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Introdução

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Introdução

No Correio da manhã, em 15 de setembro de 1921, publica-se um artigo sobre as comemorações do sexto centenário de Dante Alighieri, na cidade do Rio de Janeiro. Logo no início do texto, lêse: “Neste recanto bárbaro da terra, também as almas se comoveram à leitura dos poemas de Alighieri. Porque não há em todo o mundo quem não se emocione às dores eternas e às eternas venturas que o rhapsodo guelfo celebrou nos seus versos esplendidos”. Barbárie e rapsódia podem refletir bem o percurso da mostra Dante: poeta de toda a vida. Nesse recanto bárbaro da terra, agora, podemos ler Dante atravessado por outras culturas, numa relação bárbara e plurilíngue de alteridade, assim como a voz rapsódica do poeta irá se mesclar com outras vozes, e os improvisos ficam todos a cargo do espectador, que ao longo do percurso irá ampliar ainda mais os espaços infernais, purgatoriais e paradisíacos da Divina Comédia.


A mostra compartilha com o público um percurso que leva em consideração o acervo literário de Dante, assim como de escritores e críticos que renderam homenagem ao poeta, e o acervo iconográfico, com ilustrações, retratos, xilogravuras, que se relacionam, ao mesmo tempo, com a imagem física do poeta e com o imaginário dos três cantos da Divina Comédia. Os espectadores
irão percorrer, durante a visita à mostra, cinco ciclos, que montam um campo abrangente de investigação, com o intuito de oferecer a todos a rede rica e complexa que envolve a obra do poeta italiano.

No primeiro ciclo, o visitante terá acesso a edições raras da Divina Comédia, que foram doadas ao acervo da Biblioteca Nacional. Tais edições trazem singularidades como censuras feitas durante
o Renascimento, assim como ilustrações de artistas que através de seus retratos, xilogravuras, ilustrações alimentam o imaginário do poema de Dante.

No segundo ciclo, outras obras de Dante, como Vita Nuova, o Canzoniere, de Francesco Petrarca, o Decameron, de Giovanni Boccaccio, assim como a biografia sobre Dante escrita por Boccaccio, são destacadas para oferecer um maior conhecimento acerca da relação – com semelhanças e diferenças – das obras dessas “três coroas”.

No terceiro ciclo, destacam-se os estudos dantescos no período do “Ressurgimento” italiano e o aparecimento das traduções de suas obras no Brasil. Nesse ciclo é importante destacar o conflito de linhas de forças que, por um lado, veem em Dante – o pai da língua italiana – o modelo de unificação linguística, e, por outro, desarmasse tal compreensão a partir da proliferação das traduções de suas obras em diversos países.

No quarto ciclo, destaca-se a relação entre Dante e os escritores brasileiros. Neste ciclo, o objetivo é trazer à tona os escritores brasileiros que estabeleceram em suas composições poéticas
um íntimo contato com a obra de Dante, como é o caso de Carlos Drummond de Andrade, Haroldo de Campos, J. Montenegro Cordeiro, Mello Moraes Filho e Dom Pedro II, para citar alguns deles.

No quinto ciclo, ressalta-se o papel da crítica dantesca no Brasil. É de fundamental importância os estudos de pesquisadores como Gian Pietro Ricci, Alfredo Bosi, Luís Câmara Cascudo, Marco Lucchesi, Andrea Lombardi, Eduardo Sterzi, só para citar alguns.

Cada um dos ciclos traz uma série de materiais iconográficos, assim os espectadores estabelecerão uma relação íntima existente entre escritura e imagem.

A mostra ainda contará com um ciclo de conferências, com a presença de pesquisadores nacionais e internacionais, com o intuito de discutir com o público a riqueza do pensamento e da obra
de Dante Alighieri.

 

Davi Pessoa e Maria Pace Chiavari
Curadores


Cronologia Dante

Entre eruditos e curiosos, até hoje permanece aberta a pergunta se a efígie ideal de Dante, conservada através dos séculos, pode se aproximar à aparência do personagem. Em ocasião de uma recente exposição em Brescia, na Itália, o retrato de Dante foi definido como um dos primeiros retratos “modernos” da Idade Média. Até os séculos XIV e XV, poucos tinham a preocupação acerca da semelhança e individualização em relação ao sujeito retratado. Ao longo dos séculos, os numerosos retratos produzidos permitiram que se chegasse, através de mudanças e repetição dos tratos mais salientes, a um cânone não escrito a partir do qual é possível reconhecer o grande poeta sem precisar de mais informações sobre sua identidade.