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A Cartografia Histórica: do século XVI ao XVIII

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A REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA NO BRASIL COLONIAL NA COLEÇÃO DA BIBLIOTECA NACIONAL

por Isa Adonias (Revisão), Maria Dulce Farias (Texto)
A documentação cartográfica da Biblioteca Nacional começou a ser formada em fins do século XVIII, ao ser criada em Lisboa a Real Biblioteca, mais tarde transferida para a cidade do Rio de Janeiro, no período da vinda da Corte Portuguesa para o Brasil. Seu acervo cresceu através dos tempos, mediante aquisições de importantes coleções particulares e de exemplares originais em livrarias especializadas, constituindo, hoje, um rico patrimônio de imagens do Mundo, no todo e em suas partes. Ele inclui alguns milhares de mapas, vistas e planos [1] avulsos, manuscritos e impressos, e outros tantos anexos a documentos históricos ou inseridos em livros e opúsculos raros, além das centenas de Atlas reais e factícios, não raro truncados – material esse que se encontra disperso em várias áreas da Biblioteca Nacional: Cartografia, Manuscritos, Iconografia e Obras Raras.

Antiguidade

A Biblioteca Nacional possui uma documentação histórica, que remonta à cartografia da Antiguidade Clássica, contida em obras impressas a partir do século XV. Dentre estas merecem destaque: a Geografia de Estrabão (58-25 a.C.), editada em 1494, 1539, 1557, 1571, 1587, e 1707; Bellum Catilinae de Salustio (ca.86-ca34 a.C.); editada em 1491, 1518, 1519, 1531; Pharsalia de Lucano (ca.39-65), editada em 1479, 1486, 1492, 1519, 1542, 1560, 1578; a Geografia de Ptolomeu (século II), redescoberta no Renascimento, que será abordada nesse período; Historiarum adversum paganos de Paulus Orosius (fl.385-417) editada em 1542 e 1561; os Commentarii in Somnium Scipionis de Ambrósio Teodosio Macróbio (ca.395-436), editada em 1492, 1501, 1515, 1519, 1524 e 1535.

A cartografia do período romano deu ênfase à representação dos itinerários de estradas e caminhos, mas são poucos e fragmentados os registros que escaparam da destruição. Um dos poucos de que se tem conhecimento é a cópia no séc. XIII, de um original do século VI, denominada Tabula itineraria Peutigeriana. Conforme algumas fontes, o mapa teria sido elaborado no século I, copiado ca. 250 e recebido alguns acréscimos entre os séculos IV e VI. A Biblioteca Nacional possui a edição fac-similar de 1824, com o prefácio assinado por Fridericus Thiersch.

Idade Média

Na Idade Média foi dominante a influência exercida pela Igreja romana cristã, principalmente do século IV ao XV, período em que a cartografia terrestre desenvolveu-se, de início, como suplemento ilustrativo de textos litúrgicos (missais, psaltérios), de livros sagrados (bíblias) e trabalhos de cunho histórico-geográfico. O tipo preferido de representação foi a imagem do Mundo em mapas-múndi circulares, ditos Mapa da roda ou Mapa T-O, incluídos em inúmeras obras medievais que foram reescritas dezenas e centenas de vezes pelos copistas no silêncio dos mosteiros e igrejas. Além dessa espécie de ilustração, algumas obras incluíram, também mapas regionais e itinerários de caminhos, principalmente os que levavam à Terra Santa. O Mapa T-O, de forma circular, é dividido em três partes, conciliadas na tripartição cristã, com a idéia bíblica da divisão do Mundo pelos três filhos de Noé (Gênesis). A Ásia ocupa a metade superior do espaço figurado (Sem, primogênito), a Europa (Jafet, terceiro filho) abrange a metade inferior, à esquerda, e a África (Cam, o segundo filho) a outra metade inferior, à direita. O modo como o mundo é disposto forma um T, à direita , constituído pelos rio Nilo e à esquerda pelo Don, no sentido horizontal e no meio pelo Mar Mediterrâneo, no sentido vertical. O Oriente está situado na parte superior, de onde vem a palavra orientação. Exemplos de Mapa T-O é o de autoria de Santo Isidoro, Bispo de Sevilha (ca.560-635) incluído num códice [2] Etymologiae, que foi publicado pela primeira vez em 1472. Existe na Biblioteca Nacional uma edição de 1483.

Outro exemplo de documento cartográfico deste período, também existente na Biblioteca, é a Sphaera mundi, de Joannes Sacro Bosco (fl.1250), com suas edições de 1513, 1537, 1543, 1550, 1551, 1557, 1568, 1559 e 1562.

Aos poucos, porém, a cartografia foi deixando de ser mero complemento ilustrativo de livros, passando a ser produzida de forma independente, com o aparecimento dos primeiros espécimes avulsos, alguns de grandes dimensões. Entre eles se destacam os mapas-múndi conhecidos como Ebstorf [3] (ca. 1235), Hereford [4] (ca. 1290) e o de fra Mauro (m. 1459). Existe na Biblioteca uma reprodução deste último, que faz parte da obra Il mappamondo di Fra Mauro, Camaldolese de autoria de Placido Zurla, publicada em 1806.

No final do século XIII e durante o século XIV, surgem as cartas-portulanos. Estas eram destinadas às navegações no Mar Mediterrâneo e ao longo das costas ocidentais da Europa. A Biblioteca Nacional não possui as originais.

Renascimento

No Renascimento a cartografia tomou um impulso significativo. Isto se deve às novas descobertas da imprensa, da técnica de gravação (xilogravura e gravura em metal), ao aperfeiçoamento de instrumentos astronômicos (a bússola, o quadrante etc), à criação da Escola de Sagres, às navegações ultramarinas (descobertas de novas terras) e à redescoberta da Geografia de Ptolomeu.

