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Memória | Antonieta de Barros (1901-1952)

05 maio 2021

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e marcado com as tags Antonieta de Barros, Ativistas, Feministas, Jornalistas, Professoras, Santa Catarina

Uma das três primeiras mulheres eleitas no Brasil, se tornou a primeira mulher negra a assumir a presidência da Assembleia Legislativa Catarinense.

Nascida em 11 de julho de 1901, Antonieta era filha de Lourenço Waltrich, proprietário de terras e escravos e da lavadeira Catarina de Barros, ex-escrava que prestava serviços para Vidal Ramos, pai do presidente da República Nereu Ramos, futuro apoiador político de Antonieta.

Antonieta teve a oportunidade de se alfabetizar ainda na infância, condição restrita para pessoas de origem pobre e sob a herança da escravidão. O interesse pelo letramento contou em parte com a influência dos estudantes que circulavam na pensão mantida pela mãe Catarina.

Cursou a escola para formação de normalistas na Escola Lauro Müller, por onde iniciou sua carreira como professora, atuando ao longo da vida em colégios tradicionais da elite brasileira. Em 1922 fundou o Curso primário Antonieta de Barros, externato destinado à alfabetização da população empobrecida. Esteve sob a direção de Antonieta até a sua morte em 1952, continuando em funcionamento até 1964.

Obstinada, pretendia ingressar no curso de Direito, porém sem sucesso, posto que o curso não permitia o ingresso às mulheres. A tentativa frustrada a encorajou a seguir com seu projeto de emancipação feminina, concorrendo a uma vaga para deputada pelo estado de Santa Catarina. Seu ímpeto a permitiu resistir ao racismo sofrido durante a campanha eleitoral de 1934, fato publicado pelo periódico “A Gazeta do Povo” ao anunciar: “Vencendo preconceitos, o partido liberal sufragará nas urnas o nome da culta escriptora [sic] e jornalista Antonieta de Barros’. Foi eleita com 35.484 votos.

Entre as pautas defendidas estavam: a conquista de direitos políticos e sociais para todos por meio do acesso à educação básica e superior, a valorização do professor, oportunidade em que aprova o projeto de lei de criação do dia do professor e a proteção aos jornalistas.

O prestígio de Antonieta estava no seu poder de erudição e nas relações que estabelecia com políticos, intelectuais e sufragistas como a feminista Berta Lutz.“Uma das mais expoentes da inteligência feminina em nosso Estado”, Antonieta reunia escritos sob um viés transformador, fato ilustrado pela dissertação sobre a revolucionária Anita Garibaldi.

Respeitada e admirada por seu espírito de justiça, Antonieta é um exemplo para o movimento negro. Até o ano de 2012, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina contou apenas com a figura de Antonieta como a única mulher negra a ocupar uma cadeira no parlamento. O processo de apagamento da história de Antonieta dá conta de poucos registros sobre a professora, jornalista e deputada. Foi por iniciativa de senadora Ideli Salvatti que a memória da parlamentar vem sendo recuperada. Hoje, o programa voltado para a formação de jovens aprendizes de Santa Catarina recebe o nome Programa Antonieta de Barros, localizado no Palácio Barriga Verde. No rol que figuram a galeria dos deputados que atuaram no parlamento catarinense finalmente se encontra uma fotografia de Antonieta, até então desconhecida.

Na imagem notícia do jornal “Idealista” de 1945, órgão oficial do Instituto de Educação de Florianópolis celebrando a escolha de Antonieta de Barros para o seu grêmio cultural.


O Idealista (SC) 1945

(Seção de Iconografia)