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O Cenáculo

31 mar 2015

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e marcado com as tags Literatura, Simbolismo

“Encetamos com o presente fasciculo a publicação do Cenaculo. Fundada embora despretenciosamente por modestos moços estudiosos, - unidos por infima affinnidade de ideas e sentimentos, - não apresentariamos comtudo esta revista á leitura e acceitação vossas, se não lograssemos contar com a valiosa collaboração de conspicuos pensadores e emeritos jornalistas. Assim, inseriremos sempre com prazer em as nossas paginas todo e qualquer trabalho meritorio, uma vez adaptavel á nossa esphera de acção. Apenas recusaremos o anonymato e o pseudonymo (...) Com o inestimável auxilio de nossos collaboradores e vosso criterioso apoio – longe levaremos, triumphantemente, tão benefica e melindrosa incubencia.”

O Cenáculo foi uma revista literária mensal que circulou de abril de 1895 até 1897 na capital paranaense. Foi fundada por Dario Vellozo, Silveira Netto, Julio Pernetta e Antonio Braga. Segundo Nelson Werneck Sodré, a revista representou o surto do Simbolismo em Curitiba: “Folhear-se a coleção é respirar a atmosfera da época, sensível na primazia – em quantidade e qualidade – da poesia sobre a prosa, e em frases como as seguintes: ‘A arte que tem o seu ideal ronda os sonhos pelas porcelanas numa ronda dos sonhos pelas porcelanas do infinito, não suporta os regimes da escola, nem das épocas.’” (p.248)

Movimento literário que surgiu na França em fins do século XIX, o Simbolismo tomou vulto no Brasil na década de 1890, período em que o país passava por grandes transformações, como a abolição da escravatura, em 1888, e a mudança da forma de governo monárquica para a republicana. Os simbolistas praticavam o subjetivismo na poesia e buscavam a musicalidade e o transcendentalismo, distinguindo-se nisso do Realismo e do Parnasianismo, correntes literárias ainda em plena voga.

Os simbolistas também contribuíram muito para a evolução do mercado dos periódicos, pois lançaram grande número de revistas em vários estados do país. No décimo número, no ano de 1896, o editorial veio ratificar o propósito da revista:

“O Cenaculo, em seo evolver progressivo, tem mantido a immaculada linha de conducta, delineada em o primeiro fasciculo. Como então, comprehendemos nitidamente o dever a que nos impuzémos, alheios e indifferentes ao endeosamento dos louvaminheiros sem critério e ás aviltantes sordicias da mediocridade pretenciosa. Não solicitamos applausos e encomios; tão somente almejaramos a justa comprehensão de nosso esforço e de nossa boa vontade. QUEREMOS O SENTIMENTO PELO SENTIMENTO E A VERDADE PELA VERDADE. Queremos o auxílio e apoio dos que labutam valorosamente para que o Paraná se não conserve alheio ao movimento scientifico-litterario do Brazil, para que o Paraná tenha literatura (...).”

Em suas páginas encontramos, além de poesias, uma coluna biográfica na qual figuravam personalidades da sociedade paranaense, como Ciro Velloso, estreante da coluna no primeiro fascículo: “Damos, hoje, em a nossa Revista, acompanhada destes traços biographicos, o retrato do Sr. Cyro Velloso, - aproveitando a opportunidade que se nos depara e associando-nos expontaneamente ao sympathico Gremio das Violetas na sincera homenagem á personalidade austera do Presidente do Club Coritibano.”

Havia também dissertações sobre temas diversos como Psychologia da mulher, de Justiniano de Mello. Nesse texto o autor criticava os que consideravam a mulher um ser intelectualmente inferior ao homem. Para isso, cita pensadores como Montesquieu, Humboldt, Charles Fourier e Auguste Comte, para defender seu ponto de vista, o qual põe a mulher em pé de igualdade ao homem. Justiniano de Mello chega a citar um estudo de anatomia comparada para justificar, pela ciência, a inteligência feminina.

No primeiro fascículo a revista teve como colaboradores Alfredo Munhoz, Azevedo Macedo, Carvalho de Mendonça, Costa Carvalho, Custodio Raposo, Domingos Nacimento, Emiliano Pernetta, Emilio de Menezes, Dr. Francisco Gonçalves Junior, Dr. Franco Grillo, João Itibirê, João Keating, Dr. João Pereira Lagos, Dr. Justiniano de Mello, Leoncio Correia, Luiz D. Cleve, Padre Alberto Gonçalves, Rocha Pombo, Sancta Rita, Serapião do Nasciento, Dr. Trajano Joaquim dos Reis, Dr. Vicente Machado e Dr. Victor do Amaral. Muitos desses colaboradores eram poetas simbolistas.

O Cenáculo era organizado em tomos, que correspondiam aos anos de publicação. Cada tomo era dividido em fascículos que correspondiam aos meses. Era impresso na Typografia da Companhia Impressora Paranaense. A Biblioteca Nacional tem os números referentes aos anos 1895 a 1897. Não foram encontradas informações que informassem as razões do desaparecimento da publicação.