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A Ficção Romântica

Não deixando totalmente de lado, embora signifiquem um passo bastante curto, as tentativas de Joaquim Norberto de Sousa, com os romances Os Assassinos Misteriosos (1839) e As Duas Órfãs (1840), a ficção romântica brasileira se inaugura convincente com o romance O Filho do Pescador (1843) do fluminense Teixeira e Sousa.

A narrativa ficcional brasileira é criada a partir da influência de romancistas estrangeiros cujas obras começam a se vulgarizar entre nós nos anos 30 do século XIX. Victor Hugo e Walter Scott são os principais romancistas que acabaram por criar o gosto da narrativa de ficção, de que resultou a criação entre nós do romance nacional e romântico, que se vai manifestar através de suas quatro tendências principais: o romance histórico, o romance de atualidade, o romance indianista e o romance sertanejo. As duas primeiras tendências já estavam representadas na obra dos dois precursores do romance brasileiro: Joaquim Norberto e Teixeira e Sousa.

Em seu começo o romance histórico brasileiro teve sempre presente os modelos estrangeiros. O primeiro cultor desse tipo de romance de nosso romantismo foi Teixeira e Sousa, cujos romances eram baseados em pesquisas da história da segunda metade do século XVIII, sobretudo da Província do Rio de Janeiro. Se os romances de Teixeira e Sousa têm elementos de apelo e interesse para o leitor, não chegam, todavia, a possuir qualidades de construção e expressão que lhes dêem um sentido nacional, como sucederá com José de Alencar, por exemplo.

Ao tentarem os autores dos romances históricos achar uma interpretação da história nacional, em termos ficcionais, evidentemente, eles estavam inventando o Brasil; são os relatos de fundação da nacionalidade brasileira que são trazidos no desenvolvimento de lendas, agindo assim na invenção de nosso país o romance romântico como as epopéias clássicas. É nesse ponto que se pode ver em O Guarani, de José de Alencar uma epopéia nacional. Unindo-se Peri e Ceci na casa às margens do Paquequer estão eles simbolizando a união do índio com a filha do branco, significando esse fato a gênese da raça e da civilização brasileira. José de Alencar caminhará nesse sentido ao escrever outros romances históricos como As Minas de Prata, A Guerra dos Mascates, O Ermitão da Glória, A Alma de Lázaro, O Garatuja. Também se podem considerar obras do mesmo filão dos relatos de fundação da nacionalidade brasileira os romances de outros escritores românticos como Bernardo Guimarães: Lendas e Romances

1871; Histórias e Tradições da Província de Minas Gerais 1872, Maurício 1877 e também Franklin Távora com sua trilogia de romances sobre a história de Pernambuco no século XVIII: O Cabeleira , 1876; O Matuto, 1878 e Lourenço, 1881, romances considerados em seu tempo “literatura do Norte” e que eram na realidade autêntica expressão nacional, obras com que se fundava a nacionalidade brasileira.

O romance de atualidade foi, no caso do Brasil, o romance de perfis femininos e de quadros da sociedade carioca que, então, aspirava a se impor como a elite da sociedade brasileira. A obra que melhor representa esse filão da narrativa ficcional de nosso romantismo é A Moreninha, 1844, de Joaquim Manuel de Macedo.

[...] a interessante Moreninha é, na verdade, travessa, mas a cada travessura ajunta tanta graça, que tudo se lhe perdoa. D. Carolina é o prazer em ebulição; se é inquieta e buliçosa, está em sê-lo a sua maior graça; aquele rosto moreno, vivo e delicado, aquele corpinho ligeiro como abelha, perderia metade de que vale se não estivesse em contínua agitação. O beija-flor nunca se mostra tão belo como quando se pendura na mais tênue flor e voeja nos ares. D. Carolina é um beija-flor completo.
Esse curto trecho de um dos capítulos do romance A Moreninha mostra o ponto a que Macedo queria chegar: apresentar as particularidades físicas e morais de um tipo que se buscava para a literatura nacional em formação: o tipo feminino bem brasileiro, a “brasileirinha”.

