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O Pasquim

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Reinaldo Figueiredo

Meus tempos de Pasquim

Quando me perguntam como fui parar no Pasquim, eu digo que foi a pé. Eu morava perto da redação, que era na ladeira Saint Roman, em Copacabana, e meus irmãos me incentivaram a ir lá mostrar os meus desenhos. Isso foi em 1974. Tive muita sorte porque, na hora em que cheguei, fui recebido pelo Jaguar e pelo Ziraldo e eles, aparentemente, gostaram muito dos meus rabiscos. Ziraldo, num desses arroubos tipicamente ziraldianos, saiu gritando pela redação do jornal: "Olha só, o cara já veio pronto!". Eu era muito tímido, fiquei sem jeito e quase me escondi embaixo de uma mesa... Na semana seguinte, eles publicaram uma página inteira com meus desenhos. A partir daí passei a colaborar e, pouco tempo depois, a trabalhar no Pasquim. Virei cartunista e ilustrador.

Via aquela turma toda em ação: Jaguar, Ziraldo, Millôr, Henfil, Fortuna...Não me esqueço do dia em que fiquei observando o Fortuna retocando um de seus desenhos incríveis. Ele cortava, refazia uma parte do desenho, colava um pedaço de papel em cima do outro e usava muita tinta branca para cobrir as imperfeições. Era um método complexo, cheio de truques e sempre dava certo: o desenho impresso em preto e branco ficava uma maravilha. Eu, que tinha deixado a escola de música sem me formar, estava agora aprendendo tudo sobre jornalismo e humor, na prática. Aprendi a desenhar, escrever, diagramar, editar, essa coisa toda. É um velho clichê, mas é verdade: o Pasquim foi a minha escola.

Na época em que Ivan Lessa era o editor, eu o via chegar de manhã e passar o dia todo fazendo milhões de coisas: seção de cartas respondidas pelo seu alter ego, o Edélsio Tavares, as fotonovelas, a página do Gip Gip Nheco Nheco, textos longos, textos curtos, dicas e o que pintasse... Uma vez o Ivan me perguntou se eu queria ser parceiro dele numa tira de quadrinhos. Eu ainda não me sentia muito seguro e acabei amarelando. Não topei a parada e me arrependo até hoje. Muitos anos depois, citei esse episódio numa história em quadrinhos publicada na revista Piauí: “Memórias Póstumas de Ivan Lessa” (ver abaixo).

No fim do meu período no Pasquim, no começo dos anos 1980, Jaguar me escalou para ser uma espécie de editor de humor. Nessa fase, Ricky Goodwin e Haroldo Zager também eram editores. Jaguar me dava carta branca para convocar os colaboradores e produzir páginas e mais páginas de humor toda semana. Foi nessa época que Hubert, Cláudio Paiva e eu começamos a experimentar, na redação do Pasquim, vários trabalhos em conjunto, o que acabou motivando a criação do tabloide mensal O Planeta Diário. Aí, em 1984, nós finalmente conseguimos realizar o sonho do jornal próprio.


Memórias Póstumas de Ivan Lessa

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