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Tradução de Cantos e Narrativas dos Povos Originários para o português…

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Apresentação

Nesse ano de 2023, a Fundação Biblioteca Nacional (FBN) instituiu em seu tradicional Prêmio Literário uma categoria chamada “Histórias de tradição oral – Prêmio Akuli”. A nova premiação está voltada para relatos e narrativas orais de povos originários, quilombolas e ribeirinhos, quando fixadas em livro. No Prêmio Literário da FBN, cada categoria é acompanhada de um indivíduo representativo do que se está condecorando. Nesse caso, trata-se de Akuli, “alcunha de Moseuaípu, jovem sábio da tribo Arekuná. Íntimo dos saberes da floresta, foi um exímio narrador de histórias ancestrais” (Prêmio, 2023).

Seus relatos orais foram fixados em papel pelo etnógrafo alemão Theodor Koch-Grünber (1872-1924). Depois de publicados, encantaram Mário de Andrade (1893-1945), que se valeu das narrativas transmitidas por Akuli para escrever sua obra maior, Macunaíma, o herói sem nenhum caráter.

A instituição do Prêmio Akuli tem por objetivo agregar a um movimento cada vez mais forte de agenciamento e protagonismo dos povos originários. A trajetória do acervo histórico ‘indígena’ da Biblioteca Nacional está majoritariamente atravessada pela mediação do ‘outro’. O papel, suporte da palavra escrita, da aquarela, do desenho, da gravura ou da fotografia, está na razão de ser de uma instituição como a FBN. A voz que conecta no mesmo instante o narrador ao ouvinte funciona em sua ambientação, com a presença compartilhada e sincrônica. Sociedades orais, como os povos originários ‘brasileiros’, nos legaram seus registros fixados em papel pelas mãos de brancos. Mas isso ficou no passado. Macunaíma já foi devidamente reapropriado por quem é de direito (Esbell, 2019). As oníricas ilustrações de capa da nova edição de Theodor Koch-Grünber foram pintadas por um Macuxi, natural das redondezas do mesmo Monte Roraima de Akuli, Jaider Esbell (1979-2021). Em memória...

Idealmente, a organização desse Dossiê Digital deveria estar sendo realizada em colaboração com as partes interessadas, os agentes centrais dessas narrativas. Nesse sentido, permanecemos atados à objetificação dos sujeitos. Uma parte significativa das peças sobre os povos originários existentes no acervo da Biblioteca Nacional sofre desse viés. Fruto de uma herança colonial/imperial e de visões de mundo predominantemente brancas, a grande Biblioteca do Brasil parece aos poucos reconhecer que boa parte de seu patrimônio documental reflete essa trajetória do país. Em especial, a de seus segmentos dominantes. Suas coleções e seus colecionadores, seus ‘beneméritos’ doadores inscritos na trajetória da instituição não deixam dúvidas. No entanto, como se trata de uma obra em construção – a Biblioteca Nacional e o Dossiê! –, ainda é tempo.

Este Dossiê busca, então, ressaltar as diferentes modalidades de inscrição de relatos orais no acervo da instituição a partir dos agentes de sua fixação. Ele está preliminarmente dividido em três partes, que poderão ser modificadas com seu andamento. A parte final, “Por nós mesmos...”, busca reunir a rica produção indígena das últimas décadas.


Referências

ESBELL, Jaider. Makunaimã: o mito através do tempo. Galeria Jaider Esbell, 13 set. 2019. Disponível em: http://www.jaideresbell.com.br/site/2019/09/13/makunaima-o-mito-atraves-do-tempo/. Acesso em: 24 dez. 2023.

PRÊMIO Literário da Biblioteca Nacional tem inscrições abertas. [Notícias FBN], Rio de Janeiro, 26 jun. 2023. Disponível em: https://www.gov.br/bn/pt-br/central-de-conteudos/noticias/premio-literario-da-biblioteca-nacional-tem-inscricoes-abertas. Acesso em: 19 dez. 2023.

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