Não se deteve o romancista nesse primeiro livro, mas prosseguiu seu intento em outras obras como O Moço Loiro, Os Dois Amores, Rosa, Vicentina e

O Forasteiro, obras lidas com o maior entusiasmo por um público que veio a ser o primeiro grande público da nova escola literária, o romantismo.

É quando surge um outro romancista cuja obra se alimentará da vida da corte e da sociedade carioca, mas não aquela que fazia a vida do Rio de então. Manuel Antônio de Almeida vai retratar a sociedade carioca numa época anterior, no tempo de D. João VI. Era a busca de um Rio mais autêntico, menos influenciado pelos estrangeiros, sobretudo os franceses, que ditavam modas na capital do Império, e também o desejo de recuperar um pouco da velha sociedade menos rica, porém mais autêntica de um passado recente. É assim que surge, em forma de folhetim e anônimo em O Correio Mercantil, as Memórias de um Sargento de Milícias, retratando a vida da cidade elevada há pouco à condição de Corte, a que não era mais que uma pequena cidade provinciana com sua gente brasileira de cor branca, parda ou negra, brasileira, mas ainda bem portuguesa, e bastante cigana e mestiça.

Em 1885 quando sai em livro o Memórias de um Sargento de Milícias, de Almeida, e O Forasteiro, de Macedo, os dois escritores se poderiam gabar de ter criado o romance da atualidade urbana do Rio de Janeiro, uma ficção brasileira, sem dúvida alguma, original, não obstante a influência da literatura que se fazia então no exterior.

É então que começa, no Rio de Janeiro, a carreira literária de José de Alencar, como folhetinista de crônicas da vida social, em Ao Correr da Pena, e, aproveitando o êxito dos dois anteriores e o gosto de seu público, vai encaminhar-se também para o romance da atualidade da vida urbana.

Acontece, porém, que a formação literária de Alencar e seu temperamento vão levá-lo a aprofundar mais os traços psicológicos e as paixões das heroínas romancescas, fazendo surgir narrativas ficcionais como Cinco Minutos e Viuvinha, publicados no final de 1856 e começo de 1857, em folhetins do Diário do Rio de Janeiro.

Alencar delineava quadros da sociedade, escrevendo histórias de mulheres moças e jovens casadas, de caráter forte e singular, vistas à luz de uma psicologia mais aprofundada que a dos romances cor-de-rosa de Macedo. Assim apareceram Lucíola, 1862; Diva, 1864; A Pata da Gazela, 1870; Sonhos D’Ouro, 1872 e Senhora, 1875, ao tempo em que surgiam os primeiros romances de Machado de Assis: Ressurreição, 1872; A Mão e a Luva, 1874; Helena, 1876 e Iaiá Garcia, 1878.

Alencar e Machado de Assis atualizaram em termos do que se fazia na Europa nosso romance de perfis femininos e quadros da sociedade, aprofundando o tratamento psicológico de suas personagens, escrevendo mais de acordo com a evolução das idéias sociais. Balzac, com sua “fisiologia do coração”, impunha-se como uma moda a ser seguida. O romance também se tinha tornado, com Alencar e Machado, mais corajoso e austero na denúncia dos erros da sociedade.

Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba.
Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda nos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros.
Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas.
Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa cearense, aberta ao fresco terral a grande vela?
Onde vai como branca alcione buscando o rochedo pátrio nas solidões do oceano?
Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai singrando veloce, mar em fora.
Um jovem guerreiro, cuja tez branca não cora o sol americano, uma criança e um rafeiro que viram a luz no berço das florestas, e brincam irmãos, filhos ambos da mesma terra selvagem.
A lufada intermitente traz da praia um eco vibrante, que ressoa entre o marulho das vagas:
—Iracema!

