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José Bonifácio: Roteiro Histórico-Sentimental

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Narcisa Emília, a mulher de José Bonifácio

Nascido na Vila de Santos (1763), José Bonifácio foi estudar em Portugal e morou em Lisboa, onde conheceu Narcisa Emília (1788). Casaram em 31 de janeiro de 1790, em Lisboa, segundo a certidão de casamento existente no Arquivo da Torre do Tombo, Lisboa.

O que sabemos sobre Narcisa Emília?

Nasceu em Cork (Irlanda), por volta de 1770. Menina, veio para Portugal trazida pela tia, D. Izabel O’Leary. Em 1790, José Bonifácio reinicia viagem pela Europa para estudar mineralogia, mas não sabemos se ela foi em todos os países, com certeza foi à Áustria, Suécia e Noruega.

Narcisa deu à luz duas filhas: Carlota Emília d’Andrada e Gabriela Frederica Ribeiro d’Andrada. Numa carta (1816), escreveu: “quando será, meu caro Andrada, quando nos veremos contentes e sem aflições? Posso eu não as sentir longe de ti?” Assina: “a tua amante”.



Legenda: Carta manuscrita de Narcisa para José Bonifácio, parte da coleção do Patriarca doada para a Biblioteca Nacional após sua morte.

Só em 1819, José Bonifácio volta ao Brasil com a família, um casal e uma filha de mama. Seria a filha que José Bonifácio teve fora do casamento? Situação que a esposa aceitou. Político, ele deu à filha o nome da esposa: Narcisa Cândida. Correto, José Bonifácio legitimou, educou, a Narcisinha, e a citou no testamento.

A família chegou a Santos, em 1820, e morou no sítio dos Outeirinhos, onde José Bonifácio dedicou-se à agricultura. Vida feliz! Narcisa cantava com voz de contralto ao som de guitarra; o futuro Patriarca, com 57 anos, dançava o lundu, em animados saraus, com amigos.

Celebridade pela cultura e experiência, D. Pedro o convoca para ser ministro, no Rio de Janeiro, onde tem vida política e social. Sua casa é frequentada pelo futuro Imperador, D. Leopoldina e pela elite da cidade. Maria Graham, inglesa, escreveu: “Sua mulher é de origem irlandesa, uma O’Leary, senhora da maior amabilidade e gentileza admiradora do valor e talento do marido”. Outros também registram: “Senhora de fino trato, a todos atraía e enfeitiçava pela amabilidade e bondade natural”.

Em confronto (1823), com D. Pedro I, o Patriarca foi exonerado. Narcisa Emília amargou a prisão de José Bonifácio em fortalezas do Rio de Janeiro, para onde levou roupas e cama, pois o ex-ministro dormia num tapete. Narcisa apelou à consulesa inglesa interceder para que as famílias dos exilados pudessem acompanhá-los. Exilada, a família se estabeleceu próximo a Bordéus (França).



Num retrato, Narcisa é mulher de traços delicados. A ela referiu-se José Bonifácio como “amável e virtuosa companheira”. Mas também a criticou: “Minha mulher a quem a natureza não deu cabeça fria e nervos robustos”. Mas não foi fácil a ela acompanhar a vida turbulenta do marido, envolvido no processo da Independência do Brasil e embates políticos.

Triste, Narcisa chora de saudade e José Bonifácio, em versos amorosos, usa a música brasileira para consolar a mulher.

No fim do exílio de quase seis anos (1829), a família regressa ao Brasil, mas dois dias antes de o navio aportar no Rio de Janeiro, Narcisa falece aos 59 anos, após quase 40 anos de casamento. O marido fez o enterro em 27 de julho de 1829. As despesas do funeral foram emprestadas pelo amigo Vasconcellos Drummond.

Ela participou das glórias e agruras como esposa de um sábio, ministro poderoso, preso político, exilado, marido infiel. Mãe dedicada, conservou a harmonia do lar. Narcisa Emília O’Leary d’Andrada foi digna mulher do Patriarca da Independência.

 

Referências

Imagem 22: Narcisa Emilia O'leary de Andrada. [Carta a Jose Bonifacio de Andrada e Silva, comentando sobre a saúde de sua filha…]. [S.l.: s.n.], 14/08/1816.

Imagem 23: ZeLuiz. Retrato de Narcisa Emília O’Leary, bico de pena sobre retrato. 2009. Crédito: ZeLuiz, acervo da familia Andrada em Barbacena, Minas Gerais / Embaixada da Irlanda.

 

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