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O Pasquim

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Ziraldo

SOBRE O PASQUIM I

Olha, a gente revolucionou o estilo de entrevista no Brasil por causa disso. Porque não tinha ninguém para tirar a entrevista do gravador. Então sempre tiravam do jeito que ela saia, e eu dizia: “Quem vai editar? Sérgio Cabral?”. “Não”. "Vai assim mesmo…” E inventamos a entrevista espontânea, onde aparecia o cara que tirava a entrevista, colocava “risos”. Nunca tinha isso né, aquela coisa dos risos, dos comentários, tal. Então, o Pasquim foi feito muito dessa improvisação. As dicas que a Olga Savary inventou, que era para ela poder botar as coisinhas que ela queria lá, acabou virando um dos maiores índices de leitura do Pasquim. Também criou o estilo de jornalismo, de forma de interpretar a notícia, que mudou um pouco a história da imprensa brasileira.

SOBRE O PASQUIM II

Tem uma frase do Millôr que foi publicado no Pasquim, “Jornalismo é oposição, o resto é um armazém de secos e molhados”. E é verdade. Outra coisa é o Millôr explicando que O Pasquim reunia uma porção de gente que você não pode comprar com dinheiro.

A gente tinha, na época do Pasquim, época da ditadura, quer dizer, todo mundo silenciado, e nós todos tivemos o privilégio de não ficar calado. Quer dizer, de não engolir o que os caras queriam enfiar pela garganta da gente. E isso é muito salutar, entendeu? Então as pessoas que foram para o Pasquim, foram porque acharam um espaço para poder desenvolver a sua indignação.

SOBRE O PASQUIM III

Ter tido O Pasquim na minha vida para atravessar os chamados anos de chumbo foi um privilégio. Foi uma experiência válida e inserida no contexto, foi mesmo. Não sei se a palavra é afetou, quando você se refere às formas de criação. Afetou não é pejorativo? Estou perguntando. Não seria melhor dizer influiu? Quando você diz afetar, já vem com um preconceito. Já está me dizendo que achou que o Pasquim me fez mal. Fez não. Era o que a vida podia me oferecer para que eu a seguisse construindo naquele momento.

SOBRE O PASQUIM IV

Quando eu fui para o Pasquim, já éramos (eu, Jaguar, Paulo Francis…) bastante conhecidos.

O Pasquim já era um escrete, depois veio o Ivan Lessa, o Henfil arrebentou. O Fradim virou o maior sucesso do Pasquim. Eu pude atravessar a ditadura toda no Pasquim — em vez de ficar em casa chorando as mágoas, usamos as páginas do jornal para enfrentar a ditadura. Simultaneamente ao Pasquim, que não rendia dinheiro pra gente, fui um dos primeiros profissionais brasileiros a assinar peças publicitárias. Quando a ditadura voltou para os quartéis e o Pasquim perdeu o vigor, nos anos 1980, fiz O Menino Maluquinho. O livro fez tanto sucesso que eu virei autor para criança e sobrevivo hoje como autor para criança.

CENSURA COM O GENERAL JUAREZ , A SANTA CEIA

As observações regulares do censor eram atendidas. O humor pasquiniano era capaz de driblar quem quer que seja. Certo dia, temendo a Igreja, o General impediu que circulasse um número. Na página central havia um desenho, onde aparecia a Santa Ceia, com Jesus Cristo contando uma anedota e todos os apóstolos gargalhando.

— General, o Pasquim está pronto. Caso o senhor não deixe sair, o jornal vai acabar—argumentaram os jornalistas.

— Se vocês conseguirem uma autorização do Cardeal, eu permito — retrucou o General.

No mesmo instante, seguiram para o Palácio São Joaquim e solicitaram audiência com D. Eugênio Sales. Expuseram-lhe o assunto e dele ouviram:

— Proibir, eu não proíbo. Mas autorizar é tão grave quanto proibir.

E continuou o Cardeal, atenuando após a insistência dos redatores:

— Se o Bispo Auxiliar autorizar... Tentem convencê-lo.

Ziraldo, que conhecia o Bispo Auxiliar, D. José Alberto de Castro Pinto, conseguiu a autorização. O número foi liberado pela Censura.

CENSURA COM O GENERAL JUAREZ, OS PAULISTAS

O pai da garota de Ipanema era o nosso censor, ele era bonito, parecia o Steve McQueen, Ele nos chamava de "Meus meninos", e era censor pra agradar um general, amigo dele que pediu pra ele cuidar da censura do Pasquim.