Esse é o princípio do primeiro capítulo do mais conhecido dos romances indianistas da literatura brasileira: Iracema, de José de Alencar, publicado em 1865. O indianismo é uma das fortes tendências de nosso romantismo. A teoria do “bom selvagem”, sugerida nos Ensaios de Montaigne e firmada posteriormente no Século das Luzes pela cogitação de Rousseau, numa época em que se valorizavam e se cultuavam as Ciências da Natureza, veio a ter ponderável utilidade no momento em que, a par da criação de uma literatura nacional, buscavam-se as linhas dominantes da invenção de nossa nacionalidade. A “teoria do bom selvagem” veio a calhar. O índio era um substrato da etnia brasileira e significava a face mais genuína de uma jovem nação americana em fase de afirmação diante das metrópoles européias. O indianismo brasileiro que teve sua expressão no poema de Gonçalves de Magalhães, a Confederação dos Tamoios, teve sua mais alta realização poética em Gonçalves Dias, vai atingir mais fortemente os leitores através dos romances chamados indianistas de José de Alencar: O Guarani, 1857; Iracema, 1865; e Ubirajara 1874.

Em O Guarani, Alencar expõe através da ficção sua tese de integração genética da raça branca, representada pelos portugueses dominadores, com a indígena. Essa integração é simbolizada na união do índio Peri com a branca cristã Cecília (Ceci).

Iracema é a utilização de uma lenda cearense de amor ligada à formação do Ceará. Como O Guarani, é um relato de fundação da identidade brasileira. A história da linda índia tabajara que se une ao guerreiro português Martim pode ser lida como a ficcionalização simbólica da união do branco europeu cristão com a terra virgem da América, nome de que Iracema é anagrama perfeito. Mais que uma mulher, Iracema é uma idealização de seu criador, elaborada a partir de imagens e metáforas tiradas da terra brasileira, sua natureza, fauna e flora.

Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.

O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha rescendia no bosque com seu hálito divino.

Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação Tabajara. O pé, grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra, com as primeiras águas.

Finalmente, quando a ficção romântica já se encontrava em decadência, Alencar publica Ubirajara – Lenda Tupi, que é uma reconstituição ficcional de antigas lendas indígenas.

A quarta tendência de nossa ficção romântica foi dada pelo que se pode denominar o romance sertanejo. A idéia de um romance que estudasse o homem do interior do Brasil surgiu quase no final do romantismo. É de 1872 o romance paradigmático desse tipo de ficção romântica, Inocência, 1872, de Afonso d’Escragnolle Taunay. Participante da campanha do Paraguai, viveu Taunay as agruras da tentativa brasileira de invasão do Paraguai pela fronteira norte supostamente desguarnecida, tendo os brasileiros que proceder a uma retirada desastrosa.

Do material colhido em suas observações pelo sul de Mato Grosso (hoje Mato Grosso do Sul) o jovem tenente publica em 1868 Cenas de Viagem e escreve um relato em francês da retirada de Laguna, La Retraite de Laguna, que o Governo Imperial publica em 1871. A obra por suas qualidades descritivas e narrativas vai projetar Taunay como um escritor original e de talento. Mas foi em 1872 que ele publicou seu livro mais importante, Inocência.

- Está aqui o doutor, disse-lhe Pereira, que vem curar-te de vez. - Boas noites, dona, saudou Cirino. Tímida voz murmurou uma resposta, ao passo que o jovem, no seu papel de médico, se sentava num escabelo junto à cama e tomava o pulso à doente. Caía então a luz de chapa sobre ela, iluminando-lhe o rosto, parte do colo e da cabeça, coberta por um lenço vermelho atado por trás na nuca. Apesar de bastante descorada e um tanto magra, era Inocência de uma beleza deslumbrante. Do seu rosto irradiava singela expressão de encantadora ingenuidade, realçada pela meiguice do olhar sereno, que a custo, parecia coar por entre os cílios sedosos a franjar-lhe as pálpebras, e compridos a ponto de projetarem sombras nas mimosas faces. Era o nariz fino, um bocadinho arqueado; a boca pequena, e o queixo admiravelmente torneado. Ao erguer a cabeça para tirar o braço de sob o lençol, descera um nada a camisinha de crivo que vestia, deixando nu um colo de fascinadora alvura, em que ressaltava um ou outro sinal de nascença. Razões de sobra tinha, pois, o pretenso facultativo para sentir a mão fria e um tanto incerta, e não poder atinar com o pulso de tão gentil cliente. - Então? Perguntou o pai – Febre nenhuma, respondeu Cirino, cujos olhos fitavam com mal disfarçada surpresa as feições de Inocência.

