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Literatura | Charles Dickens e o espírito de Natal

25 dez 2020

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Quando o Natal se aproxima, com sua ronda de alegria e encantamento, sentimos uma necessidade maior de poesia íntima, poesia que nos prepare para os instantes solenes que a data mais bela inspira a todos os homens. Eis um bom momento para recorremos a Dickens, como suporte literário, para revitalizarmos nossas esperanças na fonte de sua ternura unânime.

Dickens deteve-se e alongou-se sobre o significado desta celebração que aceitou sem pestanejar como uma fonte de satisfação e de felicidade. Inclinou-se sensivelmente, não importa se conscientemente ou não, para um modo todo católico de encarar o espírito da comemoração da única festa verdadeiramente universal.

Dado seu ódio à injustiça, revolta perante à brutalidade e à prepotência, repugnância pela sensualidade bestial sob qualquer de suas formas, fica claro que Dickens foi profundamente afetado pela Natividade, que já contém em embrião o dito inigualável "AMA A TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO". No seu conto de Natal, ele nos dá um exemplo desse espírito de comunhão e solidariedade, ainda que, tardiamente manifestado:

"Ebenezer Scrooge, um homem de negócios, recebe a visita do fantasma do seu falecido sócio Jacob Marley, condenado no além a grandes sofrimentos e penitências atrozes em razão de sua má conduta terrena. Scrooge tenta confortar o destidoso Marley, dizendo que ele tinha sido um excelente homem de negócios, ao que a desventurada alma rebate com grande arrependimento: Negócios! Deveria ter sido mais humano. O bem estar geral, a caridade, a piedade, a compaixão, o perdão e a benevolência é que deveriam ter sido a minha missão."


Para Dickens, não há Natal onde não é vivida interiormente a necessidade de salvação. Por isso mesmo, todos os tipos e personagens que criou eram passíveis de redenção. A figura central do mais famoso conto de Natal até hoje escrito, o velho Scrooge, recebeu a benção redentora através de uma sublimidade moral instantânea. Num abrir e fechar de olhos percorreu o seu caminho de Damasco. A bem-aventurança eterna passou a ser sua apesar de ter levado uma existência toda de crueldades e indignidades. Numa palavra, arrependeu-se...e recebeu a salvação.

Em sua "Vida de Charles Dickens", John Forster escreveu que "Dickens identifica-se completamente com o panorama do Natal. Toda essa vida, esse espírito de risonha abundância, pertencem-lhe." O famoso romancista da era vitoriana sabia que não somos nós, apesar de nossa turbulenta atividade visível, que fazemos o Natal. É Deus que o faz para nós, que o renova, que o repete. Para ele, viver o Natal é optar sempre e nitidamente entre as hospedarias do mundo que rejeitaram o menino Deus e a humilde gruta que o acolheu.

Saiba mais:

Brito Broca, Dickens, romancista infantil

Paulo Cabral, Dickens e o Natal

F. Matanía, Um Natal com Charles Dickens

Ignez Teltscher, Charles Dickens