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Folclore Brasileiro | Dia do Saci - 31 de outubro

31 out 2021

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Dia 31 de outubro comemora-se, em algumas cidades do interior de São Paulo, Minas Gerais, Ceará e Espírito Santo, o Dia do Saci. Mas você conhece a história do Saci? E o Folclore Brasileiro? Convido o leitor a olhar mais de perto alguns desses elementos presentes na cultura nacional!

O folclore brasileiro, cuja data de celebração é dia 22 de agosto, é composto por lendas, contos, mitos e histórias, especialmente, sobre criaturas e seres fantásticos que habitam o imaginário de povos tradicionais de diversas regiões do país. Foi concebido com base nas heranças culturais de indígenas, africanos e portugueses. Vários intelectuais brasileiros, notadamente a partir do século XIX, dentre eles Monteiro Lobato, Pereira da Costa, Cornélio Pires, são responsáveis por estudar tais lendas e tradições populares.

Diverso e rico, além das histórias, costumes e lendas de personagens criados a partir das tradições culturais daqueles povos, o nosso folclore é composto, ainda, por festas, brincadeiras, crenças, comidas típicas e outros costumes que eram transmitidos oralmente entre as diferentes gerações.

Das festas, podemos citar as comemorações juninas, a Folia de Reis, a Festa do Divino, o Carnaval. Junto com o Saci, as principais lendas e personagens que constituem a riqueza da nossa cultura nacional são: o Boto-cor-de-rosa, o Boitatá, o Boi Bumbá, o Curupira, a Iara, dentre outros. Vejamos, brevemente, algumas das curiosidades sobre esses outros personagens:
* Boto-cor-de-rosa: os botos são carnívoros cetáceos que vivem nos rios amazônicos. De acordo com a lenda, durante as festas juninas, o boto se transforma em um rapaz elegantemente vestido de branco e sempre com um chapéu para cobrir a grande narina que não desaparece do topo de sua cabeça com a transformação. Esse rapaz seduz as moças desacompanhadas, levando-as para o fundo do rio e, em alguns casos, as engravidando (Careta, http://memoria.bn.br/DocReader/083712/90618 e http://memoria.bn.br/DocReader/083712/63388).

*Boitatá: de origem Tupi-Guarani é uma designação popular para a inflamação espontânea de gases resultantes da decomposição de matéria orgânica, conhecida como do fogo-fátuo. O Boitatá é um mito indígena, caracterizado por uma serpente de fogo, ou de luz, de olhos graúdos e também era chamado de “fogo que corre” - seu intuito seria desorientar e queimar invasores das florestas, protegendo-a de desmatadores, caçadores e outros. De acordo com a lenda, uma pessoa que fixar os olhos no Boitatá, corre o risco de ficar louca e cega (Revista Brasileira de Cultura).

*Boi Bumbá: Lenda que deu origem a uma festa, o Boi Bumbá recebe os mais variados nomes, de acordo com a região em que ocorre a celebração. Pode ser Bumba meu boi, Boi Pintadinho, Boi de Reis, Boi Surubi, Boi Calemba, Boi de Mamão. Segundo a lenda, o melhor boi de uma fazenda teria sido sacrificado por um escravo que queria satisfazer o desejo de sua mulher grávida, por comer uma língua de boi. O senhor dos escravos conseguiu, com a ajuda de um curandeiro da região, ressuscitar o boi e, com isso, perdoou seus escravos, comemorando a vida do animal com uma grande festa (O Cruzeiro).

*Curupira: de origem indígena, é uma das primeiras lendas registradas pelos portugueses e logo se espalhou por todo o país. Caracteriza-se por um menino/homem pequeno, de cabelos de fogo e pés voltados para trás, guardião das florestas e protetor dos animais. Dotado de uma força física sobrenatural, apesar do seu pequeno porte, usa esse poder para punir quem entra na floresta com intuito de a destruir (Revista Brasileira de Folclore).

