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Literatura | Proezas de Luís Jardim

17 jan 2022

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Conhecido tanto por seu trabalho como escritor quanto pelo talento no campo das artes gráficas, Luís Jardim (Garanhuns, PE, 1901 – Rio de Janeiro, RJ, 1987) foi um autodidata, que jamais frequentou escolas de desenho ou pintura.

Em 1917, concluídos os primeiros estudos, o jovem perdeu o pai, assassinado na chamada “hecatombe de Garanhuns” – uma chacina motivada por disputas políticas, que culminou na morte de dezoito pessoas, entre elas três membros da família Jardim. No ano seguinte, Luís e sua mãe se mudaram para Recife. Lá, o rapaz trabalhou como caixeiro e escriturário, estudou gramática por conta própria e teve aulas particulares de Inglês, o que, na opinião de Gilberto Freyre, “valeu, para ele, quase como um substituto do curso superior”.

Em 1926, Luís Jardim faria suas primeiras contribuições à indústria gráfica. Colaborou com a “Revista do Norte” e com o jornal “A Província” e estreou na literatura em 1927, no tabloide “Frei Caneca”, com uma crônica sobre a falta de diversões no Recife.

Veja um desenho de Jardim no jornal “A Província”, de Pernambuco, 1928. O tema, aqui, também é a cidade de Recife.

Segundo o pesquisador Bruno Veríssimo, a primeira exposição de Luís Jardim teve lugar em 1929. Nessa época, ele se tornara muito próximo de artistas e intelectuais pernambucanos, tais como Manuel Bandeira e Gilberto Freyre – o último foi padrinho de seu casamento com Alice, filha do comerciante português José Ferreira Alves. Conta Edson Nery que Luís Jardim datilografou “Casa Grande e Senzala” conforme ia sendo ditado por Freyre. Em 1934, os dois foram colaboradores num livro que Veríssimo afirma ter sido pioneiro, por se tratar da primeira obra brasileira destinada a bibliófilos. Trata-se do “Guia Prático, Histórico e Sentimental da Cidade do Recife”, publicado em uma tipografia de nome “The Propagandist”, com apenas 105 exemplares em cujas capas Luís Jardim pintou, uma a uma, miniaturas aquareladas, além de ser responsável pela diagramação e vinhetas. A Divisão de Obras Gerais da Biblioteca Nacional possui um exemplar da primeira edição do livro, que, contudo, não foi digitalizado.

Após mais uma exposição artística de sucesso -- dessa vez no Rio de Janeiro, para onde se mudara com a esposa em 1936 --, chegou a vez de Luís Jardim estrear como ficcionista. E o fez em grande estilo, conquistando o primeiro e o segundo prêmios do concurso de literatura infantil do Ministério de Educação com “O Boi Aruá”, livro que reúne três novelas baseadas no folclore nordestino, e o livro de imagens “O Tatu e o Macaco”. As duas obras só seriam publicadas em 1940.

Em 1938, mesmo ano em que ilustrou o “Guia de Ouro Preto” de Manuel Bandeira, Luís Jardim publicou o livro de contos “Maria Perigosa”, que recebeu o Prêmio Humberto de Campos num concurso organizado pela Editora José Olympio. Em segundo lugar ficou “Sagarana”, de Guimarães Rosa, que usava o pseudônimo “Viator”. Anos depois, Rosa teria vários livros ilustrados por Luís Jardim.

Leia o conto “Coragem”, do livro “Maria Perigosa”, publicado na “Vamos Lêr!”, 1945.

Leia a crônica “Milagres e Castigos”, escrita e ilustrada por Jardim, publicada no “Diário Carioca”, 1947.

A estreia de Luís Jardim no romance se deu em 1949, com “As Confissões do Meu Tio Gonzaga”. Dez anos depois veio a peça “Isabel do Sertão”, que ganhou o Prêmio Academia Brasileira de Letras. Em 1968, o mesmo prêmio foi conferido a um livro infantil que se tornou best-seller, com inúmeras edições: “Proezas do Menino Jesus”, no qual Jesus e os apóstolos são apresentados como crianças do povo, e os milagres, muitas vezes, como brincadeiras ou travessuras. O livro foi ilustrado pelo autor e saiu com prefácio de Tristão de Athayde.

Veja um anúncio de “Proezas do Menino Jesus”, publicado no Diário de Notícias, em 1968. A obra é elogiada pelo prefaciador, aqui com seu verdadeiro nome.

Leia as impressões de Carlos Drummond de Andrade sobre Luís Jardim, numa crônica publicada no “Diário de Pernambuco”, em 1972.

Luís Jardim ainda escreveria três outros livros infantis, todos ilustrados por ele, além do livro de memórias “Meu Pequeno Mundo” (1977) e do romance “O Ajudante de Mentiroso” (1980). Ao longo de sua carreira, também traduziu “A Morte do Caixeiro-Viajante”, de Arthur Miller, foi redator da revista do Instituto do Açúcar e do Álcool e trabalhou na Editora José Olympio. Morreu dormindo, aos 86 anos, após uma vida dedicada às artes em suas múltiplas manifestações.



Luís Jardim por Jerônymo na revista “Vamos Lêr!”, 1942.