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Música | Clementina de Jesus

07 fev 2021

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Clementina de Jesus (1901-1987) tinha uma voz inigualável, rascante, de timbre forte e rouco, uma voz que tinha a força da terra. Era uma voz ancestral, que cantava com a memória da africanidade. Filha de um violeiro com uma rezadeira que também era jongueira, ela aprendeu com a mãe jongos e cantos de trabalho em dialeto banto, o resto foi nas levadas da vida, nos sambas de terreiro. Este era o tesouro guardado na sua voz.

A voz e a interpretação original, que resgatava canções e ritmos de origem africana, não se enquadravam nos padrões da década de 1960, quando ela despontou para a vida artística. Estava fora de qualquer conceito convencional de beleza vocal e longe da introspecção bossanovista.
Sua primeira aparição em público foi em um recital com o violonista Turíbio Santos no Teatro Jovem, mas o sucesso veio com o show “Rosa de Ouro”, ambos produzidos por Hermínio Bello de Carvalho.

A ideia do show nasceu de uma conversa entre Hermínio e Elton Medeiros no antigo Zicartola, misto de restaurante e casa de samba comandado por Cartola e Dona Zica. O show era uma ode ao samba carioca. No elenco estavam além de Clementina de Jesus, Aracy Cortes (1904-1985), Paulinho da Viola (1942- ), Elton Medeiros (1930-2019), Jair do cavaquinho (1922-1006), Anescarzinho do Salgueiro (1929-2000) e Nelson Sargento (1924- ). O roteiro do show era montado por depoimentos projetados no palco e pelo repertório de personagens seminais do samba carioca: Zé da Zilda, Ismael Silva, Donga, Nelson cavaquinho, Carlos Cachaça e Geraldo Pereira. Todos eles apresentados por figuras ligadas a musica Popular Brasileira como Sergio Porto, Lucio Rangel, Jota Efegê e Sergio Cabral. Foi nesse show histórico que a voz transgressora e potente de Clementina contribuiu de forma fundamental para botar o batuque africano no samba de novo.

(Seção de Iconografia)


Cadê Clementina? No céu. Manchete, 1987