Aleijadinho

Aleijadinho

Aleijadinho (1730-1814)

Patrícia Souza de Faria
Doutoranda em História Moderna pela Universidade Federal Fluminense

Antônio Francisco Lisboa nasceu em 1738 na antiga Vila Rica, atual Ouro Preto. Autor de esculturas devocionais, projetos arquitetônicos, ornamentaçõe escultóricas em pedra-sabão e conjuntos de talha policromada e dourada, foi grande expoente do rococó religioso brasileiro.

Seu aprendizado efetivou-se na oficina do pai, o português Manuel Francisco Lisboa, e do tio Antônio Francisco Pombal, assim como pelo contato com outros artistas portugueses imigrantes. Nunca viajou para fora do Brasil, de modo que a influência do estilo artístico rococó francês e germânico explicasse pelo acesso a tratados de arte e gravuras ornamentais, destacando-se o impacto da gravura dos irmãos Joseph Sebastian e Johann Baptist Klauber na tipologia do rosto e no panejamento das esculturas de Aleijadinho.

Filho de uma das escravas do seu pai, Aleijadinho teve um filho aos 47 anos. Desde 1777 apresentou quadro de moléstias, talvez de origem venérea, sendo que alguns acreditam que uma doença chamada zamparina que causava deformações e paralisia, já outros apontam para humor gálico com escorbuto. Aleijadinho perdeu os dedos dos pés, precisando andar de joelhos, os dedos da mão atrofiaram-se, curvaram, alguns caíram. O dileto escravo Maurício trabalhava para Aleijadinho como entalhador, recebia um salário e adaptava os ferros para as mãos de Aleijadinho. Tinha outros escravos: Agostinho e Januário, sendo o primeiro também entalhador. Contudo, seu ritmo de trabalho não foi reduzido com a doença.

Trabalhou com ajuda de sua oficina, uma herança corporativa medieval, tendo o pagamento definido com a irmandade que encomendava a obra. Ganhava meia oitava de ouro por dia. São conhecidos alguns nomes que trabalharam na oficina de Aleijadinho: Luiz Ferreira da Silva, Faustino da Silva Correia, Henrique Gomes de Brito, Jose Rodrigues da Silva, Joaquim Jose da Silva Jose Soares da Silva, Manuel Gomes Laborim, Thomas Velasco, além do meio-irmão Félix Antônio Lisboa e o filho bastardo nascido no Rio de janeiro em 1775 (chamado de Manuel Francisco Lisboa, nome do pai de Aleijadinho).

Aleijadinho tornou-se uma artista mitificado, de modo que estudiosos tendiam a atribuir a ele qualquer peça de grande qualidade estética que fosse produzida em Minas Gerais. Acerca da tipologia das primeiras imagens produzidas por Aleijadinho, costumavam apresentar sobrancelhas altas e arqueadas, modelado liso do rosto, queixo em montículo, com pequeno furo central, panejamentos excessivos, certa desproporção entre tronco e membros inferiores. Conforme Myriam Andrade Ribeiro, as imagens produzidas após a metade da década de 1770 tendem a exprimir maior realismo, perfeição técnica, mais naturalidade nos panejamentos.

Destacam-se suas obras nas capelas de São Francisco de Assis, Nossa Senhora do Carmo e Almas (Ouro preto), Matriz e Capela de São Francisco de Assis (Sao João del Rei), São João do Morro Grande, capela de São Francisco (Mariana), ermidas de fazendas da Serra Negra, Tabocas, Jaguará (Sabará), templos de Congonhas e de Santa Luzia. Após a obra de Congonhas, ainda há registros de trabalho com seus oficiais na Nossa Senhora do Carmo de Ouro Preto (1807-9), porém a oficina deve ter sido desfeita em 1812, pois Aleijadinho trabalhou como assalariado de antigo discípulo, Justino Ferreira de Andrade.

Certo é que Aleijadinho não conseguiu reunir fortuna, morrendo doente e pobre. Perdeu a visão, viveu na rua Detrás de Antônio Dias e, em seguida, mudou-se para a casa de sua nora Joana, que cuidou dele até falecer, com 84 anos. Foi sepultado na Matriz de Antônio Dias, com féretro contíguo ao altar de Nossa Senhora da Boa Morte.

Leituras sugeridas:

OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de; SANTOS FILHO, Olinto Rodrigues dos; SANTOS, Antônio Fernando Batista dos . O Aleijadinho e sua oficina. Catálogo das esculturas devocionais. 1. ed. São Paulo: Capivara, 2002.
Brasil Barroco: entre o céu e a terra (Brésil Baroque: entre ciel et la terre). Paris: União Latina, 1999.

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