BNDigital

A República Imaginada e a Vida Carioca

< Voltar para Exposições virtuais

Veja todos os objetos da exposição

A República Imaginada e a Vida Carioca


Cenograficamente a cidade do Rio de Janeiro, no final do século XIX, não se diferenciava muito da capital do Segundo Reinado. Emoldurados pela exuberante topografia de mar e montanhas, lá estavam seus edifícios coloniais, sobrados burgueses, chácaras ajardinadas, casinhas e cortiços da população menos avantajada. Tal como no Segundo Reinado, a Rua do Ouvidor continuava a ser o centro comercial e cultural da cidade. Esta rua célebre somente seria desbancada durante a gestão do prefeito Pereira Passos( 1902-1906) com a inauguração da Avenida Central, emblema dos anseios de modernização do novo regime. Entretanto, neste período de transição da república, a cidade era fervilhante cenário de discussões políticas e contendas culturais. Os variados aclamadores da república debatiam ideários políticos muito diversos. A república imaginada em alegorias, estátuas e rituais cívicos contrastava com a vida cotidiana da cidade. A vida pulsante das ruas captada em crônicas, na ironia do romance realista e na corporeidade da prosa naturalista era também refletida em lundus, chorinhos e batuques.

Como positivista, homem de pendor científico e ardoroso republicano, Euclides da Cunha tivera pouco apreço pelas manifestações da cultura urbana tanto na sua vertente elitista, quanto na sua expressão popular. Em Os sertões contrasta, desfavoravelmente, a Rua do Ouvidor com a caatinga. Na primeira, os frequentadores da famosa rua teriam apenas um “ verniz de cultura”, já no sertão, os patrícios retardatários combatiam pelas suas crenças atávicas.

Com o término da guerra de Canudos, a distância entre a capital litorânea e o sertão profundo seria encurtada não somente pelo fluxo migratório nordestino das décadas seguintes, mas também por uma aproximação simbólica. Ao voltarem do combate nos sertões da Bahia, soldados do exército constroem barracos no Morro da Providência. Chamam seus locais de moradia de “favela” em referência à vegetação que cobria o Morro da Favela onde estiveram acampados no sertão. A favela e o sertão, locais díspares na geografia, se tornariam espaços emblemáticos dos dilemas brasileiros.