Entretenimento | Obrigado Dercy!
por Raquel Ferreira
19 jul 2021
Artigo arquivado em Entretenimento
e marcado com as tags Comédia, Dercy Gonçalves, Humor, Secult, Teatro de Revista
Censurada, proscrita, desagradável, pornográfica, decadente, estranha, esses são alguns dos adjetivos que circundam Dolores Gonçalves Costa (1907-2008), cujo nome artístico era Dercy Gonçalves, atriz, humorista e cantora, com primeiras aparições a partir do Teatro de Revista. Aqui, todavida, gostaríamos de evidenciar outros adjetivos que se aplicam a essa importante mulher, atriz e comediante brasileira.
Ousada. Dercy, que começou sua carreira jovenzinha - reza a lenda que fugiu de casa com a Cia. “Maria Castro”, teatro mambembe (O Cruzeiro), escandalizando meio mundo, típico da Dercy -, nos primórdios da década de 1930, logo descambou para o humor em suas atuações. Mas não qualquer humor. Era o humor temperado com sal grosso: ousado, irreverente, pesado, pornográfico, chocante. Mas fazia rir (O Cruzeiro). E muito!! Abalava as regras de uma parcela conservadora, de moralidade bastante duvidosa, que insistia em tomar conhecimento de suas peças. Veio para quebrar padrões ou, na gíria atual, causar.
Notável. Em sua carreira, que já aparece na mídia impressa nos primeiros anos da década de 1930 (A Batalha), contracenou com Oscarito, Linda Batista, Luz del Fuego, no chamado Teatro de Revista - um gênero caracterizado por esquetes ligadas por um tema comum que entremeava dança, música, encenação, carregado de representações da cultura popular e humor. Algumas performances, como as de Luz del Fuego, aproximavam-se bastante do gênero burlesco, do qual vemos registros efetivos no Brasil, em 1990, mas que já era encontrado desde o Século XIX em teatros de variedades europeus.
Destemida. Feito para chocar e movimentar os acomodados aos padrões sociais restritivos, o teatro apresentado por Dercy Gonçalves, em um país marcadamente refratário aos espetáculos desse tipo, não poderia terminar de outra forma: frequentemente suspensa, a atriz enfrentou várias vezes problemas com juizados de menores, delegados de polícia e demais autoridades supostamente “guardiãs” da moral e dos bons costumes (Correio do Povo). Não! Fazer a recatada não era a sua praia.
Desbravadora. Nascida na pequena cidade de Santa Maria Madalena (RJ), neta de negros e índios, ela e irmãs criadas pelo pai alcoólatra e violento, de onde sairia “fugida” para integrar uma companhia de teatro, aos poucos foi conquistando seu lugar no Brasil. Passou pelos teatros Carlos Gomes, Jardel, Recreio, no Rio de Janeiro. Além disso, fazia apresentações no Teatro Santana, em São Paulo (Fon Fon). Depois de viajar para Argentina, Venezuela e, sobretudo, para Portugal, a atriz incrementou ainda mais seus musicais, aprofundando a comicidade e as críticas sociais em seus epetáculos. Ao criar a Cia. de Revista Dercy Gonçalves passou a, além de atuar, dirigir e produzir seus próprios espetáculos. Com isso, dava oportunidade aos jovens talentos de iniciarem suas carreiras, incentivando o entretenimento e a cultura nacional.
Irreverente. Como já falamos antes, o humor era sua marca. Mestre da improvisação e do riso frouxo, a marca principal de Dercy Gonçalves aproveitar, ao máximo, seu tempo de comédia. Uma das primeiras mulheres brasileiras a dedicar-se a esse estilo de atuação, suas peças e filmes, até hoje, são referências fundamentais para quem deseja conhecer, especialmente, seu domínio de palco e improvisação (O Cruzeiro).
Versátil. Não havia personagem, ou cena, que permanecesse da mesma forma, nas mãos de Dercy. Lucrécia (O Cruzeiro), A Dama das Camélias (O Cruzeiro), Miloca (O Cruzeiro), A Tarada (O Cruzeiro), etc. Cada apresentação, sua versatilidade transformava as personagens, com seus improvisos, domínio de palco, fazendo com que nenhum espetáculo fosse igual ao outro. De tal modo que sua atuação, apesar da análise crítica de Lúcia Benedetti, chegou a ser comparada à Commédia dell’arte (Leitura).
Dedicada. Não é fácil fazer humor. O gênero, que abarca a sátira, o sarcasmo, a ironia, a paródia mas, também, a tragédia, depende da dedicação e do profissionalismo de quem opta por seguir esse caminho. A comédia, ou seja, o humor em movimento através da interpretação do artista, pressupõe extremo domínio e estudo da figura que será parodiada, ironizada, satirizada, trágica. E Dercy era dessas: uma mestra da sátira, capaz de explorar os mínimos detalhes do humor em seus personagens (Leitura).
Elogiada. Sim! Muitos foram os elogios a sua atuação. Ao dinamismo, maestria na improvisação e domínio de palco, irreverência. Foi, inclusive, tema do Carnaval Carioca no ano de 1991 - "Bravíssimo - Dercy Gonçalves, o retrato de um povo" -, na estreia da agremiação Unidos do Viradouro, do município de Niterói-RJ, no grupo especial, em um emocionante desfile em que ela apareceu, claro, de seios de fora (Manchete). Caso contrário, não seria a Dercy, gente!
