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Publicações Seriadas: História, Memória e Documentos

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Histórico da Catalogação

O Processamento Técnico na Coordenação de Publicações Seriadas
Por processamento técnico, entendem-se os procedimentos que seguem as orientações dos códigos e das regras biblioteconômicas, fazendo a análise tanto temática quanto descritiva dos materiais que entram no setor, como a sua catalogação e classificação, juntamente com o registro.
Este texto tem o objetivo de resgatar e registrar a memória do processamento técnico na Coordenação de Publicações Seriadas da Biblioteca Nacional, a partir da experiência de trabalho da bibliotecária e servidora da FBN Maria Ione Caser da Costa , que participou do processo desde seu início, no final da década de 1970. Desde então, várias maneiras de recuperar a informação foram utilizadas e modificadas no decorrer dos anos, desde as fichas tipo Kardex, manuscritas, passando pela base de dados em CDS/ISIS, MARC 21 até o software Sophia. Com base em sua dissertação de Mestrado “Publicações efêmeras, memória permanente: coleção Periódicos & Literatura na Biblioteca Nacional Digital”, defendida em 2016 no Programa de Pós-Graduação em Biblioteconomia (PPGB), da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), buscaremos registrar as fases da evolução desse processo, permitindo conhecer melhor a evolução das técnicas testadas e aprimoradas na Biblioteca Nacional, com o intuito não apenas de relembrar práticas passadas, mas, sobretudo, marcar no tempo (agora) e no espaço (o da BN e o dela no âmbito da Biblioteconomia e suas práticas) um percurso histórico que não deixa de ser parte do que é hoje, esta instituição.

O processamento técnico dos periódicos
O controle técnico dos periódicos passou a ser feito a partir da década de 1970, quando teve início o processo de inventário dos seis andares do setor. Naquela ocasião também foram incorporadas novas práticas biblioteconômicas, convém ressaltar, em uma época em que os computadores ainda não existiam.
No passado de toda biblioteca, o processamento técnico inicia manualmente, com fichas e catálogos manipulados de forma artesanal. Na BN, o primeiro processo de modernização da CPS aconteceu em 1975, com o convênio intitulado “Controle do acervo da Biblioteca Nacional”, que fora estabelecido entre os órgãos Seplan, Finep e MEC[1], quando teve início o inventário da coleção de periódicos da Biblioteca Nacional.
A partir de uma ficha tipo Kardex, manuscrita, da antiga Divisão de Aquisição da BN, medindo 21,8cm x 24,5cm (Figura 1), os títulos e seus dados foram transcritos para um formulário intitulado “Folha de entrada subprojeto de inventário de periódicos” (Figura 2). No processo de transcrição de dados, cada título passava a ser identificado, também, por um número denominado “BIN” - número composto por 10 dígitos, que obedeciam a uma sequência binária.


Figura 1- Ficha tipo Kardex


Figuras 2: Folha de entrada subprojeto de inventário de periódicos

O referido formulário era composto por duas folhas: a primeira, constituída pelos dados principais do periódico a ser processado, e a segunda, utilizada para as continuações
e informações complementares. Após a transcrição, a ficha recebia o carimbo “Transcrita” e a anotação do número do BIN conferido ao título em questão.
Uma vez preenchidos, os formulários “Folha de entrada subprojeto de inventário de periódicos”, eram enviados para a Fundação Getúlio Vargas (FGV), que, através de seu serviço de computação, fazia o processamento dos dados, e eram, então, geradas duas listagens em formulário contínuo: uma em ordem alfabética de título, com o BIN respectivo de cada título, e outra em ordem numérica de BINs, com seus títulos correspondentes. Essas listagens propiciaram o início do inventário das coleções do setor, realizado em formulário próprio (Figura 3).


Figura 3 – Folha para a realização do inventário

Andar por andar, estante por estante, todos os volumes foram sendo inventariados. Em cada linha do novo formulário anotavam-se as informações pertinentes do volume inventariado, tais como: o BIN relativo ao título, seu número de inventário (formado por uma sequência binária iniciada pela letra i, seguida de 10 dígitos), as datas de início e término de cada volume, descrição dos fascículos e, finalmente, o topográfico (localização da obra no armazém de periódicos). O número do topográfico é composto da seguinte forma: “2-221-02-16”, que quer dizer: segundo andar, estante 221, segunda prateleira, décimo sexto volume. Com uma equipe de 30 bibliotecárias, foi feito o inventário dos seis andares do armazém em, aproximadamente, seis anos.
Os formulários de inventário deram origem a uma grande listagem geral, dividida em vários blocos, onde constavam os títulos em ordem alfabética com seu BIN, sua respectiva coleção ordenada cronologicamente e a localização nos armazéns (Figura 4). Além da listagem geral de título/ coleção, abrangendo todos os andares inventariados, também foram geradas mais seis listagens de título/ coleção, uma para cada andar dos armazéns. Por muitos anos, para o atendimento ao público, foram utilizadas estas listagens.