Cláudio Ptolomeu, geógrafo, astrônomo e matemático alexandrino, viveu no século II, foi autor de duas grandes obras: Composição matemática ou Almagesto, estudo sobre astronomia, e Geografia ou Cosmografia, manual com instruções para a elaboração de mapas, uso de projeções e uma enorme lista de coordenadas geográficas (latitudes e longitudes).

A Geografia de Ptolomeu foi conservada pelos árabes e introduzida no ocidente durante a Idade Média. Com a sua total recuperação impulsionou grandemente a cartografia, deixando de lado a visão patrística do mundo medieval, atraindo estudiosos e interessados na arte e na ciência. Escrita em grego, sua primeira tradução para o árabe foi no século IX e para o latim, em códice, em 1406. Com o advento da imprensa, no último quartel do século XV, foram publicadas oito edições em versão incunábula[5], sendo seis com mapas. A Biblioteca Nacional possui a edição de 1486, publicada em Ulm (Alemanha). No século XVI, foram publicadas 30 edições da Geografia. Estas edições tiveram acréscimo de cartas relacionadas às novas terras descobertas. Existem na Biblioteca Nacional 13 destas edições, incluindo a edição de 1513, que foi dedicada ao Novo Mundo, intitulada Tabula terre noue, conhecida como Carta Atlântica. Além destas edições, Cornelis Wytfliet publicou a obra Descriptionis Ptolemaicae Augmento, em 1597, significando um acréscimo das terras do Novo Mundo, não registradas por Ptolomeu. Por isso, é considerado o primeiro atlas americano. A Biblioteca Nacional detém um exemplar desta edição.

A cartografia no Brasil Colonial

O grande marco das navegações portuguesas se deu primeiro com a tomada do Ceuta[6] aos árabes, em 1415. Em seguida, rumando ao Oriente, os portugueses alcançaram terras nas costas africanas, nas ilhas oceânicas, no litoral brasileiro.

Com relação às descobertas portuguesas, a Biblioteca Nacional mantém sob sua guarda cartas referentes aos territórios de Portugal, das suas colônias e das conquistas no Ocidente e no Oriente, entre os séculos XVI e XVIII. Dentre elas distinguem-se: o volume Mappas do Reino de Portugal e suas conquistas, reunidos por Diogo Barbosa Machado; Mapas de Manuel Godinho de Erédia como Plantas de praças das conquistas de Portugal : feytas por ordem de Ruy Lourenço de Tavora Vizo rey da Índia, Nova tavoa geographica da tera do sertam de Malaca, Nova tavoa hydrographica do mar de novas teras do sul, Austrália, onde mostra trecho da costa deste território visto inicialmente pelos portugueses, em 1601; além de cartas de Angola, Moçambique, Índia, Ilha de Santa Helena[7] , a planta mais antiga de Funchal[8], elaborada por Mateus Fernandes, em 1570. etc.

Século XVI

A primeira representação cartográfica do Brasil aparece no planisfério de Juan de la Cosa, de 1500, mostrando a Costa Norte até as proximidades da Ponta do Mucuripe (Ceará), cujo traçado revela conhecimento que se prendem à viagem de Vicente Yañez Pinzón.

Quanto aos documentos cartográficos portugueses que retratam o Brasil, o primeiro foi o denominado Planisfério de Cantino, existente na Biblioteca de Estense, em Módena (Itália). Foi elaborado em 1502 por um cartógrafo português anônimo, que se baseou no padrão real [9]. O trabalho foi realizado mediante suborno praticado por Alberto Cantino, agente italiano, a serviço de Hércules d’Este, Duque de Ferrara, que por ele pagou 12 ducados de ouro. A Biblioteca Nacional possui parte referente ao Ocidente, numa reprodução impressa do século XX.

O Brasil foi também representado na cartografia alemã, portuguesa e italiana, no início do século XVI, como, por exemplo, o planisfério de Waldseemüller, de 1507, existente na Biblioteca do Congresso, em Washington. A Biblioteca Nacional possui o fac-símile datado de 1903.

Ainda do início do século XVI, existem outras cartas importantes que mostram o Brasil entre as costas do Rio Grande do Norte e São Paulo. Esta área geográfica é representada nas cartas do genovês Nicolo di Caverio, ca.1503 e 1504, de Kunstman III[10], também com a data da mesma época, e outro genovês Vesconte Maggiolo, de 1504. A primeira e a segunda cartas não fazem parte da Biblioteca Nacional.

Uma carta que se deve salientar é o planisfério de Pirî Reis de 1513, existente no Palácio Topkapi, em Istambul, do qual se conhece apenas a metade ocidental representando as Antilhas, o leste da América do Sul, e o noroeste da África e da Europa. Há nela figurações míticas como o unicórnio e criaturas acéfalas, ou ainda lendárias, como a de São Brandão que, em sua viagem pelo Atlântico, teria ancorado em cima de uma baleia. Na costa oriental brasileira aparecem pela primeira vez duas localidades: Cabo Frio (kav Fryio) e Rio de Janeiro (Sano Saneyro). Pirî Reis era almirante, cartógrafo e sobrinho de Kemal Reis, almirante turco cujos navios operavam em ações de corso no Mar Mediterrâneo e na costa atlântica do noroeste africano. Pirî Reis conseguiu informações sobre o Novo Mundo através de navegadores espanhóis e portugueses que foram aprisionados. A Biblioteca Nacional possui um fac-símile de 1966.