*Iara: A lenda da Iara foi criada no universo cultural Tupi-Guarani e caracteriza-se por uma poderosa índia que esbanjava beleza por onde passava. Incomodados com sua beleza, seus irmãos a emboscaram, tantando afogá-la, mas foram surpreendidos com a força da índia, que conseguiu escapar da armadilha e reverteu a situação, matando os seus perseguidores. Seu pai, revoltado com a índia, a lançou no encontro dos Rio Negro e Solimões, como forma de punição por ter matado os seus irmãos. A índia teria sido salva pelos peixes e transformada em sereia. A Iara é representada por uma bela sereia que atrai homens, com o seu irresistível canto, para o fundo dos rios, local de onde eles não voltam nunca mais (A Cigarra e O Cruzeiro).

Vamos, agora, nos deter um pouco mais sobre o personagem comemorado no dia 31 de outubro: o Saci! Esse menino negro que se locomove aos pulos, em uma perna só, também conhecido como Saci Pererê, é uma das lendas mais conhecidas. Travesso e ágil, habita e protege as florestas e ganhou um barrete vermelho e um cachimbo, semelhante ao de um preto velho, em uma relação à luta negra por sua liberdade. O nome Saci pode ser, ainda, referência a uma ave insetívora, arisca, solitária e de cântico triste, considerada mau sinal para quem a avistasse (Fauna).

A lenda do Saci surgiu no Sul do Brasil, foi influenciada por elementos das culturas africana e indígena, e ficou nacionalmente conhecida por influência de Monteiro Lobato, que a popularizou em obras como O Sítio do Picapau Amarelo (Correio Braziliense). Teria sido também figura heróica nas historinhas da revista em quadrinhos O Guri (A Cigarra). Caindo no gosto popular, a figura também foi imortalizada pelos traços de Ziraldo, nas divertidas historinhas da Turma do Pererê (A Cigarra, http://memoria.bn.br/DocReader/003085/65030 e http://memoria.bn.br/DocReader/003581/127020) e, até mesmo, a crítica literária de Rachel de Queiroz se rendeu às historinhas de Ziraldo, congratulando-o pela rememoração de um dos mais queridos personagens do folclore brasileiro (O Cruzeiro).

O personagem protagonizou, ainda, desenhos animados além de fazer aparições, com suas traquinagens costumeiras, no programa Sítio do Picapau Amarelo, baseado na obra homônima de Monteiro Lobato. Ganhou até um selo, bem valorizado diga-se de passagem, pelos correios brasileiros (Manchete).

De tão querido, o travesso e pulante Saci acabou por mobilizar um debate - iniciado na cidade de São Luiz do Paraitinga, interior de São Paulo, sobre a criação de um dia em sua homenagem (Jornal do Commércio). Vários municípios aderiram à comemoração e escolheram o dia 31 de outubro para o personagem. Esse dia coincide com o chamado Dia das Bruxas (Halloween), uma comemoração de origem Celta que foi apropriada pela cultura estadunidense e chegou ao Brasil, mais fortemente, na segunda metade do século XX - tal qual uma travessura típica do Saci, a data teria sido escolhida propositalmente para tentar suplantar a comemoração “importada”.

O objetivo seria instituir uma comemoração nacional, com projeto de Lei que tramitou na câmara entre os anos de 2003-2004. Entretanto, somente alguns Estados, onde as lendas do Saci são mais ativas no imaginário cultural, transformaram oficialmente a data em um dia festivo, como Minas Gerais (Jornal do Commércio) e São Paulo (Correio Braziliense).

Explore outros documentos:

Jornal do Commércio (AM)


Jornal do Commércio (RJ)


Correio Braziliense

http://memoria.bn.br/DocReader/028274_05/81748

http://memoria.bn.br/DocReader/028274_05/112632

http://memoria.bn.br/DocReader/028274_05/142961

http://memoria.bn.br/DocReader/028274_05/207138


O Cruzeiro

http://memoria.bn.br/DocReader/003581/122035

http://memoria.bn.br/DocReader/003581/207617

http://memoria.bn.br/DocReader/003581/145441

http://memoria.bn.br/DocReader/003581/185907


Fauna


O Fluminense


Jornal do Brasil

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_12/142331

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_12/145335

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_12/185568

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_12/187405


Tribuna da Imprensa


O Município

http://memoria.bn.br/DocReader/891720/53274

http://memoria.bn.br/DocReader/891720/45181



Dia do Saci - Correio Braziliense.