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Livros de Aventura | O Livro da Selva

07 jun 2022

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Embora seja composto por sete contos, das quais apenas três são protagonizados por Mowgli, “O Livro da Selva”, de Rudyard Kipling, se tornou bem mais conhecido pelas histórias que envolvem o Menino-Lobo.

Joseph Rudyard Kipling (Mumbai, 1865 – Londres, 1936) nasceu na Índia, quando esta se encontrava sob o domínio britânico.  Sua mãe, Alice MacDonald Kipling, era escritora e poeta; o pai, John Lockwood Kipling, dirigia e lecionava na Sir Jamsetjee Jeejeebhoy School of Art, a primeira escola de artes plásticas instituída em Mumbai. Como era costume entre os britânicos residentes na Índia, o pequeno Rudyard foi enviado à Inglaterra para estudar, e só em 1882 regressou a Mumbai, onde, segundo ele, “seus anos na Inglaterra se dissiparam”.

Até 1889, Kipling trabalhou em jornais de Lahore, nos quais publicou suas primeiras histórias. Também publicou poemas e coleções de contos, mas ainda não eram os do “Livro da Selva”. Estes só começaram a ser rascunhados em 1892, após o escritor ter viajado pelo Oriente e pelos Estados Unidos, publicado vários contos e artigos e se casado com Carrie Ballestier.

O casal se instalou em Vermont, nos Estados Unidos, e já tinha uma filha quando Kipling publicou as primeiras histórias do “Livro da Selva”. Apareceram em revistas entre 1893 e 1894, ilustradas, entre outros artistas, por John Lockwood Kipling, pai de Rudyard. Em 1894, uma seleção desses textos foi publicada em formato livro pela Macmillan, com o título “The Jungle Book” A obra continha três histórias de Mowgli, o menino criado por lobos na selva indiana; um conto sobre outro menino, Toomai dos Elefantes; e ainda três contos protagonizados por animais. No ano seguinte foi lançado mais um volume, “The Second Jungle Book”, com oito contos, sendo cinco deles sobre Mowgli.

As histórias dos dois “Livros da Selva” foram, em boa parte, inspiradas por contos tradicionais da Índia, contidos em coleções como o Panchatantra  e os Jataka budistas, datados de vários séculos antes de nossa era. Mowgli (que, antes de suas histórias de infância, tinha aparecido como adulto no conto “In the Rukh”, publicado em 1893) pode ter sido inspirado nos vários casos de crianças que cresceram em meio a animais. Sua personalidade e as aventuras imaginadas por Kipling agradaram em cheio aos jovens leitores, que passaram a escrever para o autor a fim de comentar e pedir novas histórias. Por sua vez, vários escritores foram influenciados pelas histórias do Menino-Lobo; este é considerado uma das principais inspirações de Edgar Rice Burroughs para criar Tarzan.

Além de inspirar outros autores e, mais tarde, dar ensejo a adaptações para o cinema, Mowgli ajudou a impulsionar movimentos voltados para a vida ao ar livre. Em 1903, Kipling, que também gostava do contato com a natureza, permitiu o uso de temas ligados ao “Livro da Selva” para o estabelecimento de um acampamento de verão em New Hampshire, e em 1907 o fundador do escotismo, Robert Baden-Powell, também se inspirou nas histórias do Menino-Lobo ao criar seu primeiro grupo – os escoteiros mais jovens são, até hoje, chamados de “lobinhos”.

“O Livro da Selva” ainda não tinha sido traduzido no Brasil quando, em 1927, a história de Mowgli foi resumida na revista “O Tico-Tico”, em matéria destinada à divulgação do escotismo. Leia aqui.

A primeira tradução brasileira foi feita por Monteiro Lobato, que reuniu todos os contos dos dois “Livros da Selva” em um só volume. Este saiu em 1933 pela Companhia Editora Nacional, com o título “Livro da Jângal”, e foi o primeiro da coleção Biblioteca do Espírito Moderno.  No mesmo ano, a Coleção Terramarear, voltada para livros de aventura, publicou um volume contendo apenas as histórias de Mowgli, com o título “Mowgli, o Menino-Lobo”. Outros contos dos dois “Livros da Selva” apareceram em 1934 na mesma coleção, reunidos sob o título “Jacala, o Crocodilo”. Os livros tiveram boa recepção no Brasil e foram importantes na formação de jovens leitores, na década de 1930 e ao longo das seguintes.

Leia um artigo sobre Rudyard Kipling na revista “Vamos Lêr!”, 1937.

Ao contrário de “Tarzan”, adaptado para o cinema poucos anos após o lançamento de suas aventuras em livro, Mowgli só foi levado às telas em 1942. Dirigido por Zoltán Korda, o filme, intitulado “Rudyard Kipling´s Jungle Book” tinha como ator principal o indiano Sabu Dastagir, conhecido apenas como Sabu. Nesse mesmo ano, “O Tico-Tico” publicou “Os Irmãos de Mowgli”, o primeiro conto de “O Livro da Selva”, na tradução de Lobato e ilustrado por Oswaldo Storni. Veja aqui.

Ao longo de sua vida, que foi movimentada e trouxe tanto glórias quanto dificuldades, Rudyard Kipling escreveu muitas outras histórias. Entre as mais famosas estão o conto “O Homem que Queria Ser Rei”, integrante de inúmeras antologias, e o romance de aventura e espionagem “Kim”, lançado em 1901, que alguns consideram sua obra-prima. Também escreveu poemas que se tornaram conhecidos, entre os quais “Se” e o controverso “O Fardo do Homem Branco”, criticado por seu viés etnocêntrico e imperialista. No entanto, são as histórias de Mowgli, constantemente republicadas e impulsionadas por suas várias adaptações para o cinema – em especial o longa-metragem da Disney, de 1967 -- que fazem o autor, vencedor do Prêmio Nobel em 1907 e considerado um dos maiores escritores britânicos de todos os tempos, ser até hoje conhecido pelo grande público.

 



Ilustração de Oswaldo Storni para o conto “Os Irmãos de Mowgli” (“O Tico-Tico”, 1942).