As primeiras denominações dadas ao Brasil, encontradas em alguns mapas e fac-símiles, que pertencem à Biblioteca Nacional, foram: Terra de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Terra dos Papagaios (Planisfério de Waldseemüller, 1516), Terra Incógnita (aparece na Carta Atlântica da Geographia de Ptolomeu de 1513), Brasília (mapas de Bertius), Antropófagos (Planisfério de Pedro Apiano) e Brasil. Concorrendo com a denominação Terra de Santa Cruz, registrada em alguns mapas até o século XVIII, a de Brasil aparece desde o século XVI. Exemplos destas denominações são encontradas nas cartas de Paolo Forlani, Gastaldi, Blaeu etc.

Durante o século XVI, surgiram grandes cartógrafos portugueses, como Lopo Homem, Pedro e Jorge Reinel, Sebastião Lopes, Lázaro Luís, Fernão Vaz Dourado, Diogo Homem, Bartolomeu Velho, Bartolomeu Lasso e outros que retrataram o Brasil.

Uma carta importante desse período é a Tabula hec regionis magni Brasilis, ou Terra Brasilis, atribuída aos cartógrafos Lopo Homem, Pedro e Jorge Reinel, que faz parte do conhecido Atlas Miller, ca. 1519, pertencente à Biblioteca Nacional de França. Ela representa o escambo do pau-brasil no séc. XVI, sendo considerada a primeira carta econômica do Brasil e a primeira imagem do desmatamento no País. A Biblioteca Nacional possui uma reprodução, que faz parte da obra A mui leal e heróica cidade do Rio de Janeiro, editada em 1965. Além disso, ela aproxima a configuração da costa brasileira com a atual. Outro exemplo de carta que possui esta aproximação é o mapa-múndi atribuído a Jorge Reinel, reproduzido no Kunstman IV.

Não existe na Biblioteca Nacional a documentação cartográfica portuguesa manuscrita sobre o Brasil no século XVI. Porém, muitos destes mapas foram copiados por cartógrafos italianos, franceses e holandeses e gravados suas firmas. Dentre eles, citam-se Gerardus Mercator, autor da famosa projeção de Mercator, Abraham Ortelius, autor do primeiro atlas Theatrum Orbis Terrarum, publicado em 1570 etc. A Biblioteca Nacional possui as outras edições do Theatrum Orbis Terrarum de Ortelius, em latim (1575, 1579, 1584,1612), espanhol (1588) e italiano (1598). As edições em latim de 1579 e 1612 incluem o Parergon[11]

Além das cartas portuguesas gravadas por cartógrafos europeus, o acervo da Biblioteca Nacional contém os seguintes documentos do século XVI: carta de um cartógrafo de Verona, como Paulo Forlani , mapa do Brasil, mostrando a exploração do pau-brasil pelos franceses, (elaborado por Giacomo Gastaldi; faz parte do terceiro volume do livro Navigationi et viaggi de Giovanni Battista Ramusio), mapas do Brasil, que fazem parte das edições da Geografia de Ptolomeu publicadas neste século, mapas mostrando o período do domínio francês no Rio de Janeiro, como a carta de Jean de Lery e os documentos que fazem parte da obra La cosmographie universelle de André Thevet.

A Biblioteca Nacional possui, também, fac-símile do Roteiro de todos os sinais, conhecimentos, fundos, baixos, alturas e derrotas que ha na costa do Brasil desde o cabo de Santo Agostinho ate ao estreito de Fernao de Magalhaes , de Luís Teixeira, ca.1586 e editado em 1988, que consta de um mapa do Brasil, dividido em capitanias e mapas parciais da costa.

A Região Norte, com o traçado serpenteado do rio Amazonas, representada na cartografia desde o século XVI, figura em mapas até o século XVII. Nas viagens de navegação por este rio, sob os comandos de Francisco Orellana (1542) e Pedro Ursua (entre 1560 e 1561), surgiu o mito expansionista do El Dourado. O nome Amazonas foi dado pelo capelão da viagem de Orellana, Gaspar de Carvajal, que falou da existência de mulheres guerreiras às margens do rio.

Século XVII

Com a União Ibérica (1580-1640), holandeses, ingleses e franceses passaram a invadir o litoral nortista e nordestino, obrigando os portugueses a defender a colônia. Como resultado, estes conquistaram, construíram fortificações e fundaram algumas cidades na Região Nordeste. Exemplo de mapa deste período é o de Antônio Sanches.

Nessa época, a coroa filipina[12] permitiu aos luso-brasileiros ultrapassar os limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas[13], avançando em direção à foz do delta amazônico, onde eles fundaram em 1616, junto à Baía de Guajará, o Forte do Presépio, origem da cidade de Nossa Senhora de Belém, sede da nova Capitania do Grão Pará. A seguir, expandiram-se na direção oeste e norte, empenhando-se em lutas para expulsar os invasores holandeses e franceses que haviam ocupado alguns pontos da região.

Os episódios da conquista inicial da Amazônia foram registrados no mapa Discripcão dos Rios Para Curupa e Mazonas de Antônio Vicente Cochado, datado 1623, e, também, no Pequeno Atlas do Maranhão e Grão-Pará atribuído a João Teixeira Albernaz I.

No último quartel do século XVI e na primeira metade da centúria seguinte, os holandeses começaram a atacar as colônias portuguesas, principalmente em Pernambuco e Bahia.

A primeira investida foi a invasão da Bahia entre 1624 e 1625 (mapa1), (mapa2) (mapa3), mas foram expulsos pelo comando de d. Fradique de Toledo Osório, Marquês de Vilhanueva de Valduesa. Em seguida, os batavos ocuparam Pernambuco entre 1630 e 1654, quando foram combatidos pelas tropas luso-brasileiras. A expansão do domínio holandês chegou até o Norte, Maranhão, e ao sul, até Sergipe. Invadiram, também, as colônias de São Tomé e Angola, no Continente Africano, com a finalidade de trazer mão-de-obra para os engenhos de açúcar no nordeste brasileiro. A Biblioteca Nacional conta com dois mapas deste período: um que faz parte da obra impressa Istoria delle guerre del regno del Brasile de frei João José Maria de Santa Teresa, datado de 1698, e outro manuscrito intitulado Descripçam da Barra do Reino de Angola, de 1626.

