BNDigital

Música | Assis Valente, o baiano carioca

22 mar 2022

Artigo arquivado em Música
e marcado com as tags Assis Valente, Biblioteca Nacional, Secult

Assis Valente era um baiano carioca que, nas horas vagas de seu trabalho como protético, virava um compositor/cronista de costumes e de personagens da época. Compositor irônico, espirituoso, e, ao mesmo tempo, produtor de melodias que não saíam da cabeça das pessoas, mesmo sem saber tocar nenhum instrumento de harmonia.

Carmen Miranda era sua musa e interpretou sucessos antológicos como “Camisa Listrada”, que contava a estória do doutor que se livrou do anel e caiu na folia vestido de mulher; “E o mundo não se acabou” sobre a moça que, pensando que o mundo ia se acabar, aproveitou os últimos momentos “beijando a boca de quem não devia/ pegando na mão de quem não conhecia/ e dançando um samba em trajes de maiô” e “Good Bye, boy”, uma crítica bem humorada a mania do brasileiro em querer usar palavras em inglês.

“Brasil Pandeiro” foi outra composição famosa de Assis Valente que foi rejeitada por Carmem Mirada e acabou gravada pelo grupo Anjos do Inferno. A pequena notável não achou de "bom tom” o verso “Eu quero ver o Tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar”. A música, gravada em 1941, era um samba exaltação diferente, fazendo galhofa com a onda ufanista e patriota da época e com a influência americana. A música voltou a fazer sucesso na década de 1970 com a gravação dos Novos Baianos no disco “Acabou Chorare”. A introdução da música, “Chegou a hora desta gente bronzeada mostrar o seu valor”, era um manifesto do grupo no cenário musical e político da época. A composição de Assis Valente foi apresentada ao grupo por João Gilberto, que pertenceu por algum tempo ao grupo Anjos do Inferno. Esta interpretação de “Brasil Pandeiro” é uma verdadeira genealogia musical baiana, onde samba, bossa nova, samba rock psicodélico, guitarra, bandolim e cavaquinho se misturam. Coisas da música popular brasileira.

(Seção de Iconografia)

Manchete, 1957.