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Panoplia: Mensario de Arte, Sciencia e Literatura

06 abr 2015

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e marcado com as tags Arte e cultura, Belle Époque, Ciências naturais, Ciências sociais, Literatura, Poesia, São Paulo

Panoplia foi uma revista lançada em São Paulo (SP) no mês de junho de 1917, dirigida por Pedreira Duprat e Cassiano Ricardo, com Ernesto Teixeira de Carvalho Filho como gerente. Sua redação contava com o trabalho de Edvard Carmilo, Sebastião Cezar e Edgard Pimentel Braga, funcionando no nº 8A da Rua Direita. A impressão do periódico era feita na Typo-Litographia Casa Duprat, no nº 21 da Rua São Bento.

Conforme seu próprio subtítulo, Panoplia foi um “Mensario de arte, sciencia e literatura”. Pouco pretensiosa, em seu editorial de lançamento a revista não se propunha a preencher uma lacuna na imprensa paulista:
“Panoplia”, é uma revista de arte, de sciencias e de letras, que se estampará de mês em mês. A sua collaboração promanará das melhores pennas nacionaes, quer das que registrem com austeridade o resultado das pesquizas no silencio dos laboratorios, quer das que andam a pingar, no fim de cada verso, impeccavel e serena, a rima de ouro que embelleza e canta... A politica não a arrastará ao vortice perigoso das suas paixões; “Panoplia” não a abomina, nem a acalenta: abstrae se della pela simples razão de que as suas incoherencias e tropelias se não comportam nem nos dominios das letras, que a repudiam, nem no campo das sciencias, que ella politica desconhece e consequentemente desprotege, nem na esphera das artes, que não a aproveitam para os seus torneios. Esta revista não se filia, outrosim, a nenhum dos grupos literarios ou simplesmente jornalisticos, que porventura existam no Estado de S. Paulo, maximé nesta capital. (...) A critica, nos seus multiplos aspectos, será, nesta revista, confiada a quem possa, com autoridade e sem os costumados e perniciosos ciumes literarios, dizer, urbanamente mas francamente, o que sinta e pense das obras que percorrer.

De forma geral, Panoplia publicava artigos, ensaios, trechos de palestras, crônicas, contos, versos, trechos transcritos de outras publicações, críticas (sobretudo de literatura e teatro), uma página de variedades paulistanas, fotografias, ilustrações, fotografias, anúncios publicitários e uma página com indicadores (com referências de médicos, advogados, serviços e etc.). A revista contava ainda com páginas intituladas “Vida social” e “Homenagem da Panoplia”, que traziam sobretudo retratos de paulistanos ilustres. Com algumas exceções, como no caso de sonetos e prosa, seus textos eram diagramados em duas colunas por página, permeados por poucas imagens.

Pelo seu lado científico e de crítica de arte, o periódico chegou a abordar assuntos como educação, história do Brasil, tradições e reminiscências da sociedade paulistana, comportamento, psicologia, obras de importantes artistas (de São Paulo, do Brasil e da Europa), artes visuais em geral, literatura, teatro, dança, folclore, biologia, o Código Civil Brasileiro, navegação nos rios brasileiros, a língua portuguesa, a biografia de figuras importantes da cultura nacional, questões higiênicas, nutrição, arquitetura e decoração de ambientes (ver série “Residências paulistas”, a partir de janeiro de 1918), entre outras coisas.

Ao chegar ao fim de 1917, Panoplia dava sinais de que a manutenção de sua publicação tinha algumas dificuldades. Suas últimas duas edições do ano foram aglutinadas, ou seja, de uma só vez foi lançada a edição nº 6/7 do ano 1, de novembro/dezembro de 1917. Desde sua edição passada, o nº 5, de outubro, o número de páginas do periódico havia sido reduzido de cerca de 80 para cerca 50. Ao fim de 1917, apenas Pedreira Duprat assinava o expediente como diretor da revista, que, em paralelo, havia aumentado o preço de suas edições avulsas para 1$500 e o de suas assinaturas semestrais e anuais para 8$000 e 15$000, respectivamente. É possível que a revista, assim como diversos outros periódicos brasileiros do período, tenha sofrido com a inflação do preço do papel e o aumento nos custos editoriais em geral, em decorrência da I Guerra Mundial.

