Literatura | O talentoso Paulo Setúbal
por Raquel Ferreira
08 ago 2020
Artigo arquivado em Literatura
e marcado com as tags Escritores Brasileiros, Literatura Brasileira, Paulo Setubal
Nascido em Tatuí, São Paulo, no ano de 1893, Paulo Setúbal de Oliveira veio a tornar-se um dos autores mais lidos em sua contemporaneidade. Advogado, jornalista, ensaísta, poeta e romancista, aos 41 anos foi eleito para a Cadeira 31 da Academia Brasileira de Letras, na sucessão de João Ribeiro.
Sua incursão, ainda bem jovem, nos meios jornalísticos, se deu durante a década de 1910. Em 1911, aos 18 anos, assumiu temporariamente a direção da revista O Pirralho (http://memoria.bn.br/DocReader/213101/226), produzindo os números 16 a 20 da publicação. Descrito como talentoso, permaneceu na revista até 1912 como redator secretário. Nos anos seguintes, colaborava com a revista publicando seus poemas.
Aos 21 anos, mesmo ano de sua formatura faculdade de Direito, em São Paulo, um de seus poemas foi publicado na primeira página do jornal A Tarde. O jovem advogado e jornalista, influenciado pelos filósofos clássicos Kant, Spinoza, Rousseau, Schopenhauer, Voltaire e Nietzsche, dedica-se, assim, ao mundo das letras, alternando-se entre o trabalho como advogado, a escrita de poemas, a colaboração em revistas importantes a sua época, e as participações em saraus, como os da revista A Cigarra
(http://memoria.bn.br/DocReader/830453/581, http://memoria.bn.br/DocReader/003085/532) e a festa no Theatro Municipal de São Paulo, em 1921, momento em que participou com a leitura do texto Saci Perere, de Monteiro Lobato (http://memoria.bn.br/DocReader/830453/5104).
Em 1918, foi acometido de “febre pneumônica” (O Combate, http://memoria.bn.br/DocReader/830453/1570), gerando uma condição de saúde frágil e que gradualmente se agrava, evoluindo para uma tuberculose nos anos que seguem. Por conta dessa situação, é levado a diminuir, frequentemente, o ritmo de trabalho. Até que, em 1926, precisa recusar participação no Estado de S. Paulo.
Foi continuamente elogiado por sua escrita talentosa, dentre eles, destacamos o publicado por Manoel Victor, em crítica literária sobre a obra Alma Cabocla:
“A sua ‘Alma Cabocla’ que, ha quasi dois annos, tomou conta do nosso mercado de literatura, ficou morando em todos os lares como parte das nossas bibliothecas de singeleza. Ali está synthetizada, num relance extraordinario de poesia, toda a história da nossa vida rural, os scenarios das nossas fazendas, os pedaços mais lyricos dos nossos sertões.”[mantivemos as grafias originais]
(Vida Moderna)
Mas não só pela escrita, mas sua graça, e inteligência seriam também cobiçadas pelas moças "casadoiras" de sua época:
“O Ideal de “Cupido”
Eu queria ter para maridinho um rapaz que possuísse: a belleza do Mario Alves; a graça e o talento do Paulo Setubal; o nervosismo do Zico; a pintinha do Romeu […]. Depois, com todos esses dotes, queria casar-me com o meu bem”.[mantivemos as grafias originais]
(A Cigarra)
Foi colaborador das revistas Panoplia e A Cigarra, ao lado de nomes como Affonso d’E. Taunay, Coelho Neto, Humberto de Campos, Cornélio Pires, Olavo Bilac, Annita Malfati. Imerso em uma geração de intelectuais que pensava a formação da cultura brasileira, de suas origens e identidades, tornou o regionalismo a marca de sua poesia e prosa. Com ares parnasianos, seus poemas caracterizavam o caboclo, o camponês, as mulheres, em uma escrita lirica e doce, de acordo com seus críticos literários:
“Vida Camponea
Como um caboclo bem rude,
Eu vivo aqui, nesta paz,
Recuperando a saúde,
Que eu esbanjei, quanto pude,
Nas tonteiras de rapaz…
Mal surge o primeiro raio
Da aurora rubra e louçã,
Eu monto um fogoso baio,
E, todo lepido, saio
Pelo esplendor da manhã
(…)
Volto… Os caboclos, no eito,
Vão desbastando os joaz…
E eu venho tão satisfeito,
Como si houvesse em meu peito
Um baile de tangarás!”
