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Os Sertões

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Os Sertões


Narrativa épica-dramática e ensaio literário-científico, Os sertões (1902), de Euclides da Cunha, entrelaça explicação científica e denúncia social. Valendo-se de geologia, botânica e etnografia, entre tantos outros saberes, Euclides descreve o “martírio da terra” nas secas devastadoras, a labiríntica paisagem das caatingas espinhentas, a escassez material e a aguerrida existência do sertanejo. Na parte final de seu livro, narra a guerra de Canudos e condena o genocídio perpetuado pelas tropas do exército contra a comunidade religiosa sertaneja. Ao fazê-lo, expõe as fraturas e discrepâncias do Brasil republicano. Sua busca por uma nacionalidade “autêntica” que não fosse resultante de uma “civilização de empréstimo” foi tensionada por contradições. Em Euclides, convivem tanto as crenças cientificistas europeias de sua época baseadas no evolucionismo, na superioridade racial e na marcha inexorável do progresso, quanto seu intenso desejo por uma pátria mais igualitária, moderna, justa e apreciadora das especificidades brasileiras.

Fervoroso adepto da causa republicana, Euclides é enviado para Canudos como correspondente de guerra do jornal O Estado de S. Paulo. Chega a Monte Santo, quartel-general das tropas republicanas em 4 de setembro de 1897. Três semanas depois, em 3 de outubro, dois dias antes da derrocada de Canudos, regressa.

Republicano idealista, vê sua crença abalada com os atos de barbárie cometidos em Canudos contra uma população desvalida. A saga de Canudos que termina em sangue e fogo foi salva do esquecimento por sua escrita.