Quando eu fiz aquele "Todo paulista que não gosta de mulher é bicha", ele deixou passar. Depois deu o maior problema, encheram o saco dele, ele me chamou assim:

– Ziraldo, a outra vez que tu criar um problema nessa merda, eu vou matar você.

– Mas o senhor liberou.

- Mas é claro, todo paulista é bicha!

CENSURA DEPOIS DO GENERAL JUAREZ

Tinha umas moças que eram censoras, faziam academia de polícia, A gente levava o material para elas no DOPS, no centro da cidade. Ficávamos lá conversando, batendo um papo, eram umas moças bonitonas e tal.

Eu disse assim: – Que empreguinho de merda que você foi arrumar, hein, Você é uma moça tão bonita, por que você não vai trabalhar como professora? Vocês não estão construindo nada, a gente faz uma obra e vocês destroem o que a gente faz.

– Ziraldo, não faz isso comigo! (chorando)

Aí eu fui pra Europa e mandei um cartão postal pro DOPS lá pra elas, com a estátua do Davi, do Michelangelo, de costas. E escrevi no cartão que não estava mandando o Davi de frente, porque elas cortariam o piru dele. Depois, quando fui levar material para censurar, elas tinham sido demovidas da função, porque estavam dando confiança para os censurados. Aí não tivemos mais nenhum contato com o censor, e logo depois passaram pra Brasília.

CENSURA EM BRASÍLIA E A RADIOATIVIDADE

A gente mandava 20 números de Pasquim pra eles devolverem um, que podia sair. A gente mandava muito "boi de piranha", né, a gente mandava pra eles cortarem.
Uma vez o censor cortou o contador Geiger:

E eu perguntei: – aí meu amigo, por que você cortou o contador Geiger, o cara na matéria tá procurando radioatividade.

E ele falou: – Ziraldo, você pensa que eu sou besta? Não entendi bem, mas que tem uma gozação aí, tem, que eu não sou besta! Isso é gozação com o general Geiser!

NA PRISÃO

‘RIO, mas é de chorar.’

– Vocês foram presos todos juntos na redação?

– Não. Cada um de nós foi apanhado em casa e levado com capuz na cabeça.

– Disseram que o fato de Jaguar ter colocado um balãozinho em D. Pedro com a frase: ‘Eu quero é mocotó’, na cópia do quadro de Pedro Américo sobre a proclamação da Independência, tinha sido a causa da prisão.

– Nada disso. Não havia uma causa determinada. Primeiro eles nos prenderam, depois foram pesquisar o jornal para encontrar uma justificativa para cada prisão. Para mim, encontraram o fato de eu ter tentado abrir os olhos do maestro Erlon Chaves (lembra dele no programa do Flávio Cavalcanti?) que acabara de ser preso por atentado ao pudor à saída de um show no Maracanãzinho.

– O que que ele tinha feito no show?

– Ele colocara algumas louras que desfilavam dançando de forma muito delicada.

– Nenhuma delas segurava o tchan?

– Que isso! Elas vinham suavemente dançando e quando passavam por ele, lhe davam um beijo na boca. No final do espetáculo, aquela coisa: capuz na cabeça e sequestro sem papo. Fiquei imaginando o Erlon, coitado, direita até a medula, apavorado por ser, logo ele, vítima de uma violência como aquela. Então fiz uma nota no PASQUIM onde dizia (mais ou menos) o seguinte: ‘Se você fosse branco, Erlon, você poderia beijar aquelas moças. Vê se deixa de ser babaca, puxa-saco dos milicos e percebe o problema, cara.’ Me acusaram de ter estimulado o racismo. Dois meses de prisão.
– Mas, ao contrário, você o estava denunciando.

– E dai? Não conhece a fábula do lobo e do cordeiro?

– Conheço. Aliás, uma das capas do PASQUIM, quando vocês estavam presos, foi feita justamente com esses personagens, o lobo bebendo água no lado mais alto do rio e o cordeiro, lá em baixo, ‘sujando’ a água que o lobo bebia.

– Exatamente. Mais grave ainda do que essa acusação maluca foi o que fizeram ao Ivan Lessa: ‘atentado à moral pública’, porque ele tinha feito uma história em quadrinhos...

– Um ‘Pasquim-Novela’?