[mantivemos a grafia original]
(A Cigarra)
No mundo da prosa, ganhou notoriedade pelos romances históricos: Marquesa de Santos (1925), um sucesso de vendas, segundo A Cigarra, O Príncipe de Nassau (1926), dentre outros. Entretanto, conforme crítica publicada no jornal O Combate, com o argumento de que sua aproximação com a política o havia desviado do foco de seu talento literário, o gênero do romance histórico, almejado pelo autor, deveria ainda ser aperfeiçoado por ele(http://memoria.bn.br/DocReader/830453/10164).
O falecimento do intelectual, aos 44 anos, em 4 de maio de 1937, foi noticiado pelo Correio Paulistano, que mais uma vez exaltava as qualidades da escrita e da obra de Paulo Setúbal.
Anos mais tarde, Adolfo Aizen, criador da Editora Brasil América Limitada (EBAL), quadrinizou para a série de Histórias em Quadrinhos “ Coleção Edição Maravilhosa”, a obra O Sonho das Esmeraldas (1935). A publicação, que coincidia como mês de falecimento de Paulo Setúbal, se deu em maio de 1955.
* A Coleção Edição Maravilhosa encontra-se em tratamento para futura disponibilização em meio físico, quando a Fundação Biblioteca Nacional retornar às suas atividades presenciais
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Fotos de Paulo Setúbal:
Vida Moderna
A Cigarra
Poemas:
O Pirralho
Maria
Página intima
On revient toujours
Branca
A Cigarra
Num Album
Meu ineffavel amigo
Amores loucos
D.Rozita
Na Fazenda
Vida Camponea
Chiquita
NhoJoão, o Tropeiro
Panoplia
Uma Senhora
Illustração Paulista
Canneta de Ouro
Num Postal
Num Leque
Vida Moderna
Minha terra
Sua incursão, ainda bem jovem, nos meios jornalísticos, se deu durante a década de 1910. Em 1911, aos 18 anos, assumiu temporariamente a direção da revista O Pirralho (http://memoria.bn.br/DocReader/213101/226), produzindo os números 16 a 20 da publicação. Descrito como talentoso, permaneceu na revista até 1912 como redator secretário. Nos anos seguintes, colaborava com a revista publicando seus poemas.
Aos 21 anos, mesmo ano de sua formatura faculdade de Direito, em São Paulo, um de seus poemas foi publicado na primeira página do jornal A Tarde. O jovem advogado e jornalista, influenciado pelos filósofos clássicos Kant, Spinoza, Rousseau, Schopenhauer, Voltaire e Nietzsche, dedica-se, assim, ao mundo das letras, alternando-se entre o trabalho como advogado, a escrita de poemas, a colaboração em revistas importantes a sua época, e as participações em saraus, como os da revista A Cigarra
(http://memoria.bn.br/DocReader/830453/581, http://memoria.bn.br/DocReader/003085/532) e a festa no Theatro Municipal de São Paulo, em 1921, momento em que participou com a leitura do texto Saci Perere, de Monteiro Lobato (http://memoria.bn.br/DocReader/830453/5104).
Em 1918, foi acometido de “febre pneumônica” (O Combate, http://memoria.bn.br/DocReader/830453/1570), gerando uma condição de saúde frágil e que gradualmente se agrava, evoluindo para uma tuberculose nos anos que seguem. Por conta dessa situação, é levado a diminuir, frequentemente, o ritmo de trabalho. Até que, em 1926, precisa recusar participação no Estado de S. Paulo.