A cartografia e a iconografia são vastíssimas neste período, devido à vinda de artistas (Franz Post e Albert Eckhout), cientistas (Willhelm Piso e Georg Marcgrave) cartógrafos e engenheiros (Pierre Gondreville, Cornelis Bastiaanszoon Golijath, Hendrik van Berchem, Tobias Commersteijn, Pieter van Bueren, Sicke de Groot, Sems, Andrea Drewisch, David van Orliens,) e arquiteto (Pieter Post), que acompanharam Maurício de Nassau (Johann Mauritius van Nassau-Siegen) no Brasil. Do outro lado do Atlântico, por sua vez, editores e cartógrafos renomados retratavam o período holandês no Brasil, como Joan Blaeu, Henricus Hondius, Nicolaes Visscher, Pierre Mortier etc. Sobre o mesmo tema eram publicadas notáveis obras de cunho histórico-geográfico com farta documentação cartográfica e iconográfica da autoria de Gaspar Barlaeus, J, Laet, Arnoldus Montanus, F. Plante e Pieter van der Aa e outros. Existem na Biblioteca Nacional 35 cartas digitalizadas sobre este assunto.

A obra Mapa de Isa Adonias, relaciona as categorias da cartografia holandesa, segundo K. Zandvliet, em:

“--Cartas hidrográficas, resultantes de levantamentos costeiros; exemplos: Brasilysch Paskaert de Vingboons, Zee-Fakkel de Johannes van Keulen;

-- cartas topográficas, representando levantamentos terrestres;

-- plantas de cidades e desenhos de engenharia – série de cartas referentes a Recife e cidade Maurícia, (Perfect Caerte der Gelegen theyt van Olinda de Pharnambuco Mauritsstadt ende t'Reciffo de Cornelis Goliath, de 1648)

-- Mapas de notícia (new maps) – um misto de cenários cartográficos e reportagens de longo texto, na mesma folha, registrando etapas da conquista holandesa em vários locais do Nordeste. Tais mapas destinavam-se a manter o público informado sobre as ações da Companhia das Índias Ocidentais, criada em 1621, para agir na costa oeste da África, em toda a América e no pacífico.” Exemplo são as cartas de Visscher.

A cartografia portuguesa também abrangeu o Brasil, no século XVII. Fazem parte do acervo da Biblioteca Nacional mapas de João Teixeira Albernaz I, considerado o maior cartógrafo português do século XVII e filho de Luís Teixeira, João Teixeira Albernaz II, seu neto – outro grande cartógrafo, Pedro Nunes Tinoco e Antonio Vicente Cochado. Existem indicações de fortalezas em alguns desses documentos.

Uma carta representando a Amazônia no final do século XVII, considerada de grande importância, é a que mostra a viagem do jesuíta alemão Samuel Fritz pelo rio Solimões, em 1687. Ligado aos missionários inacianos[14] espanhóis, ele pretendia se expandir pelo rio Solimões. Sem sucesso, retornou ao Peru por ordem do Governador Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, em 1691. Neste mesmo ano, elaborou o Mapa Geographico Del Rio Marañon o Amazonas..., existente na Biblioteca Nacional de França. Porém, o mapa, que ficou conhecido foi El gran rio Marañon o Amazonas, gravado em metal pelo padre Juan de Narvaez, em Quito, 1707. Nele se encontram informações sobre vilas, povoações, aldeias, nações indígenas, minas e trilhas. A Biblioteca Nacional possui o referido mapa.

Século XVIII

No final do XVII e na primeira metade do XVIII, surgiu na Região Sudeste a expansão dos bandeirantes e entradistas rumo ao interior do Brasil. Os principais pontos de dispersão de irradiação desse movimento foram: São Paulo (chamados de bandeirantes), Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. Estes sertanistas, a princípio, tinham como finalidade o apresamento dos índios, mas com a descoberta do ouro nas Minas Gerais, em 1668, passaram a se interessar pela busca de riquezas minerais. Mais tarde, descobriram ouro na Região Centro-Oeste nas seguintes localidades: foz do rio Miranda (antigo rio Mboteteí, no Estado do Mato Grosso do Sul), em 1718, em Cuiabá, em 1725, e depois nas margens do rio Vermelho, afluente do rio Araguaia, situado perto da cidade de Goiás (Estado de Goiás). A expansão aurífera ia do Alto Jequitinhonha e rio Doce, em Minas Gerais, e até as margens do rio Guaporé, no atual Estado de Rondônia, e abrangia também no norte de Goiás, atual Estado de Tocantins. A Biblioteca Nacional possui um conjunto representativo de mapas denominados pelo pe. Diogo Soares de cartas sertanistas, conforme o livro História do Brasil nos velhos mapas, de Jaime Cortesão. São esboços traçados a lápis ou a pena, sobre papel de qualidade inferior, sem ornamentos, quase sempre esquematizados, e referentes às novas descobertas territoriais ou regiões economicamente valorizadas.

