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Memória | Inauguração da Avenida Presidente Vargas

07 set 2021

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A inauguração da Avenida Presidente Vargas no dia 7 de setembro é muito significativa, uma avenida por onde o Brasil desfila sua história. O trajeto da avenida é marco simbólico de acontecimentos fundamentais da história do Brasil: a aclamação de D. Pedro I e D. Pedro II como Imperadores; a proclamação da República pelo Marechal Deodoro; o comício de João Goulart na Central do Brasil logo antes do golpe militar articulado na vizinhança do Ministério do Exército; a passeata dos 100 mil em 1968; a passeata pelas Diretas Já; a passeata dos caras pintadas pelo impeachment de Collor de Mello.

A avenida, inaugurada com os desfiles militares do dia da independência e que inicialmente se chamaria 10 de novembro em homenagem ao golpe que instituiu o Estado Novo, começou a ser construída em 1941 e envolveu a demolição das edificações sobretudo na área entre a Praça Onze e o Campo de Santana. Enquanto a grande imprensa lamentava a destruição do patrimônio colonial que estava no meio do caminho, como a igreja barroca de São Pedro dos Clérigos, os músicos e poetas expressaram seu descontentamento com arte. Foram inúmeros os sambas compostos em torno do fim da Praça Onze, lugar de enorme efervescência cultural da cidade do Rio de Janeiro, conhecida como “o berço do samba”.

A construção da Avenida Presidente Vargas, como informa o Correio da Manhã de 3 de setembro de 1944, foi de extrema importância para “o escoamento do tráfego pela zona norte e grande parte dos subúrbios, o chamado sertão carioca”. A nova era do automóvel significou também a expulsão de uma população e a destruição de um dos lugares de encontro cultural mais significativos da cidade. O mesmo governo que legitimou o samba como instrumento de identidade nacional, destruiu o lugar-ícone deste mesmo samba e os grupos sociais que fizeram a sua história foram forçados se mudar para os subúrbios. A avenida guarda como memória, dialeticamente, a sua história, sintonizando estética e objetivos totalitários e a vitalidade da luta e da cultura popular que nela se atualiza como palco.

(Seção de Iconografia)

Correio da Manhã, 3 de setembro de 1944.