Foi continuamente elogiado por sua escrita talentosa, dentre eles, destacamos o publicado por Manoel Victor, em crítica literária sobre a obra Alma Cabocla:
“A sua ‘Alma Cabocla’ que, ha quasi dois annos, tomou conta do nosso mercado de literatura, ficou morando em todos os lares como parte das nossas bibliothecas de singeleza. Ali está synthetizada, num relance extraordinario de poesia, toda a história da nossa vida rural, os scenarios das nossas fazendas, os pedaços mais lyricos dos nossos sertões.”[mantivemos as grafias originais]
(Vida Moderna)
Mas não só pela escrita, mas sua graça, e inteligência seriam também cobiçadas pelas moças "casadoiras" de sua época:
“O Ideal de “Cupido”
Eu queria ter para maridinho um rapaz que possuísse: a belleza do Mario Alves; a graça e o talento do Paulo Setubal; o nervosismo do Zico; a pintinha do Romeu […]. Depois, com todos esses dotes, queria casar-me com o meu bem”.[mantivemos as grafias originais]
(A Cigarra)
Foi colaborador das revistas Panoplia e A Cigarra, ao lado de nomes como Affonso d’E. Taunay, Coelho Neto, Humberto de Campos, Cornélio Pires, Olavo Bilac, Annita Malfati. Imerso em uma geração de intelectuais que pensava a formação da cultura brasileira, de suas origens e identidades, tornou o regionalismo a marca de sua poesia e prosa. Com ares parnasianos, seus poemas caracterizavam o caboclo, o camponês, as mulheres, em uma escrita lirica e doce, de acordo com seus críticos literários:
“Vida Camponea
Como um caboclo bem rude,
Eu vivo aqui, nesta paz,
Recuperando a saúde,
Que eu esbanjei, quanto pude,
Nas tonteiras de rapaz…
Mal surge o primeiro raio
Da aurora rubra e louçã,
Eu monto um fogoso baio,
E, todo lepido, saio
Pelo esplendor da manhã
(…)
Volto… Os caboclos, no eito,
Vão desbastando os joaz…
E eu venho tão satisfeito,
Como si houvesse em meu peito
Um baile de tangarás!”
[mantivemos a grafia original]
(A Cigarra)
No mundo da prosa, ganhou notoriedade pelos romances históricos: Marquesa de Santos (1925), um sucesso de vendas, segundo A Cigarra, O Príncipe de Nassau (1926), dentre outros. Entretanto, conforme crítica publicada no jornal O Combate, com o argumento de que sua aproximação com a política o havia desviado do foco de seu talento literário, o gênero do romance histórico, almejado pelo autor, deveria ainda ser aperfeiçoado por ele(http://memoria.bn.br/DocReader/830453/10164).
O falecimento do intelectual, aos 44 anos, em 4 de maio de 1937, foi noticiado pelo Correio Paulistano, que mais uma vez exaltava as qualidades da escrita e da obra de Paulo Setúbal.
Anos mais tarde, Adolfo Aizen, criador da Editora Brasil América Limitada (EBAL), quadrinizou para a série de Histórias em Quadrinhos “ Coleção Edição Maravilhosa”, a obra O Sonho das Esmeraldas (1935). A publicação, que coincidia como mês de falecimento de Paulo Setúbal, se deu em maio de 1955.
* A Coleção Edição Maravilhosa encontra-se em tratamento para futura disponibilização em meio físico, quando a Fundação Biblioteca Nacional retornar às suas atividades presenciais
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Vida Moderna
A Cigarra
Poemas:
O Pirralho
Maria
Página intima
On revient toujours
Branca
A Cigarra
Num Album
Meu ineffavel amigo
Amores loucos
D.Rozita
Na Fazenda
Vida Camponea
Chiquita
NhoJoão, o Tropeiro
Panoplia
Uma Senhora
Illustração Paulista
Canneta de Ouro
Num Postal
Num Leque
Vida Moderna
Minha terra
