BNDigital

Sciencia para o Povo: Serões Instructivos

07 abr 2015

Artigo arquivado em Hemeroteca

A divulgação da ciência no Brasil começou com a chegada da família real portuguesa, no início do século XIX, e as subsequentes transformações políticas, econômicas e culturais por que passou o país. A abertura dos portos e o surgimento da imprensa no Brasil, antes proibida, possibilitaram, entre outros fatos, a circulação de livros, folhetos e periódicos.

No entanto foi somente a partir da segunda metade do século XIX, após a Segunda Revolução Industrial e em meio à atmosfera de progressos técnicos e científicos verificados no mundo, que as atividades de divulgação científica se intensificaram. Com o aumento do interesse por esses temas, vários periódicos foram criados no período, como, por exemplo, a Revista Brazileira – Jornal de Sciencias, Letras e Artes (1857), a Revista do Rio de Janeiro (1876) e a Revista do Observatório (1886), além daquele que é considerado por muitos como o primeiro livro de ficção científica brasileiro: Doutor Benignus, de Augusto Emilio Zaluar, lançado em 1875.

Editada e dirigida por Felix Ferreira, a revista Sciencia para o Povo veio a luz em 1881. O prospecto que acompanha o primeiro número mostra que popularizar os escritos científicos era o objetivo principal da publicação:

Hoje que por todo o mundo civilisado se derramam a mãos fartas livros e jornaes, que de tudo isso tratam, tudo isso ensinam, comentam e discutem, triste é de ver-se o atrazo em que vegeta a instrucção popular entre nós. A despeito das innumeras reformas, dos pomposos edifícios e mil outras exterioridades, os compêndios são antiquados e os bons livros escassos.

É certo que nos faltam para tanto escriptores especiaes, que as sciencias estão ainda pouco desenvolvidas, que os seus mais hábeis profissionaes pouco ou nada produzem, mas, também não é menos certo que o gosto pela leitura desenvolve-se, o amor pelo saber argumenta e as classes populares já não se contentam com os jornaes noticiosos e o romance de acção, o povo quer mais alguma cousa, aspira mais elevada esphera de conhecimentos, as escolas nocturnas de ensino litterario, artistico, e scientifico regorgitam, o Lyceu de artes e officios do Rio de Janeiro é frequentado por 1,200 alumnos; o que nos falta pois são livros instructivos, illustrados, e postos ao alcance dos menos favorecidos da fortuna.

Parece-nos, por isso, chegado o momento de encetar uma publicação que vulgarise entre nós, algumas dessas obras que tanto tem contribuído para a instrucção do povo nos paizes mais adiantados do velho e novo mundo.”

Sciencia para o povo publicava obras completas de teor científico, divididas em capítulos, como se fossem folhetins, e informações gerais sobre ciências, em especial saúde e comportamento. Por vezes, abordava assuntos de interesse da sociedade, como a questão do divórcio, e aceitava artigos para publicação na seção “Variedades Scientificas.

Lançada no Rio de Janeiro, a revista custava 300 réis, com número de páginas variando entre 32 e 94. A tipografia era na rua São José nº 110, no centro da cidade.

A Fundação Biblioteca Nacional tem 26 edições dessa publicação, todas de 1881.