Entrando no ano de 1918, Panoplia teve sua numeração reiniciada – em janeiro, portanto, fora lançada sua edição nº 1 do ano 2. Seu expediente havia sido reformulado, de forma que Homero Prates e Guilherme de Almeida passaram a figurar como diretores literários e Di Cavalcanti como diretor artístico. Poucos meses mais tarde, uma nova edição de Panoplia sairia com numeração aglutinada: o nº 4/5 do ano 2, de abril/maio de 1918. Esta edição anunciava que o periódico mudaria de direção e propriedade, alterando também sua linha editorial:
A 'Panoplia' que até aqui, foi apenas uma revista litteraria á maneira do 'Mercure de France', será d’ora avante tambem um magazine illustrado á maneira dessas revistas informantes que circulam pela Europa e America do Norte (...). A nova 'Panoplia' será por isso um resumo mensal de novidades sobre arte, actualidades e factos; um punhado de anedoctas e chronicas facil de ler ao trem, amavel para ler ao bond, completa para ler ao club. A 'Panoplia' será portanto, primorosamente illustrada, largamente variada e cuidadosamente confeccionada.

Panoplia nº 6 do ano 2 sairia apenas no mês de dezembro de 1918, formando um hiato de quase meio ano na publicação. Quando do seu retorno sob outra direção, e conforme anunciado na edição anterior, o periódico passou por uma reformulação gráfica e editorial.  Dirigido então por Edmundo Amaral e A. de Menezes Drummond, com Sylvio Floreal como “redator literário” e o cartunista Ferrignac como “redator artístico”, sua redação passou ao nº 14 da Rua São Bento e seu subtítulo mudou para “Magazine mensal illustrado”. A extensa lista de ilustres colaboradores de Panoplia, na ocasião, continuava a mesma.

Em sua nova fase, Panoplia passou a vir com um noticiário sobre as atualidades culturais e sociais em São Paulo, além de explorar temas novos, como moda e vestuário, cinema e atores de destaque em produções cinematográficas e teatrais internacionais, música erudita, cerimônias de autoridades públicas, entre outras variedades: feitiçaria no século XVII, curiosidades da história antiga, enxadrismo, pérolas preciosas, as mulheres dos grandes homens, história de figuras políticas internacionais, comemorações natalinas pelo mundo, etc.

A segunda edição da segunda fase de Panoplia, o nº 7 de seu segundo ano de publicação, foi veiculada sem data – sinal de que a periodicidade da publicação podia não estar regular. Na ocasião, no entanto, um aviso aos leitores dava conta que, a partir daquele momento, cada exemplar da revista seria vendido a 600 réis, com assinaturas semestrais a anuais a 4$000 e 8$000, respectivamente. Após esta edição, aparentemente, Panoplia publicou apenas mais uma, sem número, datada de outubro de 1919.

Ao longo de suas edições, Panoplia contou com colaborações de Alberto Seabra, Conde de Affonso Celso, Affonso d’E. Taunay, Ulysses Paranhos, Amadeu Amaral, Liberato Bittencourt, Aristeo Seixas, Oscar Pereira da Silva, Wenceslau de Queiroz, Conselheiro Teixeira de Abreu, Homero Prates, Armando Prado, Jonatas Serrano, Edvard Carmilo, Pedro Gonzaga, Sebastião Cézar, Gomes dos Santos, Escragnolle Doria, Olavo Bilac, Félix Pacheco, Di Cavalcanti, Humberto de Campos, Annita Malfatti, Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia, Eduardo Guimarães, da Costa e Silva, Pedro Alexandrino, Clodomiro Pereira da Silva, Mary Buarque, Affonso A. de Freitas, Gilka da Costa Machado, Juarez Almada Fagundes, Agrippino Grieco, Eurico de Azevedo Sodré, Solidonio Leite, Rodolpho Machado, René Thiollier, Alberto de Oliveira, Luiz Guimarães Filho, Spencer Vampré, Hermes Fontes, Antonio Salles, Campos Ayres, Belmiro Braga, Florivaldo Linhares, Eurico de Góes, José Oiticica, Gonzaga Duque, Nestor Victor, Albertina Bertha, Paulo Setúbal, Alfredo de Assis, Plínio Cavalcanti, Barbosa Neto, João Pinto da Silva, Collatino Barrozo, A. L. Silveira da Motta, Olegario Marianno, Rodrigo Octavio Filho, Mansueto Bernardi, Sylvio Floreal, Aldoynius Estrada, Mário de Azevedo, Veiga Miranda (que tem o texto da peça “A Prancha” publicado na edição de outubro de 1919), entre outras personalidades das ciências e das artes.

De início, cada edição de Panoplia custava 1$000, possuindo cerca de 80 páginas. Assinaturas semestrais e anuais podiam ser feitas, respectivamente, por 6$000 e 10$000.

Fontes

- Acervo: edições do nº 1, ano 1, de junho de 1917, ao nº 5, ano 1, de outubro de 1917; edições do nº 1, ano 2, de janeiro de 1918, ao nº 6, ano 2, de dezembro de 1918; edição nº 7 do ano 2, veiculada sem data; e edição não-numerada de outubro de 1919.