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Publicações Seriadas: História, Memória e Documentos

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Imprensas negra e abolicionista

O surgimento dos pioneiros da imprensa negra esteve contextualizado com a proliferação de pasquins de crítica política entre o fim do Primeiro Reinado e o início da Regência, no início da década de 1830. O primeiro, O Homem de Côr, da Typographia Fluminense, depois notabilizada pela revelação de Machado de Assis, inspirou as folhas liberais O Cabrito e O Meia Cara, e também Brasileiro Pardo e O Lafuente, defensoras do Primeiro Reinado. Décadas depois, sociedades abolicionistas passaram a editar periódicos de propaganda, em diversas províncias. Sua causa, todavia, também se imprimia em folhas para o público em geral: caso da Cidade do Rio, de José do Patrocínio, e da Gazeta da Tarde, de Ferreira de Meneses, ambos negros.

O Homem de Côr – Rio de Janeiro, 1833
Criado pelo jornalista, poeta, tipógrafo e livreiro Francisco de Paula Brito, o quinzenário O Homem de Côr foi o primeiro jornal brasileiro a lutar contra a discriminação racial, 55 anos antes da abolição da escravatura no Brasil. Lançado a 14 de setembro de 1833 como produto da Typographia Fluminense de Brito & Cia. – loja instalada no Largo do Rocio, atual Praça Tiradentes, onde a presença negra era marcante –, o surgimento desse precursor da imprensa negra esteve contextualizado com a proliferação de pasquins de crítica política entre o fim do Primeiro Reinado e o início do Período Regencial, no início da década de 1830. A partir de sua 3ª edição, de 16 de outubro de 1833, o periódico passou a se chamar O Mulato, ou O Homem de Côr, mas logo em seguida sua publicação foi suspensa: a edição nº 5, de 4 de novembro de 1833, foi a última a ser lançada. Sob sua inspiração, ainda no ano de 1833 surgiram, no Rio de Janeiro, os jornais Brasileiro Pardo, O Cabrito, O Lafuente e O Meia Cara.

Saiba mais em:
O Homem de Côr
Brasileiro Pardo
O Cabrito
O Lafuente
O Meia Cara


Lançado em 1833 e precursor da imprensa negra brasileira, O Homem de Cor foi o primeiro periódico brasileiro a lutar contra a discriminação racial

O Abolicionista – Orgão da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão – Rio de Janeiro, 1880
Lançado no Rio de Janeiro (RJ) em 1º de novembro de 1880, aproximadamente oito anos antes da Abolição da Escravatura, O Abolicionista foi um importante periódico de engajamento na luta contra a escravidão no Brasil, propulsor da ideia abolicionista num momento em que a mesma começava a ganhar força junto à opinião pública e à classe política brasileiras. A Sociedade Brasileira Contra a Escravidão (SBCE), que o editava, foi criada naquele mesmo ano de 1880 pelo político, diplomata, jurista e historiador pernambucano Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, auxiliado por outras personalidades públicas notáveis daquele período, como o engenheiro e empresário negro André Rebouças. Membro do Partido Liberal, Nabuco, que à época liderava a chamada “bancada abolicionista” na Câmara dos Deputados, presidia a Sociedade, estabelecida em primeira reunião em sua própria casa. Servindo de apoio ao projeto político abolicionista, O Abolicionista circulou regularmente, em periodicidade mensal, até sua 14ª edição, de 1º de dezembro de 1881 – sua extinção se deu por uma decisão estratégica de Nabuco, em vistas de manter a coesão na SBCE, que deveria ter, a partir de 1882, a Gazeta da Tarde, de José do Patrocínio, como seu órgão oficial.

Saiba mais em:
O Abolicionista – órgão da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão


O Abolicionista - Orgão da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, lançado no Rio de Janeiro em 1º de novembro de 1880

Cidade do Rio – Rio de Janeiro, 1887
Cidade do Rio foi um diário vespertino de quatro páginas e tamanho standard, lançado no Rio de Janeiro (RJ) em 28 de setembro de 1887 pelo célebre abolicionista José Carlos do Patrocínio. Um dos maiores combatentes da escravatura negra no Brasil (se não o maior), Patrocínio imprimiu em seu jornal todo o idealismo de sua luta. A data de fundação da folha foi escolhida em homenagem à data da Lei do Ventre Livre. Logicamente, como o jornal foi criado pouco menos de um ano antes da sanção da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, Cidade do Rio foi só até esse momento uma folha verdadeiramente abolicionista: no restante do tempo de vida do diário, o mesmo se voltou à campanha pela adoção de um programa de governo liberal à gestão política da nação, bem como à exposição de inúmeras questões sociais que afligiam a sociedade brasileira.

Saiba mais em:
Cidade do Rio


Cidade do Rio, jornal de José do Patrocínio, às vésperas da abolição, publica o discurso de Joaquim Nabuco

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