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Literatura | Rachel de Queiroz

04 nov 2020

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Ainda adolescente, a cearense Rachel de Queiroz (1910-2003) começou a escrever para o jornal O Ceará, sob pseudônimo Rita de Queluz. Herdeira de tradições familiares provenientes de família de juristas e ligadas às propriedades de terra da família, Rachel começou a sua instrução escolar ainda em casa. Lia muitos romances, sempre tutelada por sua mãe, dona Clotilde Franklin de Queiroz: de russos como Tolstói e Dostoiévski, passando pelos franceses Victor Hugo e Júlio Verne, portugueses como Eça de Queiroz e, claro, os clássicos brasileiros como Machado de Assis e José de Alencar – esse, segundo a autora, seria um seu parente pelo lado materno.

Já alfabetizada, foi matriculada no Colégio Imaculada Conceição, em Fortaleza/CE, onde viria a se formar professora, aos 15 anos de idade. Sua infância, marcada pelo trágico episódio da seca nordestina de 1915, lhe deu bases para escrever um dos seus mais consagrados romances: O Quinze (1930). Romance notório já em sua primeira edição, a obra foi elogiada por Augusto Schmidt e Mário de Andrade, recebendo o Prêmio Fundação Graça Aranha, em 1931.

Sempre balizada pela pauta social e regionalista, a escrita de Rachel de Queiroz ganhou amplitude quando da sua incorporação pela Editora José Olympio, para quem escreveria romances, contos, traduzia obras estrangeiras, durante as décadas de 1940 a 1970 (O Cruzeiro). A “Casa”, como era conhecida a editora, reunia outros autores de grande peso nacional, como José Lins do Rego, Jorge Amado, Graciliano Ramos. A Editora foi posteriormente comprada pela Record, e Rachel continuaria publicando por ali as suas obras.

Sua trajetória política, entretanto, é bastante controversa. Quando jovem, chegou a participar da fundação do Partido Comunista, em Fortaleza, e a frequentar reuniões trotskistas ao lado de seu primeiro marido. Perseguida por Vargas, foi presa na década de 30. Afastou-se do PC porque teve uma de suas obras cerceada por alguns de seus membros. Posteriormente, já divorciada, viria a se tornar crítica ferrenha ao que entenderia por patrulhamento ideológico - tanto o proveniente de alguns dos segmentos mais radicais do PC, quanto o advindo da linha de extrema direita, atribuída ao varguismo no Brasil daquele momento. A partir da década de 1940, assim, optaria por alinhar-se, juntamente com outros intelectuais da sua geração, a uma corrente nacionalista, anticomunista e antivarguista, que culminaria, na década de 1960, em seu apoio ao Marechal Castelo Branco, quando do golpe civil-militar de 1964.

Participou do Conselho Federal de Cultura, de 1967 a 1989 - quando as atividades do Conselho foram encerradas -, como membro da Câmara de Letras, responsável por emitir pareceres sobre publicações, organização de eventos culturais, criação de bibliotecas, casas de leitura e de cultura, além de publicar ensaios sobre a cultura e personalidades nacionais (Revista de Cultura). Naquela instituição, frequentaria reuniões com intelectuais como Ariano Suassuna, Afonso Arinos e Gilberto Freyre, participantes das Câmaras de Artes, Patrimônio Histórico e Artístico, e Ciências Humanas, respectivamente.

Escritora intensa e multifacetada, Rachel de Queiroz produziria, como jornalista, crônicas para vários veículos de comunicação, ligados a cadeia de impressos de Assis Chateaubriand, os Diários Associados. Encontramos mais de duas mil crônicas na revista O Cruzeiro, publicadas semanalmente durante cerca de 30 anos, e mais alguns milhares publicados no Correio da Manhã, Estado de São Paulo e Diário de Pernambuco.

Em sua opção pela crítica aos radicalismos, sempre argumentava em prol da justiça e igualdade sociais. Em suas obras, como O Quinze (1930), João Miguel (1932), Memorial de Maria Moura (1992) - que foi transformada em série televisiva -, ressaltaria as mazelas sofridas pelo o sertanejo e as referências culturais e identitárias do Nordeste brasileiro.

Sua escrita como cronista, dedicava-se a comentar sobre publicações nacionais e estrangeiras, tal qual uma crítica literária (O Cruzeiro), mas também falava sobre acontecimentos históricos gerais e, vez por outra, usava o canal para as mais variadas críticas, como na crônica A Era do Petróleo, onde dizia-se cansada dos conflitos gerados pelo combustível e esperava a disseminação de fontes mais limpas de energia (O Cruzeiro).

Em reconhecimento a sua vida dedicada à Literatura, além dos inúmeros prêmios literários obtidos, a escritora foi a primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras, para ocupar a Cadeira de Número 5, na sucessão de Cândido Motta Filho, em 1977, bem como a primeira a receber o Prêmio Luiz de Camões , em 1993.

Faleceu em 4 de novembro de 2003, deixando uma herança literária composta por mais de 20 romances, peças teatrais, contos, além de milhares de crônicas, publicadas nas revistas e jornais onde atuou ao longo dos seus mais de 70 anos de carreira literária.

Explore os documentos:

Casa onde Rachel escreveu O Quinze [iconografia]

Casa onde morou Rachel de Queiroz [Iconografia]

Ingresso no Jornal O Povo[iconografia]

Correio da Manhã - Foto


A jovem Rachel de Queiroz