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Euclides da Cunha: Civilização e barbárie

A obra de Euclides da Cunha é fortemente marcada pela dicotomia entre dois brasis: o litorâneo e o dos sertões, o moderno e o atrasado, o civilizado e o arcaico. Aquele que aponta rumo ao desenvolvimento e um outro que segue preso a crenças, hábitos e tradições, reminiscências de um passado ainda presente.

Militar de formação, positivista, cientificista e republicano radical, o jovem Euclides encarnou o espírito recorrente no período que corresponde ao final do Império e início da Republica. Àquela altura, o país buscava caminhos de renovação das mentalidades e ideias. Aliás foi nessa atmosfera intelectual renovadora que surgiram os primeiros escritos sobre a vida rural e o universo interiorano. Até então as elites brasileiras estavam mais atentas a uma visão tradicionalista do país que, embora já incluindo segmentos de classe média - especialmente das grandes cidades - ignoravam as massas populares, em particular aquelas do mundo rural.

Como observa Walnice Nogueira Galvão, a repercussão do lançamento de Os Sertões alcançou, na época, as dimensões de um grande “mea culpa” nacional. Transformou a guerra de Canudos em um emblema das desigualdades e injustiças sociais, obrigando “ a atenção do país a se voltar para aquela que é a sua realidade profunda”. Em nome de uma luta civilizatória contra a barbárie, o exército brasileiro esmagou uma horda de miseráveis e fanáticos que, após uma longa marcha, haviam se estabelecido no alto sertão da Bahia.

Em Os Sertões Euclides transmite ao leitor uma lição de história. Uma lição sobre a formação do povo brasileiro que, ele próprio, apreendeu como observador de uma guerra que mudou seus conceitos sobre o sertanejo e sobre a República. Por força de sua interpretação, a guerra de Canudos tornou-se um evento chave da história brasileira, elevando à condição de mito o personagem obscuro de Antonio Conselheiro. No mesmo diapasão, o próprio Euclides se tornou um mito, como explicador do Brasil.

120 anos após sua morte, a Biblioteca Nacional tem a honra de apresentar a exposição “Os Sertões Testemunho, Apocalipse” reunindo um conjunto significativo de seu acervo, com foco na obra seminal Os Sertões.

Helena Severo
Presidente da Fundação Biblioteca Nacional






Discurso de abertura, por Helena Severo, Presidente da Fundação Biblioteca Nacional