuais. Muitos artistas são tributários ao espaço dado pelo Velho Guerreiro, como pontapé inicial a sua carreira no cenário musical brasileiro. Na ocasião de seu falecimento, devido a uma parada cardíaca, a revista Manchete organizou um especial, contando a trajetória do comunicador. Foi velado na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, e seu cortejo foi seguido por várias celebridades da música, TV, rádio, teatro, enfim, do mundo das artes brasileiras.
Explore outros documentos:
Careta
http://memoria.bn.br/DocReader/083712/99901
http://memoria.bn.br/DocReader/083712/100811
http://memoria.bn.br/DocReader/083712/102025
http://memoria.bn.br/DocReader/083712/102193
O Cruzeiro
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/67441
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/79471
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/90479
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/103250
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/186651
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/187184
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/187917
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/187918
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/187919
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/202290
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/202293
Diário da Noite (SP)
Fon Fon
Jornal das Moças
Rádio Visão
Vida Doméstica
http://memoria.bn.br/DocReader/830305/61715
http://memoria.bn.br/DocReader/830305/62361
http://memoria.bn.br/DocReader/830305/62424
Acervo digital – composições musicais:
Vai ter casamento.
Já te esqueci.
A Marcha do Chacrinha.
Fandango no arraial.
Chacrinha, o Velho Guerreiro (O Cruzeiro)
(Manchete)
José Abelardo Barbosa de Medeiros (1917-1988), mais conhecido como Chacrinha, foi um comunicador, apresentador de programas de rádio e TV, compositor de marchinhas carnavalescas, jingles publicitários, sambas e forró. Natural de Surubim (PE), estudou medicina, contudo, notabilizou-se pelo programa de variedades conhecido como Cassino do Chacrinha, composto por apresentações de músicos consagrados, novos talentos e calouros. Iniciou a carreira no rádio, na década de 1940. Posteriormente, após 1955, passou a integrar a TV, passagem na qual criou a frase: “Na TV nada se cria, tudo se copia”, em referência à transposição de seus programas de rádio para o formato televisivo.
Os domingos da família brasileira, na atualidade, são preenchidos por programas de auditório, em vários canais da chamada TV aberta. Da mesma forma cerca de 60 a 40 anos atrás, raras eram as casas que não conheciam as famosas buzinadas do programa de auditório do Chacrinha. Assim como conhecemos frases como “Ô louco meu”, “Loucura-loucura-loucura”, “Quem quer dinheiro???”, dentre outras, o comunicador Abelardo Barbosa introduzia as atrações de seus programas em meio a bordões do tipo: “Como vai, vai bem? Veio a pé ou veio de trem?”, “Ó Terezinha… é um barato a Discoteca do Chacrinha” - uma versão da marchinha Terezinha, composta por ele para o carnaval (O Cruzeiro) -, ou ainda, “Vai para o trono ou não vai?”. Para a chamada dos comerciais, os reclames publicitários, era usual o “Rrrrroooodda, rrrroda, roda e avisa: um minuto pr’os comerciais!” (Manchete) - ao completar essa frase cantando, cai a ficha: sim, o programa é da sua geração… Não vou comentar sobre mim… Abafa o caso.
Os calouros que se aventuravam a cantar em seu programa, caso não agradassem ao júri - composto por personalidades como os saudosos Costinha, a diva Elke Maravilha e Tarcísio Meira, dentre outros - ganhavam uma sonora buzinada e um “troféu abacaxi”. Acompanhados pelo, também saudoso, ajudante de palco Russo, os candidatos deixavam o palco, dando lugar a uma atração musical já com alguma projeção, ou mesmo um jovem talento, em início de carreira. Da Bossa Nova, Jovem Guarda, samba, rock, enfim, MPB, passaram por lá Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Jorge Ben Jor, Roberto Leal, Sidney Magal, Sandra de Sá, Joana, Simone, Marina Lima, Gal Costa, Elis Regina, além de bandas como Blitz, Barão Vermelho e Legião Urbana, para dar apenas uma pálida amostra. Ao fundo, mais de uma dezena de bailarinas sensualmente vestidas com maiôs, shorts e biquínis cavados, as “Chacretes”, chamavam a atenção do público masculino. O Velho Guerreiro, invariavelmente, trajava macacões espalhafatosos e ultracoloridos, uma cartola, e um círculo com algarismos de 0 a 9 - semelhante aos antigos telefones com painel em formato de disco numerado -, na frente da volumosa barriga. Tudo isso cercado por uma plateia lotada, tradição transportada dos auditórios, no rádio, para o estúdio, na TV.
