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Música Popular

Ricardo Cravo Albin



A história da música popular brasileira nasce no exato momento em que, numa senzala qualquer, os índios (quem sabe se os mesmos registrados por Jean de Léry, que os viu cantando ao tempo da França Antártida de Villegagnon ?) começam a acompanhar as palmas dos negros cativos, enquanto os colonizadores brancos se deixam penetrar pela magia do cantarolar das negras de formas curvilíneas. Esse amálgama maturado sensual, lentamente, por mais de quatro séculos, daria uma resultante definida há cerca de cem anos, quando é criado, no Rio, o choro e quando surgem o maxixe, o frevo e o samba.

Daí para cá, o último século, aberto tanto pela Abolição da Escravatura (1888) quanto pela Proclamação da república (1889), assistiu à consolidação de uma renovação cultural que nos redimiu: a dramática ascensão e formatização da civilização mulata no Brasil. E com ela a consolidação de sua filha primogênita, a mais querida e a mais abrangente, a Música Popular Brasileira (MPB).

Aliás a extraordinária capacitação brasileira de incorporar, de deglutir, de ruminar as mais várias culturas – a meu ver, de resto, a contribuição mais original do Brasil para a história das civilizações, neste milênio – vai encontrar, justamente no nosso cancioneiro, seu espelho mais veemente, provocador e estimulante.

Devo observar que as músicas populares de outros países como Alemanha, França, Portugal, Rússia, Itália, toda Escandinávia e tantos outros (à exceção dos Estados Unidos, onde o jazz se desenvolveu com vigor diferente) são muitíssimo mais discretas e – aí sim – avaliadas em modesto patamar cultural. Por que? Porque a elas faltam as labaredas rejuvenescedoras tanto da miscigenação, quanto as de um país jovem, como o Brasil.

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