BNDigital

José Bonifácio: Roteiro Histórico-Sentimental

< Voltar para Dossiês

O Patriarca da Independência

A Revolução Liberal do Porto de 1820 desencadeou mudanças profundas para Brasil e Portugal. As Cortes Gerais estavam reunidas desde 1821. Nesse mesmo ano, Dom João VI partia do Brasil, voltando a Portugal por pressão de lideranças portuguesas. A primeira Constituição portuguesa estava em debate, reunindo delegados de toda a parte do Reino Unido lusitano. Relatos dos representantes brasileiros advertiam sobre certas inclinações nas Cortes pouco favoráveis ao desenvolvimento do Brasil. Falava-se em recriar obrigações coloniais abolidas desde 1808 com a presença da Família Real portuguesa em solo brasileiro.

Em janeiro de 1822, instigados pelos relatos, um grupo de luso-brasileiros iniciou um movimento separatista, logo capitaneados por José Bonifácio de Andrada e Silva e irmãos Antônio Carlos e Martim Francisco. Em 24 de agosto, José Bonifácio fez uma Proclamação aos Governos e às nações do mundo em geral, comunicando que o Brasil já era independente.

Na viagem rumo a São Paulo recebido, como sempre, com euforia pelo povo e autoridades, decidiu D. Pedro aconselhado por José Bonifácio descer à Vila de Santos, que assim o fez, no dia 5 de setembro, que já avisada da sua chegada em Cubatão, o recebeu com alegria e entusiasmo.



Legenda: Considerado exímio cavaleiro, dom Pedro I proclamou a Independência montado numa mula.

Montado sempre em bons cavalos que lhe eram oferecidos, D. Pedro, exímio cavaleiro, teve que descer a Serra do Mar numa besta, pois a ‘Calçada do Lorena’ só podia ser percorrida por mulas. O motivo alegado para a descida: visitar a família dos Andradas, que morava num sobrado na rua Direita (atual XV de novembro), dirigida pela mãe do Patriarca, D. Maria Bárbara da Silva. Bom pretexto para inspecionar as fortalezas e fortes. Havia notícias de que forças portuguesas atacariam o litoral santista. O Príncipe inspecionou as fortificações, conforme planejado: Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, hoje chamada de “Fortaleza Velha” pelo povo; o Forte do Castro (demolido), na Ponta da Praia (local do atual Museu de Pesca); Forte Vera Cruz do Itapema (demolido); Forte da Vila, junto ao Outeiro de Santa Catarina (demolido).



Legenda: Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, hoje chamada de “Fortaleza Velha”.

D. Pedro, preocupado com a defesa militar, ordenou o aumento da Guarnição santista e, ao raiar do dia 7 de setembro, junto a sua Guarda de Honra e comitiva embarcaram no cais do Porto de Santos e, nas lanchas, dirigiram-se a Cubatão, onde D. Pedro “montou uma possante besta gateada”, para subiu a Serra do Mar, pela Calçada do Lorena. Nas proximidades do riacho do Ipiranga, no Planalto, recebeu cartas do Rio de Janeiro por dois mensageiros: Major Antônio Ramos Cordeiro, Guarda da Honra, e Paulo Bregaro, do Supremo Tribunal Militar, a quem José Bonifácio dissera:

 
“Se não matares cavalos pelo caminho, nunca mais serás correio”.

Exagero, pois a cada parada, cavalos descansados lhe eram dados.

O santista José Bonifácio aconselhara o Príncipe para descer a Santos pois pretendia que a aclamação fosse na Vila de Santos. Três cartas decisivas: a de D. Leopoldina, ardorosa pela causa independente, a de José Bonifácio e a terceira, do Ministro Chamberlain, de Lisboa [veja a publicação da BN de 1923, Documentos para a história da Independência, para outros documentos relevantes].



Legenda: Dona Leopoldina, personagem central nos acontecimentos que levaram à Independência do Brasil.

Temos que considerar os aspectos psicológicos de D. Pedro, bipolar, sujeito a variações súbitas de humor. Ele leu as cartas no Ipiranga, indignado com a política neocolonialista das Cortes de Lisboa e, incentivado pelo que diziam seus interlocutores, principalmente pela carta arrebatadora de José Bonifácio, arrancou os laços com as cores portuguesas azul e branco e, após alguns momentos, gritou para todos: “Estamos separados de Portugal. Independência ou morte!”, que veio a ser nome de uma Loja maçônica no Rio de Janeiro, fundada por José Bonifácio.

Após o épico grito do Ipiranga, o Pe. Vigário José Antônio da Silva Barbosa em Santos presidiu às comemorações religiosas que assinalaram a Independência do Brasil, separado do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

Santos, terra da Liberdade, sempre participante da História do Brasil.

No brasão de Santos, a divisa é verdadeira:

 
“À Pátria ensinei a Caridade e a Liberdade”.



Legenda:

 

Referências

Imagem 18: [Hum Brazileiro]. [Estudo para estátuas eqüestre e pedestre do Imperador D. Pedro I].  [S.l.: s.n.], 1844.

Imagem 19: [Autor desconhecido]. Santos: fortaleza e entrada da barra. [1909?].

Imagem 20: Jean François Badoureau. Leopoldina Arquiduqueza d’Austria: Princesa Real do Reino Unido du Portugal, Brasil e Algarves. Lisboa: [s.n.], [18--].

Imagem 21: Benedicto Calixto. Brasão de Santos. 1920.

Parceiros