Algumas destas cartas sertanistas mostram as duas vias de comunicação entre o Rio de Janeiro e as Minas de Ouro, atual Estado de Minas Gerais, chamadas de Caminho Velho e Caminho Novo. O primeiro se fazia por Parati e Taubaté, o segundo, descoberto a partir de 1698 e aberto em 1704, tinha início no Porto de Estrela, no Rio de Janeiro e ia direto para Minas Gerais. (mapa)

Estão localizadas também, nas citadas cartas, as reduções jesuíticas destruídas pelos bandeirantes, entre 1632 e 1648. Desde o final do século XVI, as missões inacianas vinham se expandindo pelo território que se tornaria brasileiro (Regiões Sul e Centro-Oeste), tendo Assunção, no Paraguai, como foco irradiador. Essa expansão foi detida pelos bandeirantes ao destruírem Guairá, Itatim e Tapes. Ao primeiro núcleo pertencia Ciudad Real e Vila Rica, abandonadas em 1632. (mapa)

Com relação às antigas missões jesuíticas, existem na Biblioteca Nacional várias plantas e mapas, que pertenceram às Coleções Pedro de Angelis, Morgado de Mateus e outras. Sobre o mesmo tema, a Biblioteca possui também alguns mapas gravados no Atlas Mayor ou Geographia Blaviana, editados por Joan Blaeu, no século XVII

Cartas que despertam interesse são as que representam as monções, designação dada às expedições feitas entre as Capitanias de São Paulo e Mato Grosso, rumo a Cuiabá, vila que concentrava denso povoamento. Os bandeirantes formavam comboios de canoas em Araritaguaba, (atual Porto Feliz, situada às margens do rio Tietê, no atual Estado de São Paulo). Desciam este rio e o Paraná, subiam o Pardo e o Anhanduí (Estado do Mato Grosso do Sul). Depois atravessavam por terra, a região da Vacaria para atingir o Rio Miranda (Mato Grosso do Sul), por onde navegavam até o Paraguai para chegar à cidade de Cuiabá (Mato Grosso). Outra opção era a descida pelos rios Tietê e Paraná (São Paulo), a subida pelo rio Pardo (entre os Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul) e a travessia de varadouro do Camapuan, na Serra de Amambaí, no Estado de Mato Grosso do Sul. Em seguida, os viajantes baixavam os rios Coxim, Taquari (Mato Grosso do Sul) até o rio Paraguai, por onde prosseguiam a viagem rio acima até chegar aos rios São Lourenço (antigo Porrudos, em Mato Grosso) e Cuiabá.

A Biblioteca Nacional possui um códice intitulado Plano em borrão de todos os rios, e todas as caxueyras, e todas as cousas mais notaveis que vi desde o Porto de Araraytaguaba até a povoação de Guatemy..., de Teotônio José Juzarte, que mostra detalhadamente a jornada da expedição.

Além destas cartas, existe outra da época em que foi instituída a Capitania de São Paulo e Minas Gerais, 1709-1720, intitulada Mapa das Minas do Ouro de S. Paulo, e a costa do mar que lhe pretence [sic], datada 1714.

Os sertanistas descobriram também que a Lagoa de Xarayes (assim denominada pelos espanhóis) era uma região pantanosa. A expressão Lago ou Lagoa dos Xarayes permaneceu numa boa parte da cartografia européia até meados do século XVIII, exceto na portuguesa, onde a denominação preferida foi Lagoa Eupana, atual Pantanal Matogrossense. (mapa)

Em 1680, nas margens do rio da Prata, foi fundada a Colônia do Sacramento, aumentando a expansão do domínio para o Sul (mapa 1 mapa 2). Como conseqüência, iniciou-se o povoamento do Rio Grande do Sul, com a imigração lagunense e açoriana. Fundaram-se dois núcleos, em 1737, presídio Jesus-Maria-José e Vila do Rio Grande de São Pedro. No interior do Estado, foram criados outros dois locais: Viamão e Porto dos Casais, a atual cidade de Porto Alegre.

A ocupação no Paraná se deve em parte à abertura da estrada Viamão-Sorocaba, que tinha como finalidade transportar o gado do Rio Grande do Sul para Sorocaba, em São Paulo para abastecer aos exploradores de riquezas minerais de Minas Gerais. Existem algumas cartas indicando este caminho, da Coleção Morgado de Mateus, que está na Biblioteca Nacional

Na região Sudeste, a cidade do Rio de Janeiro foi tomada novamente pelos franceses, entre 1710 e 1711, sob o comando de Du Clerc e Du-Guay Trouin. Este saqueou a cidade e, ao retirar-se para a França, exigiu, como pagamento do resgate, 610 mil cruzados, 500 caixas de açúcar e 200 bois necessários para o abastecimento da esquadra.A Biblioteca possui uma edição francesa do século XVIII sobre este episódio, intitulada Recueil des combats de Du Guay-Trouin...

No final do século XVII, começou a tomar impulso a cartografia francesa, com a fundação da Academia Real das Ciências por Colbert, em 1666, e a construção de observatório astronômico em Paris. No século XVIII, a cartografia francesa predominava. Os cartógrafos deste período foram: Giovanni Dom Domenico Cassini, Nicolas Sanson, Guillaume Sanson, filho de Nicolas, Nicolas de Fer, Philippe Buache, Guillaume de L´Isle, Jean Baptiste Bourguignon d’Anville, autor de uma das melhores cartas do século XVIII representando a América do Sul, intitulada Amerique Meridionale, publicada em 1748.