– É. Tinha posto no cenário, ao fundo, um bar cujo nome era Porradas.

– Isso tudo ficou sem ser revelado ao público por quase 20 anos...

– Não se podia falar nada, nem da censura prévia ao jornal o público podia saber. Um mês depois da gente estar preso, um capitão do sul de Minas encontrou a frase que o Jaguar colocara no quadro do Pedro Américo. Chegou para ele: ‘Fui eu que te enquadrei, por aquela frase no quadro.’ Jaguar então virou-se para a turma toda e disse: ‘Ei, pessoal, sabe por que fui preso? Porque eu quero é mocotó.’ Aí, o Flávio Rangel, que estava ao lado do Jaguar, virou-se para o capitão e falou: ‘Como é teu nome, capitão?’, e ele, pra que você quer saber?’, e o Flávio: ‘Por que assim ao menos eu fico sabendo. A História não registra o nome dos algozes. Diz aí quem foi o algoz de Danton, de Ivan Ilich. Não sabe, não é, ninguém sabe. O teu também ninguém vai saber.’ E o capitão; ‘Para com isso Flávio.’ Ué, não tenho culpa de você estar do lado errado.’ Vá tomar no c*...’ ‘Vá você, ora...”

PRISÃO – VIOLÃO E METRALHADORA

E a noite botavam a gente pra tomar banho de lua, sentávamos lá fora, e ficamos conversando, com os caras em pé com metralhadoras, nos vigiando.

Um capitão, oficial do dia, veio bater papo com a gente e disse: – Ziraldo, a noite tá bonita, boa pra gente escutar um violão, né?

Ai eu: – Ah é até que pegava bem e tal.

– Você toca, Ziraldo?

– Eu, não!

– Você toca, né, Sérgio?

O Sérgio: – Eu não.

– Mas, Sérgio, você é o Sérgio Cabral e não toca violão!?

O capitão disse: – Mas tem um menino que toca violão sempre. Traz um violão e chama o Zezinho, lá! Manda ele vir.

Ai chegou o menino segurando uma metralhadora,

Quem segura a minha metralhadora pra mim? Ai o Sérgio Cabral falou: – Me dá! E ele deu a metralhadora pro Sérgio Cabral!

Ai o capitão disse assim: – PARA, para! Ai já é esculhambação demais!

PRISÃO - O PARENTE DO FORTUNA

No dia em que a gente foi preso, eu tive uma crise de choro: – é um pais de merda, num sei o que, buáaa! E o Sérgio Cabral também, a gente ficou chorando. Dali a pouco, chega um guarda, abre a cela e pergunta: – Quem é Reginaldo Fortuna? Todo mundo Ahhh... – Acompanhe-me! Ai nós olhando ele indo pro cadafalso, de noite, no fundo de um posto de gasolina, no batalhão de armamento (Batalhão de Conservação de Armamento - BCM). Ele foi saindo assim, olhou pra trás, eu lembro dele olhando pra trás, saiu assim o Fortuna no corredor até sumir na noite, pahahahah, fechou a cela, trancou. Lá foi o Fortuna embora.

Nós ficamos naquela preocupação, entendeu, aí, dali a pouco volta o Fortuna, trágico assim (semblante). Ai PLAH! Jogam o Fortuna no cela Clack! , fecham a cela, o guarda vai embora, o Fortuna olha e cai na gargalhada. – Porra, o que que é o Fortuna? Fortuna: – O coronel conhece a minha família, disse que eu sou um péssimo marido e que a pobre da minha mulher foi casar com um comunista. O coronel deu um esporro nele: – Você é um péssimo marido! Fortuna: – Tô preso porque sou um péssimo marido! (rindo muito).

O coronel era parente da família, ele sabia de todas as fofocas e tal.

PRISÃO - ALARMES FALSOS E TORTURA PSICOLÓGICA

Teve um dia que eles chegaram e falaram: – Vocês vão embora pra casa.

A gente deu tudo para os meninos que estavam presos com a gente, camisa, calça, cueca, remédios, tudo que a gente tinha recebido de casa. A gente ainda não tinha recebido a visita da família, mas tínhamos recebido um monte de coisa. O Canela, mandou remédios, principalmente Hetero Viofórmio e analgésicos, e o Sérgio Bitencourt (filho do Jacó do Bandolim), que a gente vivia esculhambando porque ele trabalhava no programa do Flávio Cavalcanti, mandaram um monte de coisas e um ventilador. Eles tinham acesso aos militares e foram nos visitar e levaram as coisas.

