BNDigital

O abolicionista José do Patrocínio

20 nov 2021

Artigo arquivado em Intelectuais Brasileiros
e marcado com as tags Abolicionistas, Brasil Império, Jornalistas, José do Patrocínio, Poeta, Secult

Jornalista, orador, poeta e romancista, José do Patrocínio foi, acima de tudo, uma das principais vozes do abolicionismo no Brasil. Nascido em Campos (RJ), em 9 de outubro de 1853, José do Patrocínio contribuiu com seus escritos contundentes, sua retórica inflamada e seus discursos apaixonados para a causa da abolição da escravidão, à qual dedicou sua vida. Filho do vigário João Carlos Monteiro com a jovem escravizada Justina do Espírito Santo, Patrocínio foi criado como liberto na fazenda do pai, que nunca o reconheceu legalmente, e passou a infância convivendo com os escravizados e testemunhando de perto as agruras de suas vidas. Aos catorze anos, foi para o Rio de Janeiro onde começou a trabalhar e custeou a continuidade dos seus estudos, tendo sido aprovado como aluno de Farmácia da Faculdade de Medicina, concluindo o curso em 1874.

Já no ano seguinte, iniciou sua carreira jornalística, publicando, em parceria com Dermeval da Fonseca, o quinzenário satírico “Os Ferrões”. Os dois colaboradores assinavam com pseudônimos, Fonseca era Eurus Ferrão e Patrocínio, Notus Ferrão. Foi também assinando com pseudônimo que José do Patrocínio (ou Prudhome) começou a assinar a coluna Semana Parlamentar, com a qual começou sua contribuição na Gazeta de Notícias, em 1877. Nos artigos da Gazeta de Notícias, Patrocínio iniciou sua militância, que também se estendeu à sua produção literária. Em 1877 publicou nas páginas do jornal, como folhetim, o romance baseado numa história real “Motta Coqueiro ou a pena de morte”.

Em 1878, foi enviado como correspondente ao Ceará, onde registrou os efeitos da seca que castigava a província, causando a expulsão de milhares de nordestinos de suas terras natais, obrigados a se deslocar por enormes distâncias em busca de sobrevivência. A cobertura foi publicada na Gazeta de Notícias, com o título “Viagem ao Norte” (http://memoria.bn.br/DocReader/103730_01/4118 e http://memoria.bn.br/DocReader/103730_01/4422) e também na revista O Besouro. Suas impressões desta viagem também ensejaram a publicação do romance Os Retirantes.

Na década de 1880, José do Patrocínio se dedicou integralmente à defesa da abolição imediata e sem indenização. Republicano, teve uma relação conflituosa com os partidários da causa por considerar a abolição como prioridade, acima de qualquer outra questão. Fundou, em 1880, juntamente com Joaquim Nabuco, a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, que publicava o jornal O Abolicionista. No mesmo ano, iniciaram-se as Conferências Abolicionistas, onde Patrocínio se destacava como orador apaixonado. As conferências em teatros, juntamente com outras atividades das quais ele participava ativamente - como a promoção de espetáculos, manifestações em praça pública e campanhas para arrecadar fundos para obtenção de alforrias – ajudaram a ampliar o debate e popularizar a discussão em torno da causa abolicionista ao longo da década. Em torno de si, formou-se um grupo de jornalistas e de oradores, entre os quais Ferreira de Meneses (proprietário da Gazeta da Tarde), Joaquim Nabuco, João Clapp, Lopes Trovão, Paula Nei, Teodoro Fernandes Sampaio e Ubaldino do Amaral.

Em maio de 1883, foi um dos articuladores da Confederação Abolicionista, que conseguiu congregar todos os clubes abolicionistas do país, e cujo manifesto redigiu e assinou, juntamente com João Clapp, André Rebouças e Aristides Lobo. Em 1886, foi eleito vereador no Rio de Janeiro, com uma campanha marcada pelo tema da abolição e por comícios populares.

Popular, festejado e aclamado tanto na Corte quanto em visitas a outras províncias e, principalmente, na ocasião da assinatura da lei da abolição, o republicano José do Patrocínio viu seu prestígio cair a partir de então, acusado de apoiar a monarquia. Após a proclamação da República, entrou em conflito com o presidente marechal Floriano, foi preso e deportado para o Amazonas. Seu jornal, Cidade do Rio, teve a publicação suspensa. Após retornar ao Rio, viveu mais discretamente e sem participação política expressiva, até falecer em 29 de janeiro de 1905.

Uma coletânea dos seus artigos publicados nos três periódicos onde atuou pode ser lida.



José do Patrocínio [S.l.: s.n.], [189-?].(acervo Iconográfico/FBN)