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O Brasil Encontra o Extremo Oriente: a Missão Chinesa (1880)

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O início da ‘Questão Chinesa’

Nos anos de 1860, a ideia de usar trabalhadores chineses e indianos em substituição a mão de obra escravizada africana se disseminou rapidamente pelo mundo, e vários países do continente americano, como os Estados Unidos, México, Peru e Cuba adotaram essa política. A sociedade brasileira ficou bastante interessada nesses projetos, e vários intelectuais se pronunciaram a respeito, iniciando um intenso debate que duraria décadas. Quintino Bocaiuva (1868) foi um dos primeiros pensadores a discutir a viabilidade de trazer chineses para cá, em um sistema de contratação temporária alternativo ao da imigração. Após esse início, vários outros estudos foram publicados, como os de Xavier Pinheiro (1868), Galvão & Macedo (1870) e Moreira (1870). Alguns apoiavam a ideia por entender que os chineses poderiam representar a transição do trabalho escravizado para o trabalho assalariado, sem constituir uma imigração definitiva. Além do custo de sua contratação ser baixo, eles eram conhecidos como laboriosos e incansáveis. No outro lado, os opositores entendiam a vinda dos chineses como uma nova forma de escravidão, mascarada por contratos aviltantes e por um tratamento desumano; muitos preocupavam-se também com o ‘contágio racial’ da sociedade e, de forma preconceituosa, argumentavam que os chineses poderiam trazer hábitos e costumes estranhos, prejudiciais à constituição do povo brasileiro. Entre prós e contras, todas as opiniões se baseavam em leituras de relatórios, notícias e relatos de viagens feitas por estrangeiros – até então, o império brasileiro nunca enviara representantes até a China ou a Índia para tratar do assunto diretamente.

Fig. 06 - Coolies chineses no Panamá, séc. 19. Fotografia.
Fonte: Acervo da Fundação Biblioteca Nacional


Fig. 07 - George Chinnery (1784-1852) foi um pintor inglês que realizou várias pinturas e gravuras sobre Macau. Nessa, vemos os chineses lendo uma proclamação para trabalhar no estrangeiro, se transformando em 'cules' (em inglês, 'coolies'). Publicada na revista The Studio, n.94.
Fonte: Acervo da Fundação Biblioteca Nacional


Fig. 08 - Muitos acreditavam que o Brasil poderia se tornar uma nova China nos trópicos, sem lembrar do quão oriental nosso país já era, graças as influências seculares de macaenses, chineses e indianos no país. A caricatura é do jornal 'A Vida Fluminense' [n.139, 1870, p. 272],
Fonte: Acervo da Fundação Biblioteca Nacional


Fig. 09 - Imagem da Revista Illustrada criticando a vinda dos chineses [1878, n.120, p. 8].
A revista pode ser consultada no portal da Hemeroteca da BN.
Fonte: Acervo da Fundação Biblioteca Nacional


Fig. 10 - Imagem da Revista Illustrada, A 'ameaça a lavoura', representada como a moça intimidada na segunda imagem [1879, n.175, p.4]. Fonte: Acervo da Fundação Biblioteca Nacional


Fig. 11 - Rara fotografia de Coolies chineses embarcados, final do séc. 19.
Fonte: Acervo de Hsu Chung Mao (imagem colorizada – Uso autorizado)

A questão se arrastou por uma década, mantendo-se viva pelas disputas acesas que se desenrolavam nos jornais. Sátiras e charges dos chineses eram publicadas nos periódicos cariocas, envolvendo o povo no debate. Em 1878, a realização de dois congressos agrícolas, visando debater o futuro da lavoura, trouxe à tona a necessidade urgente de discutir o fim da escravidão, e o que viria em seguida. A opção de trazer trabalhadores chineses rapidamente se espalhou como uma solução rápida e econômica; e a discussão generalizada em torno desse projeto se transformaria na ‘Questão Chinesa’, que acompanharia a história de nosso país até o final do império.

 

»Veja mais: os artigos de Rogério Dezem sobre a ‘Questão chinesa’ e Kamila Czepula, ‘A questão dos trabalhadores "chins": salvação ou degeneração do Brasil? (1860-1877)’.


 

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