Guillaume de L’Isle recebeu o título de Primeiro Geógrafo do Rei, na França, e teve um papel preponderante na questão de fronteiras entre os domínios português e espanhol na América do Sul. L’Isle mostrou que os portugueses cometiam erros de cálculos das longitudes nos mapas, desde o século XVI, colocando o rio da Prata no hemisfério português. Esta demonstração foi apresentada através do seu trabalho Determination géographique de la situation et de l’éntendue des différentes parties de la Terre, na Academia Real de Ciências, em 1720. A Biblioteca Nacional possui duas edições da carta intitulada Carte D'Amerique, de 1733 e 1763. (mapa - 1733) (mapa - 1763)

Portugal resolveu, então, contratar dois padres matemáticos Diogo Soares (1684-1748), português, e Domingos Capassi (Domenico Capacci ou Capasso, italiano, 1694-1736), com a missão “de fazerem mapas do território brasileiro, não só pela marinha, mas pelos sertões, com toda a distinção, para que melhor se assinalem e conheçam os distritos de cada bispado, governo, Capitania, Comarca...”, segundo declarava o Alvará de 18 de novembro de 1729. Eles trabalharam em conjunto e separadamente, mas o pe. Capassi faleceu em 1736, ficando a missão entregue apenas ao pe. Diogo Soares. O projeto final seria a apresentação do Novo Atlas da América Portuguesa. As operações de campo então realizadas abrangeram o levantamento da Colônia do Sacramento, de toda a costa Sul e Sudeste até Cabo Frio, e de grande parte do interior, além da elaboração de uma lista de coordenadas geográficas (latitudes e longitudes, estas observadas segundo a nova metodologia, baseada na ocultação dos satélites de Júpiter), da redação de relatos e descrições geográficas, e da coleta de roteiros e mapas de sertanistas. A Biblioteca possui um mapa atribuído ao pe. Capassi, que um mostra a rede hidrográfica do Brasil e o outro assinado por ele, que representa a Capitania do Rio de Janeiro.

Em janeiro de 1750, foi assinado o Tratado de Madri, que estipulou novos limites entre as possessões portuguesas e espanholas na América. Seus termos favoreceram as pretensões de Portugal (artigo XIV), uma vez que reconheciam seu domínio sobre a extensão territorial da Amazônia, das regiões Centro-Oeste e Sul, conquistadas pelos colonizadores. A Espanha, por sua vez, tinha interesse em obter a Colônia do Sacramento e o Território da Colônia, o que foi confirmado no artigo XIII do referido Tratado. O novo acordo consagrava o princípio de uti possidetis, que significa o direito de propriedade, e instituía a adoção dos acidentes naturais conhecidos (rios, montanhas...) como balisas entre os domínios das duas nações ibéricas. Eliminava-se, assim, o Tratado de Tordesilhas. Serviu de base, nas negociações do Tratado um mapa, elaborado por um cartógrafo anônimo, sob a orientação de Alexandre de Gusmão. Intitulado Mapa dos confins com as terras da Coroa de Espanha América Meridional, ficou conhecido como Mapa das Cortes, por conter no verso as assinaturas e os selos dos Ministros Plenipotenciários das duas coroas. Foram feitas cópias em português e em espanhol. A Biblioteca Nacional possui uma cópia em português, de 1749, que deveria ter servido de modelo para a cópia em espanhol, conforme História do Brasil nos velhos mapas de Jaime Cortesão.

Porém, verificou-se que havia erros de longitude na representação cartográfica, favorecendo aos interesses de Portugal. Segundo Max Justo Guedes, a região do “Alto Paraguai havia desviado para o leste entre quatro e sete graus, a extensão do Rio Amazonas-Solimões reduzida em três graus e os afluentes do mesmo rio, notadamente o Madeira e seu formador o Guaporé, e o Tocantins chegaram a ter desvios de nove graus”.

Em conseqüência deste tratado, foram organizadas duas comissões mistas (portuguesa e espanhola), uma para operar na região setentrional e, outra, no Sul, cada uma subdvidida em três partidas, responsáveis pela demarcação dos limites em trechos bem definidos. A comissão mista do Sul, tinha por missão fazer o levantamento de demarcação, desde Castilhos Grandes (atual cidade de Castillos, no Uruguai), na margem atlântica até o Rio Jauru, no Paraguai. Foram seus comissários Gomes Freire de Andrade, do lado de Portugal e Marquês de Val de Lírios, de Espanha. Suas três subdivisões trabalharam entre 1752 e 1759 com interrupção de 1754 e 1756, devido à Guerra Guaranítica. Dentre os participantes destacam-se do lado português: José Custódio de Sá e Faria, José Fernandes Pinto Alpoim, Manuel Viera Leão, Manuel Pacheco de Christo, Miguel Ângelo Blasco e Miguel Antônio Ciera. Eles elaboraram cartas, sendo algumas junto com a comissão espanhola.

A Biblioteca Nacional possui uma série de cartas digitalizadas de José Custódio de Sá e Faria referentes ao levantamento de demarcação.

Além das cartas de Sá e Faria, a Biblioteca Nacional possui um trabalho de Miguel Antonio Ciera que foi doado ao Rei de Portugal, intitulado Mappa geographicum quo flumen Argentum, Paraná et Paraguay exactissime nune primum describuntur, facto inito a nova Colonia ad ostium usque fluminis iauru ube, ex pactis finuim regundorum... 1758

As comissões mistas para o Norte, também subdivididas em três partidas, tinham como chefes, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do Marquês de Pombal, do lado português, e d. José Iturriaga, do lado espanhol. Mais tarde Mendonça Furtado foi substituído por d. Antônio Rolim de Moura, Conde de Azambuja, Governador de Mato Grosso e posteriormente vice-rei do Brasil. A primeira partida foi incumbida de fazer o levantamento do trecho entre a confluência dos rios Jauru e Paraguai e o curso médio do Madeira; a segunda, o traçado da linha paralela Madeira-Javari, e a terceira, Solimões abaixo e Japurá acima, se encarregaria de estabelecer os limites pelas cordilheiras setentrionais até a foz do Oiapoque no Atlântico. Participaram desta comissão: Antônio José Landi, João André Schwebel, Gaspar João Geraldo Gronsfeld, Adão Leopoldo Breunig, Henrique Antonio Galluzzi, Sebastião José da Silva, Felipe Sturm e o pe. Inácio Sermatoni (Stenmartony). As comissões espanhola e portuguesa iriam se encontrar na aldeia de Mariuá, atual cidade de Barcelos, no Estado do Amazonas. Mas, não houve o encontro, e os trabalhos não foram realizados em conjunto. A comissão portuguesa ficou desempenhando o trabalho de reconhecimento geográfico nas margens do rio Negro, deixando uma produção cartográfica bastante apreciável. Landi traçou planos de alguns edifícios civis e religiosos em Belém, que hoje pertencem à Divisão de Iconografia da Biblioteca Nacional.