Figura 4: Folha da listagem geral com título e coleção

Em 1982, ao assumir a diretoria geral da BN, a bibliotecária Célia Ribeiro Zaher atendendo às solicitações do então Ministério da Educação e Cultura (MEC) que pretendia estabelecer “diretrizes e normas para a automação de suas bibliotecas”, elege como prioridade a implantação da automação no processamento técnico da Biblioteca Nacional. O Processo BN 511/82, assinado em 30 de abril daquele ano, para participação no Sistema Bibliodata da FGV, locava seus serviços, incluindo soft, para o processamento em computador.
A Rede Bibliodata/ Calco (Catalogação Legível por Computador), da FGV consistia em um sistema cooperativo de catalogação automatizada que exigia normas internacionais para o processamento de registros bibliográficos, facilitando a cooperação bibliográfica. O acervo corrente da CPS continuava a ser registrado nas fichas Kardex, agora medindo 14,0cm x 6,5cm, mas o processamento técnico dos periódicos (catalogação, classificação, designação de autoridade e cabeçalho de assunto) passou a ser feito em fichas catalográficas manuscritas (Figura 5), um controle artesanal, concomitante ao preenchimento dos formulários Calco. Tal processamento teve início pelos títulos novos que chegavam ao setor através do Depósito Legal, por doação ou permuta.


Figura 5: Modelos de fichas Kardex e catalográficas

Após a catalogação, a publicação recebia um cabeçalho de assunto de forma geral, de acordo com as características de seu conteúdo, seguindo as regras da Library of Congress e um número de classificação. Para a atribuição de autoridades (instituições) responsáveis pela publicação, a pesquisa era feita nos catálogos do setor e no oficial da Caso não existisse a autoridade nos catálogos, era atribuído uma nova autoridade e uma ficha, então, era confeccionada, de acordo com as regras normalizadas pelo setor responsável.
Quando, no processo de pesquisa para efetuar a catalogação de um título de periódico novo (na maioria dos casos com a designação numérica de ano 1, n.1), descobria-se que ele era a continuação de um outro título já existente no acervo, mas que tivera seu nome alterado, realizava-se a catalogação do título anterior, que era chamada de “catalogação retrospectiva”. Desta maneira os títulos antigos, aqueles já existentes no acervo, iam sendo, também, catalogados.
As fichas catalográficas eram arquivadas em ordem alfabética letra por letra, em catálogo próprio, localizado na parte interna no setor. Para o atendimento ao público utilizavam-se as listagens de computador.
Em julho de 1985 através da Deliberação nº 30, foi criada na BN, a Coordenação do Programa de Automação que teve a seu cargo, dentre outras atribuições, a atualização da digitalização do inventário de periódicos e a extensão do Sistema Bibliodata/ Calco ao tratamento de títulos de periódicos. Em 29 de outubro de 1990, inaugurou-se a consulta on-line para alguns acervos da BN, mês em ela completava 180 anos.
O ano de 1991 deu continuidade ao processo de informatização. Foi instalado um computador da Unisys, empresa especializada em serviços e soluções de Tecnologia da Informação em nível mundial, e efetivado um convênio com o Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NCE/UFRJ), que conseguiu implantar o Sistema Inventário de Periódicos, propiciando a migração da base de dados do acervo desse setor para o computador da Unisys (Figuras 6 e 7). Essas ações foram muito importantes, pois permitiram a recuperação de periódicos em linguagem conversacional, isto é, o usuário pôde utilizar-se do computador diretamente do terminal, sem auxílio de técnicos.


