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O Pasquim

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GILMAR

HISTÓRIA OITO

PRISÃO, VIOLÃO E METRALHADORA


POR GILMAR

Muitas foram as cenas insólitas naqueles dias de prisão, coisas que – como dizem – só acontecem no Brasil, ou melhor, só aconteciam com o pessoal d’O Pasquim! O próprio convívio entre os presos rendeu muitas histórias, pois, embora trabalhassem juntos, eram pessoas bastante diferentes, haja vista as encarnações constantes no Paulo Francis, todo certinho e asseado, e sempre enfiado em algum livro de leitura complicada. Bem, até Jaguar entrou na onda da leitura, achando ótima a prisão, pois finalmente teria tempo para encarar o catatau Ulysses, o romance de James Joyce.

Como eram pessoas famosas, com fama de piadistas – e realmente eram bons de papo –, enturmaram-se logo com os carcereiros. Jaguar, por exemplo, armou um esquema com um soldado que lhe trazia escondido garrafas de cachaça. Ele bebia e, para despistar, jogava os cascos pela janela em um terreno atrás do quartel. De vez em quando, aparecia um oficial na cela para conferir como estavam. Jaguar tinha que falar com ele pondo a mão sobre a boca, para disfarçar o bafo de cachaça. Explicava dizendo que estava com dor de dente. Os oficiais estranhavam que a dor de dente nunca passava e viviam dando remédio para ele.

Quando foram soltos, Jaguar se lembra de que chegou a ver a “montanha” de garrafas empilhadas do lado de fora da janela da cela... Mas a cena mais surreal foi esta que Gilmar desenha aqui do lado.









Gilmar Machado é baiano, mas mora em São Paulo há 38 anos, mais especificamente em Santo André. Começou sua carreira na imprensa sindical do ABC e, a partir de 2000, com os prêmios em salões de humor, passou a publicar na grande imprensa como chargista, caricaturista e ilustrador.

Foi colaborador da revista Bundas e do Pasquim 21, trabalhou vários anos na Folha de S.Paulo e, depois, passou para o Diário do Grande ABC. Ilustrou diversos livros didáticos, publicou dez livros de quadrinhos – cinco dos quais adotados pelo governo federal – e coordenou o coletivo de tiras em quadrinhos “Tiras de Letra”. Sua tira diária “Ossos do Ofício” foi publicada em Portugal e em diversos jornais brasileiros. Premiado nos salões de Piracicaba, Carioca, Foz do Iguaçu, Ribeirão Preto, Volta Redonda e na Noruega, recebeu um troféu HQMIX. Recebeu também o Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos.

Atualmente, cria obras também como artista plástico e dirige o estúdio Boitatá, em parceria com o caricaturista Fernandes.

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