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José Bonifácio: Roteiro Histórico-Sentimental

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Santos nos tempos de D. Maria Bárbara

Adaptação de texto publicado originalmente no jornal A Tribuna, em 2 de dezembro de 2013.


A vida de José Bonifácio de Andrada e Silva vai sendo mais conhecida agora no Ano José Bonifácio, comemorativo dos 250 anos do seu nascimento. Da família Andrada é dado destaque ao pai, o cel. Bonifácio José Ribeiro de Andrada, abastado comerciante, possuidor da segunda fortuna da Vila de Santos com 8:000$000 (oito contos de réis), e que exerceu cargos importantes. Da mãe do Patriarca, pouco se sabe. Pesquisando em documentos, colhemos informes que, como num mosaico histórico, nos dão uma visão sobre ela.

Como viveu D. Maria Bárbara?



Legenda: “No Porto de Santos”, primeira metade do século XIX.

Nasceu Maria Bárbara, em Santos, a 27 de agosto de 1740, batizada a 3 de setembro. Era filha de Gonçalo Fernandes Souto, português, vereador, e de D. Rosa de Viterbo da Silva, santista. Na certidão de casamento de José Bonifácio com Narcisa Emília O’Leary consta: “... filho legítimo do cel. Bonifácio José de Andrade (sic) e de Dona Maria Bárbara da Silva, todos naturais da Vila de Santos, aonde todos foram batizados...”. Maria Bárbara teve como irmãos Manoel Fernandes Souto, médico, e João Nepomuceno, padre. Sabia ler e escrever com facilidade, o que não era, então, comum entre as mulheres.

De família importante, Maria Bárbara casou-se aos 18 anos, em agosto de 1758, com Bonifácio José Ribeiro de Andrada, com quem era aparentada por parte de mãe. O noivo, nascido em Santos, a 14 de maio de 1726, era rico comerciante. Tinha 32 anos, quatorze anos mais velho. Era comum na época as mulheres se casarem jovens com homens bem mais velhos O casamento durou 31 anos, até a morte do marido, em 16 de setembro de 1789, com 63 anos.

A família morou na Rua Direita, a principal da Vila (atual XV de novembro, numero 113), num sobrado próximo aos Quatro Cantos (cruzamento da XV com Frei Gaspar), onde nasceu José Bonifácio. Quando a família cresceu, o cel. Bonifácio José comprou outro sobrado, maior, do lado oposto da Rua onde viveu José Bonifácio e irmãos, e que foi demolido no século XX.



Legenda: Conjunto do Carmo no início do século XX.

D. Maria Bárbara teve 12 filhos, número comum naquele tempo. Católica, pertenceu ela à Ordem Terceira de Nª Senhora do Carmo. Bondosa, praticava a caridade, ajudando os pobres da Vila, sendo chamada de “Mãe da Pobreza”.

O marido, morto em 1789, deixou-lhe bens: casas, propriedades rurais, dinheiro emprestado a juros e dívidas cobradas pelo genro, Francisco Xavier da Costa Aguiar, como administrador do patrimônio da sogra, a quem deu apoio na viuvez.

De Santos, D. Maria Bárbara acompanhava a vida dos filhos. Carinhosamente, numa carta a José Bonifácio, na Europa, anunciava que lhe enviara café, açúcar e goiabada! Noutra carta desabafa seu sofrimento: “escapara de enlouquecer” quando soube que Antônio Carlos, ouvidor em Olinda, se envolvera na Revolução Republicana de 1817. Preso como traidor, foi condenado à morte, da qual escapara na última hora.

Teve a felicidade de abraçar, aos 79 anos, a José Bonifácio, após 36 anos de ausência. A nora irlandesa e as netas, também nascidas na Europa, ficaram em sua casa, antes de irem morar no Sítio dos Outeirinhos. Quando vinha à Vila, José Bonifácio, hospedava-se na casa da mãe.

Após uma viuvez de 33 anos, D. Maria Bárbara faleceu a 28 de agosto de 1821, um dia depois de completar 81 anos. No testamento pediu para ser sepultada na igreja dos Carmelitas, com hábito de Nossa Senhora do Carmo, em mortalha, três missas por sua alma e outra pelas almas do Purgatório e deixou 51:000$200 réis para se repartirem pelos pobres.

A vida de D.Maria Bárbara, matriarca da família Andrada, a mais importante de Santos, nos leva a ter uma visão da elite santista, na segunda metade do séc. XVIII e primeira metade do séc. XIX.

De origem conhecida, casou-se cedo com um homem mais velho; recebeu o título de Dona; morou em casas-sobrado, na Rua Direita; teve numerosos filhos que aprenderam as primeiras letras com ela; viu sua descendência crescer em importância e sabedoria. Mãe, acolheu e apoiou sempre os filhos que dela precisaram. Por sua preocupação com os desvalidos, mereceu D. Maria Bárbara ser chamada, pelo povo, de “Mãe da Pobreza”.

José Bonifácio de Andrada e Silva a tornou conhecida como a “Mãe do Patriarca”.

 

Referências

Imagem 24: Greve Wilhem. Am Hafen in Santos. [circa 1840].

Imagem 25: [Autor desconhecido]. Santos: Convento do Carmo. [1909?].

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