A qualidade da observação da paisagem, dos tipos humanos e dos usos e costumes do sertão de Mato Grosso faz de Inocência mais que um romance romântico de observação da sociedade. Não é sem acerto que o romance de Taunay é visto por alguns como um precursor do Realismo, tendência literária que só será claramente declarada no romance brasileiro depois de 1880, ou melhor, a partir dos romances O Mulato, de Aluísio de Azevedo, e das Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, ambos de 1881.

Se Bernardo Guimarães se tivesse atido à poesia, que cultivou no início de sua carreira, ainda na Academia de Direito de São Paulo, com o amigo Alvares de Azevedo, teria sido, certamente, um bom poeta da primeira geração da poesia romântica brasileira. De tal afirmação tem-se a prova ao se folhearem as páginas de Cantos da Solidão, editado em 1852. Mais amigo da vida literária e boêmia do que da rotina de uma profissão, Bernardo Guimarães tentou fazer uma carreira na área de Direito, em que chegou à função de juiz, e no ensino, tendo sido professor de retórica e de poética no Liceu Mineiro de Ouro Preto e de latim e francês no Liceu de Queluz. Só mais tarde é que o escritor se encaminhará para a prosa de ficção, nos últimos vinte anos de sua vida.

A Escrava Isaura, de 1875, é o romance de maior divulgação, já tendo sido levado ao cinema e transformado em telenovela.

O grande êxito que teve o romance entre o público brasileiro liga-se em parte ao crescente sentimento abolicionista naqueles anos 70. Mas se poderia perguntar e, por que o mesmo romance alcançou o mesmo triunfo quando apresentado na mídia em forma de telenovela? Não era somente o apelo abolicionista que fazia o sucesso de A Escrava Isaura. Já escreve Antônio Soares Amora em O Romantismo: “A Escrava Isaura tem qualquer ‘coisa’ de sedutor (não fosse Bernardo Guimarães um espírito talentoso), que é necessário buscar e tentar definir, sob pena de não vermos o que mais importa ver neste romance, enquanto obra de arte, e não compreender a razão de sua sobrevivência”.

A dolorosa história de Isaura segura o leitor atento às peripécias do drama, um drama bem montado, apesar dos exageros e de freqüentes inseguranças. Talvez uma das razões do grande êxito desse drama esteja na força do contraste entre a ferocidade e a vilania dos algozes e a extrema infelicidade de suas vítimas.

Filha de um capataz português e de uma mucama mulata, a gentil escravinha sempre chamou a atenção pela beleza e correção de seus traços. Recebeu da senhora da fazenda além de muito carinho, uma educação esmerada. No primeiro capítulo do romance, o narrador a surpreende cantando ao piano:

Ao ar livre das campinas
Seu perfume exala a flor
Canta a aura em liberdad
Do bosque o alado cantor;
Só para a pobre cativa
Não há canções nem amor.
Cala-te, pobre cativa;
Teus queixumes crimes são;
É uma afronta esse canto
Que exprime tua aflição.
A vida não te pertence,

Não é teu teu coração.As notas sentidas e maviosas daquele canto escapando pelas janelas abertas e ecoando ao longe em derredor, dão vontade de conhecer a sereia, que tão lindamente canta. Se não é sereia, somente um anjo pode cantar assim.

