BNDigital

Periódicos & Literatura

< Voltar para Dossiês

Gilka da Costa de Melo Machado

por Maria do Sameiro Fangueiro
Gilka Machado nasceu no Rio de Janeiro, em 12 de março de 1893, e morreu nesta mesma cidade, em 1980. Foi romancista e poeta. Era filha de Hortêncio da Gama Souza Melo, ede Thereza Christina Moniz da Costa, atriz de rádio e teatro. Seu avô materno Francisco Moniz Barreto (1804-1868) destacou-se como militar, lutando na Guerra da Cisplatina ocorrida entre 1825-1828. Foi poeta repentista, sendo conhecido popularmente como o “Bocage brasileiro”, homenageado como patrono da cadeira de n. 13, da Academia de Letras da Bahia.

Ela começou a escrever ainda muito jovem, tendo recebido seu primeiro prêmio literário aos 13 anos, em um concurso realizado pelo jornal A Imprensa. Na ocasião, conquistou os três primeiros prêmios com os mesmos poemas, pois ela os assinou com o próprio nome e também com pseudônimos.

Casou-se em 1910,com Rodolpho Machado, também literato, colaborador em diversos jornais e revistas. Seu marido faleceu em 1923, deixando inédita sua produção, organizada e publicada por Gilka, com o título Divino inferno, no ano seguinte. Gilka e Rodolpho tiveram dois filhos Hélio, que morreu precocemente, e Eros, que se consagrou como bailarina com o nome de Eros Volusia.

Gilka publicou seu primeiro livro,Cristais partidos, em 1915. Seu segundo livro foi publicado em 1917, com o título, Estados d’Alma. Lançou em 1922, Mulher nua e, em 28, publicou Meu glorioso pecado. Em 1931, aparece Carne e alma e, em 38, Sublimação. Seu novo livro Meu rosto, apareceria nove anos depois, em 1947. Sua obra seria reunida na antologia Velha poesia, em 1968.Uma nova antologia surgiria em 1978, com o nome de Poesias completas, recebendo uma segunda edição em 1991.

Sob o impacto da perda do filho, escreveu o poema Meu menino, em 1976.

A sua aclamação como a maior poetisa brasileira ocorreria em 1931, através de um concurso promovido pela revista O Malho. Com ela, concorreram a este prêmio cerca de 200 intelectuais. Em 1932, alguns poemas de Gilka foram traduzidos para o espanhol, pelo boliviano Gregório Reynoldes (1882-1948), sendo publicados com o título Sonetos y poemas.

Vanguardista, Gilka foi pioneira da poesia erótica feminina, seus versos demonstram sensibilidade e ousadia no desvendar de paixões e desejos, o que a torna admirada, principalmente por mulheres, que viam sua poesia como“porta-voz na representação de experiências da intimidade”, numa época em que estes sentimentos não eram expostos. Por outro lado, sofre forte censura pela crítica conservadora. Apesar das críticas, ela foi agraciada com o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras em 1979, pela publicação Poesias completas.

A sensualidade e a ousadia de seus poemas deixaram para a posteridade a força reivindicadora de sua poesia. A revista América Latina traz em suas páginas um dos muitos exemplos escritos por ela.



Reflexões (VI)

Ó meu santo pecado, ó pecadora
Virtude minha, ó minha hesitação!
bemdifferente esta existencia fora
êrmo de ti tão fragil coração!...

Si ora és sensualidade cantadora,
instincto vivo, alegre volição;
logo és consciencia calma, pensadora,
silenciosa tortura da razão.

Comtudo, eu te bemdigo, eu te bemdigo,
ó dúbio sentimento, que commigo
vives, minha agonia e meu prazer!

quanto laurel minha existência junca,
pelo que não deixaste de ser de ser nunca,
pelo que nunca conseguiste ser!...

Em: America Latina: revista de arte e pensamento, anno,n.1,ago.1919.

Parceiros