BNDigital

Por Naira Silveira

Num primeiro momento o termo “índio” dominou as falas e os catálogos das bibliotecas. Logo depois, observada sua inconsistência, adotou-se o termo “indígena”. Atualmente um novo termo surge: “povos originários”, que representam aqueles povos que existiam em determinadas localizações antes da colonização. Portanto, os povos originários brasileiros são os indígenas que habitavam o país antes da chegada dos portugueses. Na Nova Zelândia, os povos originários são os Maori.

Enfim, em termos biblioteconômicos poderíamos afirmar que povos originários seriam um termo geral enquanto que indígenas e Maori seriam seus respectivos termos específicos.

As mudanças terminológicas estão presentes na sociedade de modo geral, desde o surgimento de novos termos provocados pelo aparecimento de novas tecnologias, como releituras e revisitação ao passado com o olhar contemporâneo. Em relação às terminologias, cabe uma reflexão apresentada por Nêgo Bispo:

 

Esses povos até hoje são chamados de “índios”, exatamente porque os portugueses pensavam ter chegado às Índias. [...] Como sabemos, esses povos possuem várias denominações. Os colonizadores, ao os generalizarem apenas como “índios”, estavam desenvolvendo uma técnica muito usada pelos adestradores, pois sempre que se quer adestrar um animal a primeira coisa que se muda é o seu nome (Santos, 2015, p. 26-28).

O que se observa em relação ao termo “índio” é a sua gradual alteração para “indígena”, assim como a necessidade de se adotar o termo “povos originários” para classificação mais geral terminológica. No catálogo da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) o termo indígena é adotado, não se adota mais o termo índio, considerado pejorativo, precário e impreciso historicamente.

Figura 1 – Registro de autoridade de Indígenas.

Fonte: Fundação Biblioteca Nacional (2022)

Destaca-se que toda mudança terminológica que se inicia na sociedade, demandada por diferentes atores, culmina na alteração terminológica nos vocabulários controlados das bibliotecas, consequentemente refletindo-se em seus catálogos.

A Fundação Biblioteca Nacional conta com a Comissão Interna de Tratamento da Informação “com a finalidade de deliberar sobre a política institucional de processamento técnico biblioteconômico, incluindo formato de registro bibliográficos, catalogação, classificação e indexação dos acervos geral, especial e de publicações seriadas”. Configura-se como a instância técnica para se estudar a inclusão, atualização e alteração dos termos que compõem o Catálogo de Autoridades da FBN. Toda demanda terminológica passa por especialistas que estabelecem a sustentação teórica e prática para as mudanças necessárias e o fluxo a ser adotado.

No momento, muitos termos estão sendo estudados. A Comissão reconhece as demandas sociais e a necessidade de tais mudanças terminológicas. Reafirma-se o papel da Fundação Biblioteca Nacional como centro de referência para informações bibliográficas e como entidade responsável pelo controle bibliográfico nacional. Sendo, assim, reconhece-se a importância da FBN neste cenário e a sua responsabilidade em atender e disseminar o uso de termos com representatividade mais justa e condizente com a interpretação contemporânea.

Referências

BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Portaria n° 17, de 11 de Abril de 2023. Revigora a Comissão Interna de Tratamento da Informação (CITI), constituída pela Decisão Executiva n° 25, de 9 de dezembro de 2011. Disponível em: https://sei.bn.gov.br/sei/modulos/pesquisa/md_pesq_documento_consulta_externa.php?yPDszXhdoNcWQHJaQlHJmJIqCNXRK_Sh2SMdn1U-tzPAAL7rVZeEVSrMC4hHc3JZXpLXI9V6YwdWwVDZUQvWX8MCf-DhcY4sm8Wu2bjcButhvZCwXZ_OKrw9QkeHlSbt. Acesso em 26 dez. 2023

BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). [Registro de autoridade de] Indígenas. In: BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Catálogo de autoridade. Rio de Janeiro: FBN, 2022. Disponível em: https://acervo.bn.gov.br/sophia_web/autoridade/detalhe/37920?i=1&guid=1703729462633&returnUrl=%2Fsophia_web%2Fautoridade%2Findex%3Fguid%3D1703729462633%26p%3D1. Acesso em: 28 dez. 2023.

SANTOS, Antônio Bispo dos. Colonização, quilombos: modos e significados. Brasília, DF: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa, 2015.