Subamos os degraus, que conduzem ao alpendre, todo engrinaldado de viçosos festões e lindas flores, que serve de vestíbulo ao edifício. Entremos sem cerimônia. Logo à direita do corredor encontramos aberta uma larga porta, que dá entrada à sala de recepção, vasta e luxuosamente mobiliada. Acha-se ali sozinha e sentada ao piano uma bela e nobre figura de moça. As linhas do perfil desenharam-se distintamente entre o ébano da caixa do piano, e as bastas madeixas ainda mais negras do que ele. São tão puras e suaves essas linhas, que fascinam os olhos, enlevam a mente, e paralisam toda análise. A tez é como o marfim do teclado, alva que não deslumbra, embaçada por uma nuança delicada, que não sabereis dizer se é leve palidez ou cor-de-rosa desmaiado. O colo donoso e do mais puro lavor sustenta com graça inefável o busto maravilhoso. Os cabelos soltos e fortemente ondulados se despenham caracolando pelos ombros em espessos e luzidios rolos, e como franjas negras escondiam quase completamente o dorso da cadeira, a que se achava recostada. Na fronte calma e lisa como mármore polido, a luz do ocaso esbatia um róseo e suave reflexo; di-la-íeis misteriosa lâmpada de alabastro guardando no seio diáfano o fogo celeste da inspiração. Tinha a face voltada para as janelas, e o olhar vago pairava-lhe pelo espaço.

Foi imensa a popularidade de Bernardo Guimarães; ele brindava seu grande público com seu gosto pelo romance com os seguintes ingredientes: intriga complicada, intensos dramas, heróis, heroínas e vilões fora do comum, descrições da natureza e dos usos e costumes do país.

Outros romances de Bernardo Guimarães que permaneceram são anteriores a Escrava Isaura, que é de 1875. Três anos antes ele havia publicado O Garimpeiro e O Seminarista, ambos de 1872.

O Garimpeiro é um romance de amor contrariado. O jovem amante é de origens humildes e, portanto, impedido de alcançar o amor da jovem rica. O garimpo é o caminho para Elias habilitar-se ao amor de Lúcia. A obra está ainda na linha do romance sertanejo, regionalista e leva o leitor a participar de festas folclóricas típicas de uma região de Minas, próxima ao Triângulo: as festas de Patrocínio, com cavalhadas entre cristãos e mouros, onde se revela o amor de Lúcia por Elias.

Elias era o segundo da fila dos mouros, e logo na primeira corrida ia sendo vítima de um infeliz contratempo. Seu cavalo, nimiamente fogoso e pouco acostumado ao estrondo da música e da foguetaria, desgovernou-se e era quase impossível ao cavaleiro fazê-lo trilhar a linha marcada. Corria ou antes corcoveava à direita e à esquerda, como um poldro bravio. Elias exasperado o castigava rigorosamente. O cavalo falseou de uma das mãos e caiu de peito em terra. Elias saltou fora dos arreios; o cavalo levantou-se imediatamente mas uma roseta de espora tendo-se embaraçado no selim, Elias caiu e foi arrastado pelo circo umas dez braças no maior perigo do mundo.

— Jesus! Maria! Misericórdia — foi o grito de alarme, que ressoou por todos os palanques.

Mas Elias se desvencilhara, e estava prestes a montar de novo; mas os companheiros não queriam consentir; ele, porém, insistiu vivamente, até que um pajem, vindo a toda pressa do palanque do Major, veio pedir-lhe por parte deste e de sua filha Lúcia que não corresse mais naquele cavalo.

— Sinhazinha teve tamanho susto, que ficou fora de si, e quase caiu — disse o pajem

Ao saber que Lúcia tinha desmaiado, Elias teve ímpetos de matar ali mesmo o cavalo a lançadas e correr aos braços dela; mas ao mesmo tempo não podia deixar de abençoar, do íntimo d’alma aquele incidente, que viera revelar, de modo tão positivo o grau de interesse que inspirava à jovem e gentil roceira.

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