BNDigital

O Pasquim

< Voltar para Dossiês

RICARDO LEITE

HISTÓRIA QUATRO

CENSURA: GENERAL JUAREZ


POR RICARDO LEITE

O Pasquim era um jornal tipicamente carioca, de Ipanema, e por coincidência (ou não?) lhe designaram um censor tipicamente carioca, de Ipanema. Um general boa-pinta e bon-vivant, marcando ponto na praia, marcando pontos com as mulheres, curtindo a vida boa. Para ele, censurar O Pasquim era a maior diversão. Dava gargalhadas com as piadas, enquanto ia metendo a caneta. Mas com ele pelo menos era possível um diálogo, argumentar a favor de certas coisas, porque a censura, por via das dúvidas, tosava muita coisa inocente e sem conotação política.

Esta história em quadrinhos menciona que o pessoal d’O Pasquim levava a pilha de material para o general ver em sua garçonnière. Para os leitores mais novos, explicamos que este era o nome dado aos pequenos apartamentos que os homens alugavam para receber suas amantes ou ficantes. Nessa época, não se usava motel, ou seja, o guardião da moral e dos bons costumes exercia a censura em um local de fuque-fuque.

É importante explicar também por que a entrevista citada ao final da história deu tanta celeuma. Foi a primeira vez, depois da censura prévia, em que alguém afirmou publicamente que existia racismo no Brasil.
A palavra “racismo” era proibida (sim, havia uma lista de palavras proibidas).









Ricardo Leite é um apaixonado por quadrinhos desde criança. Desenhista precoce, aos 13 anos já trabalhava na Ebal, a maior editora brasileira de quadrinhos da época. Nos anos 1970, publicou quadrinhos de terror na Vecchi e, nos anos 1980, participou de várias revistas independentes, inclusive a francesa BDClichy.

É um dos maiores colecionadores brasileiros de revistas de HQ e livros sobre quadrinhos, além de ter um respeitável acervo de artes originais dos grandes desenhistas nacionais e internacionais. Tornou-se designer e, ao longo de quarenta anos de carreira, assinou centenas de capas de discos e livros. É autor do livro Ziraldo em cartaz (para o qual fez também o projeto gráfico) e trabalhou com o pessoal d’O Pasquim como diretor de arte da revista Bundas.

Atualmente, o carioca Ricardo Leite é professor e sócio-diretor da Crama, que realiza projetos para clientes como Oi, Vale, GloboNews, Bienal do Livro, entre outros, com destaque para a criação da marca Rio 450 Anos.

Parceiros