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José Bonifácio: Roteiro Histórico-Sentimental

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Vila de Santos, 1763

A primeira menção a José Bonifácio se encontra no Levantamento das Ordenanças da Vila de Santos, de 1765, mandado executar pelo Governador-General Luiz Antônio de Souza Botelho Mourão, o Morgado de Mateus. O Levantamento... (hoje Recenseamento) visava saber quantos homens estavam em condições de integrar as Forças Auxiliares, em caso de necessidade.


Vista frontal da Vila de Santos, chamada de “Praça” na imagem, datada do século XVIII
Fonte: [Autor desconhecido]. Praça de Santos. [17--].

A população, em 1765, era de 2.081 habitantes, dos quais, mais da metade era de negros e pardos, a maioria escravos; também índios tupi-guarani; o número de mulheres suplantava em mais da metade o número de homens.
Joseph é registrado com 2 anos de idade, pois nascera em 13 de junho de 1763, filho de Bonifácio Joseph de Andrada e Maria Bárbara da Silva. Foi o segundo filho do casal, pois o primogênito, Patrício, tinha 5 anos e a caçula, Maria, 1 ano. O Levantamento... informa que o pai possuía 8:00$00 (8 contos de reis) e vivia de seus negócios. Logo a inteligência de José Bonifácio foi percebida. A mãe, Maria Bárbara, ensinou-lhe as primeiras letras e foi matriculado numa escola fundada por homens que tinham estudado no Colégio “São Miguel” dos jesuítas, extinto em 1749.
A família morava na Rua Direita, dos Quatro Cantos, cruzamento de quatro vias (até hoje), até a Ponte do Carmo, isto é, a segunda casa da Rua Direita. Três riachos cortavam a Vila, atravessados por precárias pontes de madeira.


Antiga Rua Direita, atual Rua 15 de Novembro, no início do século XX
Fonte: [Autor desconhecido]. Santos: Um trecho da Rua 15 de Novembro. [1909?].

A Vila estendia-se do Outeiro de Santa Catarina (hoje Rua Barão do Rio Branco) até o Valongo, onde se fundara o convento franciscano, da Ordem Primeira e Terceira (1640 e 1641), sempre seguindo o porto, com ruas estreitas e becos, afastada dos morros no centro da Ilha de São Vicente. Trilhas na vegetação cortavam os morros e chegavam à Vila de São Vicente.


Planta da Barra da Vila de Santos, século XVIII
Fonte: [Autor desconhecido]. Planta da barra da villa de S.tos. [17- -].

No morro mais alto, com 147 metros, desde o final do século XVI, ergue-se a capela de Nossa Senhora do Monte Serrat, passeio admirável que se faz para gozar da visão total da região em 360°.


Vista tomada de frente ao Mercado Municipal e o Monte Serrat
Fonte: [Autor desconhecido]. Mercado e Mont Serrat. [1909?].

Junto ao porto, havia um pequeno Forte chamado Monte Serrat (demolido), a Casa da Câmara e Cadeia, com o Pelourinho em frente como exigiam as leis portuguesas.
Na área urbana, via-se o prédio que fora o Colégio da Cia. de Jesus, a Alfândega – a segunda do Brasil –, a Santa Casa da Misericórdia, a primeira do Brasil, e a Casa do Trem Bélico ou Real, para a guarda de armas e munições (atual Rua Tiro Onze).
Também existia o Conjunto do Carmo, Ordem Primeira e Terceira, meados do século XVIII, tendo em frente o Arsenal da Marinha (demolido). Fora da trama urbana, ao lado da igreja de Nossa Senhora do Desterro, ficava o mosteiro de São Bento de 1650 (hoje Museu de Arte Sacra de Santos – MASS).
Quanto à parte culinária, comiam mandioca, milho, arroz, carne de galinhas, patos, suínos, bois e bugios (macacos considerados iguarias), peixes e frutos do mar. As frutas eram pouco apreciadas pelos brancos, mas consumidas pelos escravizados. Era comum agricultura e criação de subsistência. Usava-se lenha, na cozinha fora da casa, para evitar a fumaça. Bebidas: água, caldo de cana, cachaça e vinho importado.


Escravizado vendendo caldo de cana
Fonte: Joaquim Lopes de Barros. Preto de caldo de cana. 1840.

