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Memória | A despedida da Taberna da Glória

15 dez 2020

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No tempo da Taberna da Gloria

Em dezembro de 1972, a reforma urbana para a construção do metrô derrubou um dos mais importantes ícones sócio-etílicos da cidade do Rio de Janeiro, a Taberna da Glória. Localizada no quarteirão entre a Rua do Catete e a Rua Antônio Mendes Campos, ficava no caminho da primeira linha de bonde da cidade, que ia da Rua Gonçalves Dias ao Largo do Machado. Um lugar de encontro típico da mística carioca, lugar onde a cultura erudita encontrava-se com a cultura popular. Entre os frequentadores da Taberna estavam Manoel Bandeira, Marques Rebelo, Vinícius de Moraes, Pixinguinha, Chico Alves e Ismael Silva. Foi lá que Aracy de Almeida tomou seu primeiro porre com Noel Rosa; onde Hermínio Bello de Carvalho ouviu, pela primeira vez, a voz potente e sagrada de Clementina de Jesus, que cantava numa roda de amigos na Taberna após vender seus quitutes na festa de Nossa Senhora da Glória. Misturava os habitantes do sagrado e do profano. Durante o dia a Taberna recebia para a hora do lanche militantes católicos do Palácio São Joaquim, o Palácio da Mitra Arquiepiscopal; durante a noite os boêmios e as mariposas vindas dos cabarés tomavam conta e o violão não silenciava até o amanhecer. No Carnaval era o lugar de concentração de vários blocos da região.

O ritual de despedida, o “gurufim” da taberna foi em grande estilo, organizado por antigos frequentadores e pelo Conselho de Música Popular do Museu da Imagem e do Som. Entre “abrideiras” e muitas “saideiras”, encontros e despedidas, muitas histórias foram contadas sobre os seus personagens, famosos e anônimos, que guardaram na memória o espírito da alma carioca.

“Ultimo copo da Taberna da Gloria” Jornal do Brasil 15/12/1972