Cativante e acostumado às batalhas de auditório, muito comuns nas rádios das décadas de 1940 e 1950, recebeu de Gilberto Gil, na canção Aquele abraço (1969), o apelido Velho Guerreiro, em referência às gincanas que organizava (O Cruzeiro). Aliás, uma curiosidade: o termo Chacrinha também vem da sua época inicial do rádio, quando as suas apresentações eram feitas no quintal da Rádio Clube Fluminense (onde iniciou, em 1943), espaço esse conhecido como chacrinha, de onde irradiava entre galinhas, patos e marrecos (O Cruzeiro). Daí o título “Cassino da/do Chacrinha”, termo que também incorporou ao seu nome, passando a ser conhecido como Abelardo “Chacrinha” Barbosa (Jornal do Commércio-AM). Seus programas de rádio chegaram a receber dez mil ligações de ouvintes para participarem de suas gincanas, sugerirem músicas, ou somente dar um alô ao apresentador (O Cruzeiro).
Aliás, as empregadas domésticas, os camelôs, a dona de casa, os pequenos trabalhadores, constituíam o seu público fiel. A eles o comunicador prestava suas homenagens, sempre que podia, com frases do tipo: “Quanto às empregadinhas (…): elas são, na verdade, a razão do meu viver” ou, “Comunicação aprendi na escola da vida. Espiava os camelôs, grandes mestres” (Manchete, http://memoria.bn.br/DocReader/004120/251795 e http://memoria.bn.br/DocReader/004120/251796).
Amado por muitos, mas também odiado por outros tantos (O Cruzeiro). Velho ultrapassado, cafona, brega, eram algumas das referências críticas a ele (O Cruzeiro). Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Porto, em uma nota crítica, chegou a referir-se ao apresentador como "debilóide" (Diário da Noite). Além dos questionamentos ao apresentador, como pessoa e profissional, o programa era contestado em razão de seu perfil de "cultura de massa", ou seja, visto pejorativamente como algo voltado apenas ao consumo de representações culturais fúteis (O Cruzeiro).
A figura pública de Chacrinha, um misto de carnaval e circo, serviu de inspiração para que o estilista Clodovil Hernandes criasse suas fantasias de carnaval, no ano de 1972 (O Cruzeiro). Um ano antes de seu falecimento, em 1987, a escola de samba Império Serrano - de Madureira, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro -, também o homenageou, com o sambaenredo Quem não se comunica se trumbica (Beto Sem Braço, Aluísio Machado, Bicalho), defendendo a liberdade de expressão e informação. O refrão: “Quem não se comunica/ se trumbica e como fica/ fica na saudade fica”, retirado de uma das famosas frases do Velho Guerreiro, conquistou a multidão e, até hoje, é lembrado como um clássico nos carnavais cariocas (Manchete).
Amado ou odiado, o fato é que o apresentador serviu de inspiração para vários programas televisivos que o sucederam, inclusive os atuais. Muitos artistas são tributários ao espaço dado pelo Velho Guerreiro, como pontapé inicial a sua carreira no cenário musical brasileiro. Na ocasião de seu falecimento, devido a uma parada cardíaca, a revista Manchete organizou um especial, contando a trajetória do comunicador. Foi velado na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, e seu cortejo foi seguido por várias celebridades da música, TV, rádio, teatro, enfim, do mundo das artes brasileiras.
Explore outros documentos:
Careta
http://memoria.bn.br/DocReader/083712/99901
http://memoria.bn.br/DocReader/083712/100811
http://memoria.bn.br/DocReader/083712/102025
http://memoria.bn.br/DocReader/083712/102193
O Cruzeiro
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/67441
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/79471
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/90479
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/103250
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/186651
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/187184
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/187917
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/187918
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/187919
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/202290
http://memoria.bn.br/DocReader/003581/202293
Diário da Noite (SP)
Fon Fon
Jornal das Moças
Rádio Visão
Vida Doméstica
http://memoria.bn.br/DocReader/830305/61715
http://memoria.bn.br/DocReader/830305/62361
http://memoria.bn.br/DocReader/830305/62424
Acervo digital – composições musicais:
Vai ter casamento.
Já te esqueci.
A Marcha do Chacrinha.
Fandango no arraial.