Figura 6: Print Screen da tela de busca do MicroIsis


Figura 7: Print Screen da tela de recuperação do título

No relatório da presidência da BN de 1994, seu então presidente, Affonso Romano de Sant’Anna, destacou que, para os periódicos “desenvolveu-se uma base de dados em MicroIsis, na qual foram previstos todos os campos já constantes nas fichas Kardex, acrescida de campos mais específicos, que permitirão uma recuperação mais eficiente das informações”[2]. Até aquele momento o controle das rotinas de processamento técnico e registro ainda eram feitos manualmente.
No final de 1994 e início de 1995, em virtude de modificações estruturais na FGV, que era responsável pela administração da Rede Bibliodata, o convênio foi rompido e a BN precisou buscar novas parcerias, a fim de produzir e gerar produtos fundamentais para tratamento técnico do acervo. Optou-se pela aquisição do software Ortodocs, naquele momento, o único disponível no mercado com as características exigidas.[3] A CPS continuou utilizando, para seu processamento, o Microisis, que melhor atendia às suas necessidades, enquanto os técnicos do setor desenvolviam estudos para a definição do formato de um novo sistema, com o estabelecimento dos campos necessários à identificação de publicações seriadas e planilha especial para transcrição de registros.
No ano de 1997, foi instalado um “servidor com o Sistema Operacional Linux, para centralizar todas as fases geradas a partir do Micro-Isis”, disponibilizando a base de periódicos, “que permitiu acesso direto dos usuários”. A base de Publicações Seriadas, que foi convertida e operacionalizada naquele ano, disponibilizou “52 mil títulos, com 233 mil registros”, compreendendo todo o acervo de títulos e coleções inventariadas e os títulos que já estavam sendo processados (catalogados). O Micro-Isis permitia “listagens atualizadas, busca por títulos de periódicos, padronização de informações, além da entrada de dados de forma automatizada, on line, assim como sua disponibilização em rede interna e externa (Intranet e Internet)”.[4]
A base permitia ao usuário recuperarem as informações a partir das listas de autoridade, de título, de editor, de país, por estado e por assunto. A busca por assunto, porém, ficava restrito aos títulos já catalogados, o que, naquela ocasião, era uma pequena parte do acervo. Em setembro de 1997 deixou-se de atribuir o número da Classificação Decimal de Dewey (CDD) para os títulos novos, até então utilizado.
Em 1998 a BN lança o primeiro site da Instituição, com a participação de alguns setores. Em virtude do tamanho do acervo de Publicações Seriadas e das especificidades de suas coleções, o mesmo não pôde ser incluído no site, permanecendo nas linhas de bases de dados locais.[5]
O ano de 1999 trouxe vários estudos para a conversão da base de dados de MicroIsis para o formato Usmarc, bem como a migração para a plataforma do software Ortodocs, o que não aconteceu com a coleção de publicações seriadas, por não atender às necessidades da referida coleção.[6]
Em 2008, a CPS adotou o Formato MARC (Machine Readable Cataloging), que se traduz literalmente por “Catalogação Legível por Computador”, para a entrada de dados (o que já acontecia em outros setores). Esse sistema foi criado pela Biblioteca do Congresso Americano (LC), em 1960, com a finalidade de adotar um padrão internacional para a descrição bibliográfica.
Em 2012 a FBN organizou, num termo de referência, a compra de um novo software de catalogação. O software Sophia (Figura 8), atendeu a todas as exigências feitas. Ele se baseia nos padrões internacionais de catalogação e comunicação de dados, e a BN adquiriu sua licença de uso através de licitação, em pregão conjunto com a Fundação Casa de Rui Barbosa, tendo sido implantado em 2013.[7]


Figura 8: Print Screen da página de pesquisa do Sophia

A partir da implantação do Sophia, software para gestão de acervos bibliográficos e digitais, todas as bases de dados foram consolidadas numa só, facilitando, assim, a busca para o usuário e garantindo uma maior uniformidade de procedimentos técnicos.
Desde 1982, quando os periódicos começaram a ser catalogados, todo o processamento técnico, a partir da entrada da publicação seriada pelo Depósito Legal, doação ou permuta, passou a ser exclusivamente feito pela CPS, até o ponto final que é o atendimento do público presencialmente.

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[1] Convênio assinado pelos Ministros da Educação e Cultura e do Planejamento, em 15 de agosto de 1974, Previa o desenvolvimento de cinco subprojetos, dos quais dois foram assumidos pelo CIMEC: “Inventário de Periódicos” e “Elaboração do Catálogo de Periódicos”

[2] BIBLIOTECA NACIONAL (BRASIL). Relatório de atividades. 1994. p. 253 Disponível em:
https://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=402630&pesq=&pagfis=463.
Acesso em: 29 jul. 2015.

[3] ______. Relatório de atividades. 1995. Disponível em:
https://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=402630&pesq=&pagfis=738.
Acesso em: 29 jun. 2022.

[4] ______.Relatório de atividades. 1997. p. 337. Disponível em:
https://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=402630&pesq=&pagfis=1413.
Acesso em: 29 jun.2022.

[5] ______. Relatório de atividades. 1998. p.336 Disponível em:
https://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=402630&pesq=&pagfis=48379.
Acesso em: 29 jul. 2022.

[6] ______. Relatório de atividades. 1999. p. 338. Disponível em:
https://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=402630&pesq=&pagfis=48731.
Acesso em: 28 jul. 2022.

[7] ______. Relatório de gestão do exercício de 2013. p. 42. Disponível em: ______. Relatório
de atividades. 1999. Disponível em:
https://antigo.bn.gov.br/sites/default/files/documentos/institucionais/relatorio_de_gestao/ano_2013//fbn_-_relatorio_2013_0.pdf.
Acesso em: 28 jul. 2022.

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