Cada um entrou num carro e ficamos rodando, rodando, e aí chegamos num outro quartel, sem roupa sem remédio e fomos presos de novo. Eu sei que quando me deixaram na vila, eu nunca tinha ido tão longe. Rodamos horas e os caras não deixavam eu ficar olhando do carro. Eu achava que iriam me jogar no mar. Aí quando eu cheguei e abriram o lugar onde eu iria ficar, até hoje eu quero desenhar esta cena, parecia um desenho impressionista alemão, era uma sala com um pé direito altíssimo, cheio de janelas dos lados e todas fazendo aqueles raios de sol, como se tivesse esfumaçado o ambiente, e aqueles raios de sol como a gente vê na floresta, e uma porção de camas com os pés altos, parecia a enfermaria de um hospital, mas vazia, e da bruma vinha um sujeito com um cuecão enorme, vinha andando em minha direção e disse: –Ti pegaram também? Era o Paulo Francis de cueca!

PRISÃO – 76 CARTAS DO ZIRALDO

Na nossa cela éramos eu, Sérgio Cabral, Maciel e Flávio Rangel. Com aquela confusão de sequestro no dia que fiquei com a chave, era um troca pra cá e pra lá e eu acabei ficando sozinho. Quando chega às 4 da manhã chega um soldado e diz: – Você vai embora pra Argélia. Eu disse: – Você está maluco!

– Você foi pedido em troca pelos sequestradores do embaixador suíço.

Me tiraram da cela e eu fui fazer exame de corpo de delito. Tiraram uma série de fotografias minha pelado pra provar que não estava machucado. Voltamos pra cela e eu pedi:

– Por favor me arruma papel e caneta, que eu vou escrever carta.

Escrevi 76 cartas me despedindo das pessoas! Tem carta até para o Miguel Paiva. As cartas ficaram depois com a Wilma, ela tem tudo isto guardado lá em casa.

Arrumei todas minhas coisas, estava lá esperando, quando chega um soldado e diz: – É alarme falso, você não vai mais pra Argélia.

– Não, agora eu quero ir, porra! Já fiz tudo...

PRISÃO – 90 DIAS POR IGNORAR O MANDANTE

Nós ficamos presos 90 dias, porque ninguém sabia quem tinha mandado prender a gente. Então o cara que podia soltar dizia: – eu não vou soltar, porque eu posso talvez magoar o coronelzinho fulano de tal. E era uma revolução sem dono, o cara não podia soltar a gente porque não sabia, porque ele podia magoar o outro!

Um dia falaram, vocês querem saber de uma coisa: podem ir embora.

Aí, já tinha passado o natal, aí mandaram todo mundo em prisão domiciliar e depois esqueceram, nunca mais foram encher o saco da gente, a gente ligava: Quando é que acaba, quando é que acaba?

– Ah, depois.

Eu fiquei preso em casa. Ai um dia eu fui lá no quartel para ver se davam um visto no meu título de eleitor. Fui falar lá com o comandante.

E eu: – Comandante.

E o comandante: – Ziraldo, você por aqui!

Ziraldo: – Claro, comandante! Matar a saudades, claro! (com jeito irônico)

Ziraldo: – E também eu vim pro senhor dar visto no meu título de eleitor, porque eu não votei, eu estava preso aqui.

E o comandante: – Mas você nunca esteve preso aqui.

Eu: – Mas senhor?

Ele disse: – Oh Ziraldo, você esteve preso aqui?

Eu falei: – É mesmo!

Ele: – Como que pode isso! Você teve preso aqui?

Eu: – É mesmo, claro que não! (muitas risadas da loucura que era)

Ele: – Vamos conversar um pouquinho...

Mas tem cada coisa, cada história, surreal!

CAMPANHA PELA ANISTIA - RETORNO DOS EXILADOS

Outra coisa sensacional do Pasquim foi a Festa dos Retornados. Nós fomos no aeroporto buscar Gregório Bezerra, Fernando Gabeira e todos. Tem essa coisa emocionante do Gregório Bezerra, uma das maiores figuras da ideologia brasileira deste século, um homem bravo, um comunista visceral... Ele foi pra Europa, depois de ser muito torturado, de ser arrastado por um jeep lá em Recife, ele foi resgatado pelo rapto dos embaixadores, quando retornou para o Brasil um cara perguntou:

– Gregório, o que você quer fazer? Quer ir para o alto do Corcovado pra ver o Rio, quer ir para o Pão de Açúcar, quer jantar numa churrascaria?