Eterna. A longevidade de sua atuação profissional, que durou 86 anos, foi reconhecida pelo Guinness Book que a designou como atriz com maior carreira na história mundial. Seu legado cultural constitui-se de 26 filmes, 23 programas de TV e novelas, e participação em mais de uma centena de peças, entre atuação, direção artística, direção musical, produção. Sua trajetória foi descrita em biografia de Maria Adelaide Amaral (Manchete). Recebeu, em 1985, o Prêmio Mambembe de Melhor Personagem de Teatro. Bravo, Dercy!
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Ousada. Dercy, que começou sua carreira jovenzinha - reza a lenda que fugiu de casa com a Cia. “Maria Castro”, teatro mambembe (O Cruzeiro), escandalizando meio mundo, típico da Dercy -, nos primórdios da década de 1930, logo descambou para o humor em suas atuações. Mas não qualquer humor. Era o humor temperado com sal grosso: ousado, irreverente, pesado, pornográfico, chocante. Mas fazia rir (O Cruzeiro). E muito!! Abalava as regras de uma parcela conservadora, de moralidade bastante duvidosa, que insistia em tomar conhecimento de suas peças. Veio para quebrar padrões ou, na gíria atual, causar.
Notável. Em sua carreira, que já aparece na mídia impressa nos primeiros anos da década de 1930 (A Batalha), contracenou com Oscarito, Linda Batista, Luz del Fuego, no chamado Teatro de Revista - um gênero caracterizado por esquetes ligadas por um tema comum que entremeava dança, música, encenação, carregado de representações da cultura popular e humor. Algumas performances, como as de Luz del Fuego, aproximavam-se bastante do gênero burlesco, do qual vemos registros efetivos no Brasil, em 1990, mas que já era encontrado desde o Século XIX em teatros de variedades europeus.
Destemida. Feito para chocar e movimentar os acomodados aos padrões sociais restritivos, o teatro apresentado por Dercy Gonçalves, em um país marcadamente refratário aos espetáculos desse tipo, não poderia terminar de outra forma: frequentemente suspensa, a atriz enfrentou várias vezes problemas com juizados de menores, delegados de polícia e demais autoridades supostamente “guardiãs” da moral e dos bons costumes (Correio do Povo). Não! Fazer a recatada não era a sua praia.
Desbravadora. Nascida na pequena cidade de Santa Maria Madalena (RJ), neta de negros e índios, ela e irmãs criadas pelo pai alcoólatra e violento, de onde sairia “fugida” para integrar uma companhia de teatro, aos poucos foi conquistando seu lugar no Brasil. Passou pelos teatros Carlos Gomes, Jardel, Recreio, no Rio de Janeiro. Além disso, fazia apresentações no Teatro Santana, em São Paulo (Fon Fon). Depois de viajar para Argentina, Venezuela e, sobretudo, para Portugal, a atriz incrementou ainda mais seus musicais, aprofundando a comicidade e as críticas sociais em seus epetáculos. Ao criar a Cia. de Revista Dercy Gonçalves passou a, além de atuar, dirigir e produzir seus próprios espetáculos. Com isso, dava oportunidade aos jovens talentos de iniciarem suas carreiras, incentivando o entretenimento e a cultura nacional.
Irreverente. Como já falamos antes, o humor era sua marca. Mestre da improvisação e do riso frouxo, a marca principal de Dercy Gonçalves aproveitar, ao máximo, seu tempo de comédia. Uma das primeiras mulheres brasileiras a dedicar-se a esse estilo de atuação, suas peças e filmes, até hoje, são referências fundamentais para quem deseja conhecer, especialmente, seu domínio de palco e improvisação (O Cruzeiro).
Versátil. Não havia personagem, ou cena, que permanecesse da mesma forma, nas mãos de Dercy. Lucrécia (O Cruzeiro), A Dama das Camélias (O Cruzeiro), Miloca (O Cruzeiro), A Tarada (O Cruzeiro), etc. Cada apresentação, sua versatilidade transformava as personagens, com seus improvisos, domínio de palco, fazendo com que nenhum espetáculo fosse igual ao outro. De tal modo que sua atuação, apesar da análise crítica de Lúcia Benedetti, chegou a ser comparada à Commédia dell’arte (Leitura).
Dedicada. Não é fácil fazer humor. O gênero, que abarca a sátira, o sarcasmo, a ironia, a paródia mas, também, a tragédia, depende da dedicação e do profissionalismo de quem opta por seguir esse caminho. A comédia, ou seja, o humor em movimento através da interpretação do artista, pressupõe extremo domínio e estudo da figura que será parodiada, ironizada, satirizada, trágica. E Dercy era dessas: uma mestra da sátira, capaz de explorar os mínimos detalhes do humor em seus personagens (Leitura).
Elogiada. Sim! Muitos foram os elogios a sua atuação. Ao dinamismo, maestria na improvisação e domínio de palco, irreverência. Foi, inclusive, tema do Carnaval Carioca no ano de 1991 - "Bravíssimo - Dercy Gonçalves, o retrato de um povo" -, na estreia da agremiação Unidos do Viradouro, do município de Niterói-RJ, no grupo especial, em um emocionante desfile em que ela apareceu, claro, de seios de fora (Manchete). Caso contrário, não seria a Dercy, gente!
Eterna. A longevidade de sua atuação profissional, que durou 86 anos, foi reconhecida pelo Guinness Book que a designou como atriz com maior carreira na história mundial. Seu legado cultural constitui-se de 26 filmes, 23 programas de TV e novelas, e participação em mais de uma centena de peças, entre atuação, direção artística, direção musical, produção. Sua trajetória foi descrita em biografia de Maria Adelaide Amaral (Manchete). Recebeu, em 1985, o Prêmio Mambembe de Melhor Personagem de Teatro. Bravo, Dercy!
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