A água vinha da fonte do Itororó, no sopé do Monte Serrat, local de encontros. Era recolhida pelos escravizados e vendida nas ruas, largos e na porta das casas.


Escravizada vendendo água nas ruas
Fonte: Carlos Julião. [Vendedor ambulante].

O sal, importado de Portugal, era caro, daí a expressão que se usa até hoje: “preço salgado”, para indicar algo muito caro.
Saneamento nenhum. As águas servidas eram despejadas nos riachos.
A administração era feita pela Câmara Municipal, formada por quatro vereadores e presidida por um juiz de fora, diplomado pela Universidade de Coimbra.
A única religião permitida era a católica e, por isso, a Vila tinha sete igrejas e quatro capelas. Como era porto de mar, além do Forte, via-se, no Guarujá, a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande de Santos, chamada popularmente de “Fortaleza Velha” até hoje.


Planta da Fortaleza de Santo Amaro, século XVIII
Fonte: Antonio Máximo de Souza Magalhães. Planta da Fortaleza de Santo Amaro. [17--].

Os pais de José Bonifácio tiveram 12 filhos, número comum na época colonial. Apesar de nada faltar, três morreram crianças. José Bonifácio e irmãos tiveram, certamente, infância feliz pois todos sempre lembravam da sua Vila natal.
José Bonifácio viveu 14 anos em Santos, quando foi, em 1777, para a Cidade de São Paulo, ampliar os estudos com o bispo D. Frei Manuel da Ressurreição, que tinha uma rica biblioteca. Lá viveu 3 anos.
De Santos viajou pelo litoral até Santa Catarina (1783)  e espantou-se com a descontrolada pesca das baleias para a extração do óleo, usado na iluminação. Os filhotes eram mortos para facilitar o abate das mães, uma infâmia seu ver. Havia a pesca no litoral paulista e  "Armação de Baleias" (para o desmanche das baleias) no Guarujá, em frente à Vila e outra menor na Praia do Góes, onde ainda há ruínas que conhecemos.
Tal era, em linhas gerais, a Vila de Santos na época do nascimento, infância e juventude de José Bonifácio de Andrada e Silva.
Aos 20 anos, foi para a cidade do Rio de Janeiro, onde ficou quase 3 anos e, de lá, foi a Minas Gerais conhecer a área do ouro – Vila Rica (Ouro Preto) e a dos diamantes, Diamantina, interessado que era em mineração. Mas o seu objetivo era estudar na Europa. Não havia Universidade no Brasil.


Trabalho escravo e controle ostensivo na lavagem de cascalho nas Minas Gerais
Fonte: Carlos Julião. [Serro Frio]. [17- -].

REFERÊNCIAS
[Autor desconhecido]. Praça de Santos. [17--]. 1 planta ms., col., desenhado a nanquim, 76,5 x 63,5. Disponível em: < http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart1033406/cart1033406.jpg >. Acesso em: 27 Nov. 2023.

[Autor desconhecido]. Santos: Um trecho da Rua 15 de Novembro.Santos, SP: M. Pontes & Co, [1909?]. 1 cartão-postal, colotipia, p&b, 9 x 14 cm. Disponível em: < http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/icon1472790/icon1472790.jpg >. Acesso em: 27 Nov. 2023.

[Autor desconhecido]. Planta da barra da villa de S.tos. [17- -]. 1 mapa ms., col., desenhado a nanquim, 68,7 x 45,5cm em f. 74,3 x 51,8. Disponível em: < http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart1033408/cart1033408.jpg >. Acesso em: 27 Nov. 2023.

[Autor desconhecido]. Santos: Mercado e Mont Serrat. [1909?]. Disponível em: < http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/icon1472783/icon1472783.jpg >.

Joaquim Lopes de Barros. Preto de caldo de cana. 1840. Disponível em: < http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon395893/icon395900.jpg >.

Carlos Julião. [Vendedor ambulante].  Disponível em: < http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/iconc1_2_8i18/iconc1_2_8i18.jpg >.

Antonio Máximo de Souza Magalhães. Planta da Fortaleza de Santo Amaro. [17--]. Disponível em: < http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart275618/cart275618.jpg >.

Carlos Julião. [Serro Frio]. [17- -]. Disponível em: < http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/iconc1_2_8i42/iconc1_2_8i42.jpg >.

 

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