Ele falou:

– Não, eu quero ir para a redação do Pasquim!

Isto é uma das coisas mais gratificantes de nossa vida lá no jornal.

O Pasquim foi o grande jornal dos exilados. Muitas famílias assinavam o jornal para enviar para os exilados.

O Luís Carlos Prestes, que era um inocente, achava que o Pasquim era uma célula do Partido. Ele usava as charges e meus desenhos do Pasquim para fazer as capas da revista do Partido Comunista em Paris.

ZIRALDO X JAGUAR

Quando o Brizola voltou, o Pasquim estava em crise, o contador e diretor comercial um dia disse: – O Pasquim tá em perigo, estamos cheios de dívidas, e vai quebrar.

O Jaguar tomou conta do jornal um tempo, o Millôr tomou conta também um tempo e saiu do Pasquim. Aí ficou só eu e Jaguar.

E o Pasquim afundando.

Nós tínhamos uma editora, que teve uma semana em que dos dez livros mais vendidos da semana, oito eram da Codecri. Oito, oito títulos!

A turma era toda anarquista, o único que procurava analisar a situação política era eu, o Jaguar não queria saber, o Millôr era anarquista absoluto, completo, o Francis... Quer dizer, a gente era contra, mas sem vínculo com movimento político, aí quando veio a abertura, eu percebi que o negócio era entregar o Brasil pro Montoro, pro Tancredo, e pro Rio de Janeiro, o Miro Teixeira, que provou-se depois que era um dos melhores deputados que a câmara teve. O melhor deputado brasileiro era o Miro, mas naquela época ele era cria do Chagas Freitas, que era um cara fisiológico.

Mas de qualquer maneira, quem tinha preparado o Brasil pra poder receber a democracia de volta, era esse triângulo em São Paulo o Montoro, o Tancredo de Minas, o Ulisses que era aquela grande figura e o Miro no Rio. Aí o Jaguar se apaixonou pelo Brizola, desesperadamente... Sem perceber que o Brizola fez toda uma jogada com o Golbery, ele não chegou no Rio, ele entrou pela fronteira, tudo que o Golbery determinou ele fez, que o Brizola tinha a estratégia dele, e eu percebi isso, e eu não quero o Brizola como governador do Rio, eu quero que o Montoro ganhe em São Paulo, o Tancredo em Minas, e o Miro no Rio. O Montoro ganhou em São Paulo, o Tancredo ganhou em Minas, e o Miro perdeu pro Brizola, o que foi a grande desgraça do Rio de Janeiro, primeiro a transferência pra Brasília, e segundo, o Brizolismo. Duas vezes. Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas caiu duas vezes! Aquela má compreensão da política de Direitos Humanos e... Nossa Senhora... Os pactos que ele fez... Ele era muito simpático, mas ele não era nem carioca! O Miro conhecia cada cantinho do Rio de Janeiro, era um cariocaço! E o Brizola era aquela coisa, aquele sonho, aquela coisa fantástica. Eu não tenho raiva do Brizola, até acho ele uma pessoa encantadora, mas não interessava. Aí como o Pasquim estava na crise, eu falei pro Jaguar: – Jaguar, se o Miro ganhar, eu fico no Pasquim e você some, porque aí eu vou conversar com o Miro, e o Miro vai dar condições da gente pagar as dívidas do jornal e tudo mais, Aí eu salvo o jornal, assim a gente dá uma continuidade da vitória da democracia. E se você ganhar, você se resolve com o Brizola.

Aí eu apostei que o Miro ganharia, apostamos que eu comeria o Pasquim se o Miro perdesse. E o Miro perdeu, e eu tive que comer o Pasquim lá na churrascaria, o Jaguar fez um Pasquim de bolo e eu comi o Pasquim...

Mas o Brizola é aquela coisa, deixou o Jaguar na mão mesmo, aí eu fui embora pra casa cuidar da minha vida.


(coletânea de depoimentos feitos com Ziraldo nos veículos Gargalhantes Pelejas, TV Cultura, A Revolução do Humor, Humor com Gosto, Correio Braziliense, Cult, GMS, Sábados da Memória das Artes Gráficas)

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