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A Cartografia Histórica: do século XVI ao XVIII

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LITORAL DO BRASIL ENTRE AS ILHAS SÃO SEBASTIÃO, SÃO PAULO, E SANTA CATARINA, NO ESTADO DO MESMO NOME

O mapa com o título atribuído “[Litoral do Brasil entre as Ilhas São Sebastião, São Paulo, e Santa Catarina, no Estado do mesmo nome]” foi feito por João da Costa Ferreira no final do século XVIII.

João da Costa Ferreira era engenheiro militar com vasta experiência em obras civis e militares. Destacou-se em Portugal nas obras da reconstrução de Lisboa e em obras de edifícios públicos como hospitais, museus e laboratórios. No Brasil, foi o que mais se destacou entre os engenheiros enviados, principalmente devido à sua contribuição à capitania de São Paulo.

Entre outros trabalhos, levantou o mapa da costa da capitania, tombou as matas reservadas às construções reais, preparou o palacete, a alfândega e o hospital de Santos além da calçada da Serra de Paranapiacaba, a “Calçada do Lorena”.

Este mapa mostra a Ilha de São Sebastião (atual Ilha Bela), os rios Paraibuna, Paraitinga e Paraíba “este rio vai fazer barra nos Campos dos Goytacazes”, a vila de Lorena, de onde parte o “caminho do sertão para o Rio de Janeiro”, a vila de Guaratinguetá, de onde parte o “caminho da boiada para o Rio de Janeiro”, as vilas de Pindamonhangaba, Taubaté e Jacareí, a serra da Mantiqueira, Mogi das Cruzes, o rio Tietê, Nossa Senhora da Ajuda, São Miguel, a cidade de São Paulo, São José de Atibaia, Jaguari, Jundiaí, São Roque, a vila de Itu, os rios Capivariguaçu, Capivari mirim e o Piracicaba, Piracicaba, Itapetinga, o rio Paranapitanga, as minas de ouro de Paranapanema e da serra do Mar, o rio Jagurá que “tem ouro”, o rio São Lourenço que “tem ouro”, a vila de Santos, a vila de Itanhanhém, a aldeia de São João, a vila de Iguape, as minas de ouro da ribeira de Iguape, as minas de ouro da vila de Piauí, o rio Bananal, as vilas da Cananéia, de Ararapira e de Paranaguá, a barra do Sal, o rio Cubatão, o “caminho de Curitiba para a vila de Cubatão”, o “caminho das boiadas”, o rio Guaratuba, a vila de Guaratuba, a serra da Prata, o rio Tajaí que “tem ouro”, a enseada das Laranjeiras, a Ponta dos Garapos, o rio dos Tojucos Grande que “tem ouro”, a Ponta das Canavieiras, a Ilha de Santa Catarina e Santo Antônio.

Quanto à exploração do ouro de aluvião, podemos dizer que mostrou-se uma atividade rapidamente lucrativa. Em 1702, foi feito o Regimento dos Superintendentes, Guarda-Mores e Oficiais Deputados para as Minas de Ouro. A principal inovação do Regimento foi a criação da Intendência das Minas em todas as Capitanias que houvesse extração de ouro, instituição dotada de funções múltiplas, sobretudo as de ordem fiscal e de repressão ao contrabando. Abaixo das Intendências vinham as Casas de Fundição, onde se deveria recolher, fundir em barras e “quintar” – retirar o quinto da Coroa – todo o ouro extraído. Feito isso, o ouro podia circular a vontade, e havia mesmo a possibilidade de circulação de ouro em pó, restrito à capitania, dada a impossibilidade de alguns mineradores juntarem ouro suficiente para formar barra.

O historiador Ronaldo Vainfas lembra que havia dois tipos de extrações auríferas: a das lavras – jazidas organizadas em grande escala e com aparelhamento para a lavagem do ouro; e a dos faiscadores, que empregavam somente a bateia, o cotumbê e ferramentas toscas, reunidos num ponto franqueado a todos, cada qual trabalhando por si. Os faiscadores eram homens livres e pobres, havendo mesmo escravos entre eles, que entregavam quantia fixa ao senhor e guardavam o eventual excedente.

Cabe ressaltar que a abrangência geográfica da mineração estende-se desde a Serra da Mantiqueira, na capitania de Minas Gerais até a região de Mato Grosso e Goiás, sem contar com os veios insignificantes em São Paulo ou na Bahia. Todavia, nenhum deles superou os de Minas Gerais, onde foi criado o maior número de “registros”, postos fiscais incumbidos de receber o “direito de entrada” dos produtos que passavam às Minas, fossem originários do reino ou de outras capitanias.

Segundo Celso Furtado, apesar de ter estimulado a forte alta de preços nos gêneros alimentícios, e ter gerado, portanto, a fome, a mineração trouxe saldo positivo para algumas regiões coloniais, fomentando o desenvolvimento, de áreas abastecedoras, como o incentivo da criação de gado no sul e no nordeste do Brasil.

É importante mencionar que foram criadas estradas específicas para a região, como o Caminho dos Currais do Sertão, para a Bahia; o Caminho Velho, que ligava o rio das Mortes e o arraial de Vila Rica aos portos de Santos ou Parati, passando pelo interior de São Paulo; e o Caminho Novo para o Rio de Janeiro, passando pelos rios Paraíba, Paraibuna, Irajá e Iguaçu.


REFERÊNCIAS

CANO, W. Economia do ouro no Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1969.
CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas. Rio de Janeiro: Instituto Rio Branco, 1957. Tomo II.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1959.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Metais e Pedras Preciosas. In: HGCB. 4.ed. São Paulo: Difel, 1977. v.2, p.259-310.
PINTO, Alfredo Moreira. Apontamentos para o Diccionario Geographico do Brazil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1899.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

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