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José Bonifácio: Roteiro Histórico-Sentimental

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A Modernidade de José Bonifácio

Fazer a relação das inovações de José Bonifácio de Andrada e Silva quanto à sua modernidade, seria fazer uma biografia enciclopédica. Assim, esta relação será apenas um mostruário de suas atitudes inovadoras.

O sistema métrico decimal

A postura de José Bonifácio nitidamente modernizadora era reconhecida pela Real Academia das Sciencias e Letras de Lisboa. Quando foi consultada pelo governo português sobre a adoção do novo sistema de pesos e medidas métrico decimal, a Academia solicitou um parecer a José Bonifácio, que assim respondeu:

“Talvez pareça aos espíritos acanhados que a adoção do sistema metro-decimal para base das novas medidas ofende, de algum modo, o pundonor nacional: porém refletiram que o verdadeiro e útil não tem pátria, pertencem a todas as nações, pertencem ao Universo inteiro. Seria capricho pueril não adotar o que há de bom entre os inimigos, só porque eles dizem que é seu. Que seria da república das letras, se os ódios e guerras das nações houvessem de impedir, de invadir os domínios pacíficos da verdade e das ciências úteis.”

Aqui se mostra claramente a atitude científica e filosófica sobre a verdade. Os portugueses deixavam de usar o côvado (medida equivalente a 66cms), a palma, o pé e outras medidas antigas para o inovador sistema métrico decimal, a partir do parecer modernizante de José Bonifácio.

Simpatia pelos valores republicanos

D. Pedro I, Defensor Perpétuo e Constitucional do Brasil, instituiu, em 1 de dezembro de 1822, a Imperial Ordem do Cruzeiro, destinada a remunerar brasileiros e estrangeiros por serviços em prol da Independência. Também ofereceu o título de marquês a José Bonifácio, em dezembro de 1822, que recusou e, em uma carta ao imperador, escreveu: “que não aceitava e jamais aceitaria mercê alguma honorificação em recompensa de seus serviços prestados em prol da Independência”. Essa resposta indicou, além de independência pessoal, simpatia aos valores republicanos.



Legenda: Insígnias e símbolos imperiais criados para o Brasil independente.

Defesa da mulher e das minorias sociais

A situação da mulher grávida preocupou José Bonifácio, que propôs licença quando grávida e também após o nascimento do bebê, poupando-a de trabalhos pesados ou de carregar peso que pudesse prejudicá-la.

Atuou em defesa das minorias sociais dos indígenas, dos negros e crioulos (negros e descendentes nascidos no Brasil). Escreveu sobre como melhorar suas rudes vidas, propondo medidas para amenizar o sofrimento, no caso dos índios “administrados” (forma disfarçada de escravidão). Quanto aos negros e crioulos sua atuação é bem mais conhecida. Uma prova disso é que quando se estabeleceu na Vila de Santos, no sítio dos Outeirinhos, só empregou mão de obra livre, para dar exemplo de que o trabalho livre é mais produtivo que o trabalho escravo.

Suas ideias estão documentadas: Apontamentos para a civilização dos índios bravos do Império do Brasil, publicada pela Imprensa Nacional, no Rio de Janeiro, em 1º de junho de 1823. Outro trabalho: Representação à Assembleia Constituinte e Legislativa do Brasil sobre a escravatura, publicada em Paris, em 1825. Essas obras buscavam a integração social das minorias e apoiavam a cessação do tráfico negreiro.



Para encerrar esse resumido relato de algumas propostas e ações, se o leitor ou leitora usa hoje para medição, o metro e não o côvado e apoia a pluralidade do povo brasileiro, lembre-se de José Bonifácio, pioneiro e lutador dessas ideias, que na sua época eram inovadoras.



Legenda: Guaranis empregados como artilheiros.

 

Referências

Imagem 13: Jean-Baptiste Debret. Couronnes, sceptres et manteaux. In: Voyage pittoresque et historique au Brésil. Tome Troisième. 1839.

Imagem 14: Thomas Ender. Sclavinnen (6). In: Zeichnungen von schiffen, gräsern und figuren. [18--].

Imagem 15: Jean-Baptiste Debret. Gouaranis civilisés employés à Rio Janeiro comme artilleurs. In: Voyage pittoresque et historique au Brésil. Tome premier. 1834.

 

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