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O Amigo do Homem

24 maio 2018

Artigo arquivado em Hemeroteca
e marcado com as tags Conservadorismo, Crítica política, Dom Pedro I, Imprensa Áulica, Imprensa oficial, Portugueses no Brasil, Primeiro Reinado

Lançado em São Luís (MA) a 3 de janeiro de 1827, O Amigo do Homem foi um periódico de debate político durante os primeiros momentos da imprensa maranhense, no apagar de luzes do Primeiro Reinado. Frente ao ativismo político pela causa liberal, à época, onde a observação aos princípios constitucionais e a rejeição ao absolutismo tinham grande expressão, trazia o emblema imperial em seu cabeçalho e defendia, embora de forma não tão explícita quanto outros periódicos locais, os interesses da colônia portuguesa no Maranhão: comerciantes e funcionários públicos lusitanos, na província, tinham fortes laços com a metrópole desde os tempos coloniais, algo que poucos anos antes dificultou a adesão maranhense à Independência. Reconhecendo Dom Pedro I, para quem o antilusitanismo não deveria ser exagerado, como liderança máxima, tinha certo rigor oficialesco: dava apoio ao governo provincial de Pedro José da Costa Barros, publicando diversos de seus atos oficiais, sobretudo os assinados pelo secretário de governo Joaquim Ferreira França – além de divulgar para o público maranhense artigos de ofício da Corte. Sabe-se que O Amigo do Homem acabou não passando de um ano de circulação, tendo sido editado por somente dois semestres: circulou até 29 de dezembro de 1827.

Entre 1821 e 1831, circularam em São Luís cerca de 13 periódicos de matizes políticas distintas, propensos ao debate à medida em que serviam aos interesses de grupos políticos locais. Tais entraves políticos, afinal, davam-se na imprensa a partir de diferentes interpretações que as elites políticas e intelectuais faziam do liberalismo, sempre adaptado de acordo com seus interesses de classe ou grupo social. Alguns dos principais interlocutores desses debates foram, além d’O Amigo do Homem, O Censor Maranhense, A Bandurra (ambos também ligados à população portuguesa na província), Farol Maranhense, Minerva, A Cigarra, O Argos da Lei (que muito rivalizava com O Amigo do Homem e com o Censor) e A Estrela do Norte do Brasil: folhas que debatiam temas ligados à Independência e à monarquia constitucional, bem como aos direitos políticos dos cidadãos. Por parte dos periódicos mais explicitamente liberais havia grande crítica aos abusos de autoridades, apontadas como déspotas, em acusações que normalmente recaíam sobre funcionários públicos da alta burocracia, em sua maioria portugueses. Estes eram acusados de conspirar para o retorno do Maranhão ao sistema colonial, trabalhando, portanto, contra os interesses imperiais brasileiros, algo que aumentava o antilusitanismo entre os maranhenses.

Fontes:

- Acervo: edições do nº 1, de 15 de janeiro de 1828, ao nº 23, de 31 de dezembro de 1828.
- MADUREIRA, Vicente Antônio. José Cândido de Moraes e Silva. Revista Outros Tempos volume 6, número 8, dezembro de 2009 - Dossiê Escravidão. Disponível em: http://www.outrostempos.uema.br/vol.6.8.pdf/Vicente%20Madureira.pdf. Acesso em: 25 abr. 2016.