Em 1761, foi assinado o Tratado de Pardo, que anulou o Tratado de Madri. A partir daí começaram as hostilidades dos colonizadores espanhóis no sul do Brasil e na fronteira ocidental. Alguns mapas existentes na Biblioteca Nacional, que retratam esta época são: Mapa da Ilha de Santa Catarina, com o canal e a terra firme de José Custódio de Sá e Faria e Plano da região do Rio Itenes ou Guaporé e seus afluentes afluentes com a situação da fortaleza de Nossa Senhora da Conceição dos Portugueses..., de Miguel Blanco Crespo.

Em 1º de outubro de 1777, foi assinado o Tratado preliminar de Santo Ildefonso que estabeleceu novos limites entre as possessões portuguesas e espanholas na América do Sul. Ao contrário do Tratado de Madri, cujos negociadores dispuseram do Mapa das Cortes, o governo espanhol e seus assessores técnicos não puderam utilizar o Mapa geografico de America Meridional de Juan de la Cruz Cano y Olmedilla, publicado em 1775, e gravado em oito folhas, que, apesar de minucioso e bastante exato para a época, não favorecia seus interesses. A Biblioteca Nacional possui dois exemplares entelados em 2 partes.

Para a execução deste Tratado, foram nomeadas quatro comissões mistas encarregadas de demarcar as fronteiras entre as colônias espanhola e portuguesa na América do Sul. A primeira se estenderia do Chuí ao Igureí (Região Sul); a segunda do rio Igureí ao Jauru (Regiões Sul e Centro-Oeste). A terceira partiria do rio Jauru, até o ponto médio do curso do Madeira, de onde sairia a linha paralela rumo ao Javari, e por este e pelo Solimões abaixo, até a boca mais ocidental do rio Japurá; e a quarta, subindo este rio e outros, alcançaria as cordilheiras que separam as bacias do Amazonas e do Orenoco, demandando o rio Oiapoque até sua foz no Atlântico. Salvo modificações no trecho da fronteira meridional, a linha divisória nos demais segmentos era a mesma do Tratado de Madri.

Os integrantes da partida responsável pela demarcação do setor sul foram: Sebastião Xavier da Veiga, Francisco João do Roscio, Alexandre Elói Portelli, José Saldanha, Francisco de Chagas Santos e Joaquim Félix da Fonseca, por parte portuguesa; José Varella y Ulloa, Rosendo Rico Negron, Bernardo Lecocq, Joaquim Gundin, Diogo de Alvear y Escalera, José Maria Cabrer e André de Oyarvide, pelo lado espanhol.

Os participantes da terceira partida, Região Centro-Oeste por parte de Portugal foram João Pereira Caldas (Comissário da terceira e quarta comissões, fora também governador do Grão-Pará), Ricardo Franco de Almeida Serra, Joaquim José Ferreira, Antonio Pires da Silva Pontes Leme, e Francisco José de Almeida e Lacerda.

No lado espanhol, o representante Felix de Azara foi brilhante nos trabalhos de levantamento que executou. É da sua autoria a Carta esferica o reducida de las provincias del Paraguay y Missiones Guaraniscon el Distrito de Corrientes. A Biblioteca Nacional possui três cópias manuscritas. Na realidade, espanhóis e portugueses nunca realizaram um trabalho de conjunto na fronteira ocidental.

A equipe portuguesa da quarta partida, na Região Norte, foi constituída por: Pereira Caldas (Governador do Grão Pará e primeiro comissário), Teodósio Constantino de Chermont, Francisco José de Lacerda, Henrique WilKens Matos, José Simões de Carvalho , Euzébio Antônio de Ribeiros, José Joaquim Vitório da Costa, Pedro Alexandrino Pinto de Sousa e Manuel da Gama Lobo de Almada. A Biblioteca Nacional possui alguns mapas destas comissões.

Quanto ao lado espanhol, a quarta comissão teve como primeiro comissário d. Francisco de Requena. A Biblioteca Nacional possui um fac-símile sob o título Mapa geografico de la mayor parte de la América Meridional que contiene los paises por onde debe trazarse la linea divisoria que divida los dominios de España y Portugal, publicado no século XIX.

Nesta época era governador da Capitania de Mato Grosso Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres (1772-1790), que foi um grande administrador. Ele reforçou o esquema defensivo da fronteira mandando construir o Forte de Coimbra (1775), na borda esquerda do Paraguai, e o Real Forte Príncipe da Beira (1776), na margem direita do Rio Guaporé, Rondônia. Fundou também povoações e promoveu explorações fluviais e terrestres em várias regiões da capitania. A Biblioteca Nacional possui: Carta em q se mostra a corrente dos rios Guaporé e Mamoré a principiar em Va. Bella captal. do Mato Grosso, oferecida a rainha de Portugal, d. Maria I por este governador e Planta da nova Povoação de Cazalvasco.

Ainda no século XVIII, os governadores das capitanias das Regiões Nordeste e Sudeste contrataram cartógrafos e engenheiros militares para fazerem o levantamento das áreas sob sua administração. Dentre eles destacaram-se José Joaquim da Rocha, que elaborou diversas cartas da Capitania de Minas Gerais, Manuel Vieira Leão, que produziu entre outros trabalhos cartográficos, o mapa da Capitania do Rio de Janeiro, em 16 folhas, Mariano Gregório do Amaral, que compôs cartas da Capitania do Ceará ARC.025,02,009. A capitania de São Paulo teve dois notáveis governadores d. Luis Antônio de Souza Botelho Mourão, Morgado de Mateus (1765-1775) e Bernardo José Maria de Lorena e Távora (1788-1797). O primeiro providenciou a fundação do presídio de Iguatemi, o descobrimento de Guarapuava, a exploração do Vale do Tibagi e a fundação de vários estabelecimentos na comunicação entre o Rio Grande do Sul e São Paulo. A Biblioteca Nacional adquiriu, em 1952, a Coleção de Morgado de Mateus. Dentro desta coleção existe uma boa quantidade de mapas referentes aos trabalhos feitos durante o seu governo. O segundo governador, contou com a eficiente colaboração de dois engenheiros militares, João da Costa Ferreira e Antônio Rodrigues Montesinhos, responsáveis por inúmeras obras públicas, como a famosa calçada do Lorena (estrada ligando a cidade de São Paulo ao porto de Santos), além da elaboração de inúmeros mapas e cartas hidrográficas do litoral. A Biblioteca Nacional possui uma carta manuscrita do Litoral entre São Paulo e Santa Catarina, de João da Costa Ferreira.

Além destes mapas, merecem ser citados: cartas náuticas de José Fernandes Portugal como Plano do Rio de Janeiro e Carta reduzida do Oceano Atlântico; carta náutica de Antônio José de Araújo, intitultada Parte da costa do Brasil ; e documentos cartográficos de viajantes como La Perouse.

Conclusão

A Biblioteca Nacional conta com uma vasta documentação cartográfica histórica sobre o Mundo e suas partes, e também sobre o espaço celeste. Quanto à esfera terrestre, abrange os mais variados assuntos como viagens, descobertas, planos de exploração e colonização, fundação de núcleos de povoamento, fixação de fronteiras, construção de fortificações, guerras etc, que vão do Mundo Antigo ao Moderno. São documentos manuscritos e gravados (xilogravuras e gravuras em metal) que remontam ao século XV e se estendem aos primórdios da litografia, no início do século XIX.

O acervo cartográfico raro pôde ser restaurado, analisado, catalogado, digitalizado e disponibilizado na Internet pelo Projeto Biblioteca Virtual da Cartografia Histórica dos Séculos XVI e XVIII. O Projeto, patrocinado pela FINEP— Financiadora de Estudos e Projetos—, possibilitou reunir toda a coleção existente nas diversas áreas da Biblioteca Nacional, inserindo-a em uma única base e divulgando-a aos interessados do mundo inteiro.

O Projeto também ofereceu uma compreensão melhor da expansão territorial do Brasil até o final do século XVIII, época em que começou a oficializar a sua configuração geográfica.

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[1] Plano= Planta, carta elaborada em escala grande.

[2] Códice ou Códex= grupos de folhas manuscritas sobre pergaminho (às vezes em papel) unidas em forma de livro.

[3] Mapa-múndi de Ebstorf= esta denominação tem por origem o fato do mapa de ter sido preservado no mosteiro beneditino em Ebstorf, até a sua descoberta em 1830. Quinze anos mais tarde foi transferido para o Historisches Verein für Niedersachsen (Museu Histórico da Baixa Saxônia), em Hannover, Alemanha. Durante a II Guerra Mundial, o mapa foi desaparecido em decorrência do bombardeamento da cidade, restando apenas fac-símiles e fotografias.

[4] Mapa-múndi de Hereford= mantém-se preservado na Catedral de Hereford, na Inglaterra.

[5] Incunábulo= obra impressa desde a origem da imprensa, meados do século XV, até 1500.

[6] Ceuta= hoje cidade espanhola, situada na costa da África, diante do Gibraltar (Espanha), no Estreito de Gibraltar.

[7] Santa Helena, Ilha= localizada na parte sul do Oceano Atlântico. Foi descoberta pelos portugueses em 1502. Em 1633, a Ilha foi anexada oficialmente aos holandeses, e em 1659, tornou-se colônia britânica. Foi o local onde Napoleão Bonaparte se exilou, em 1815.

[8] A planta de Funchal faz parte do volume Mappas do Reino de Portugal e suas conquistas

[9] Padrão real= Planisfério que servia de modelo para elaboração de outros mapas até o século XVI, existente no Armazém da Guiné e da Índia, conhecido como Casa da Índia – centro oficial da cartografia.

[10] KUNSTMAN, Friedrich. Atlas zur entdeckungsgeschite Amerikas...München : In Commission bei A. Asher & Cie in Berlin, 1859. 1 atlas :13 fac-sims., mapas col. Todas as cartas são chamadas pelo nome de Kunstman, com o número de suas seqüências, como Kunstman III e IV, terceira e quarta cartas do atlas. Estas cartas que outrora pertenciam a Wehreisbücherei de Munique (Alemanha), desapareceram na Segunda Guerra Mundial.

[11] Parergon= Palavra grega significa acréscimo, suplemento. Ortelius incluiu em 1579 um suplemento de mapas históricos e religiosos da Antiguidade.

[12] Filipino= pertencente ou relativo à dinastia dos Filipes (Filipe I, II e III) em Portugal e Espanha, entre 1580-1640

[13] Tordesilhas, Tratado de= Tratado assinado em Tordesilhas, Espanha, em 1494, onde fixava as novas colônias espanholas a 370 léguas (ca.2220 km.) a oeste de Cabo Verde.

[14] Inaciano= relativo ao fundador da Companhia de Jesus, Santo Inácio de Loyola (1491-1556).

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